Com terças e sextas comprometidas com saídas de casa semanais, 2012 acabou, por outro lado, sendo um ano bem indoor, em que além de organizar as coisas em casa, consegui dar cabo em várias pendências televisivas que não consegui acompanhar em tempo real. Matei séries inteiras que acabaram faz tempo (My Name is Earl, Arrested Development, Freaks & Geeks, o longo débito com The Wire) e consegui acompanhar hits atuais para acompanhar em tempo real (Sherlock, Parks & Recreation, Homeland, Modern Family, Mad Men, Louie, Ancient Aliens, Breaking Bad, Dexter, Newsroom) – que passaram a acompanhar a única série atual que sigo desde o início, Fringe. Com esse intensivão, comecei a encarar as séries como encaro sagas em quadrinhos – e em vez de acompanhá-las semanalmente, prefiro digeri-las às temporadas (no caso dos quadrinhos, aos volumes dos TPBs). Já havia feito isso em anos passados, assistindo Sopranos, A Sete Palmos e Battlestar Galactica às tijoladas enquanto criava um ranking interior, mas 2012 me ensinou que esteve talvez seja o melhor jeito de consumir estes seriados, que devem estar entre as principais obras de arte pop da atualidade (mesmo que eu não tenha nem conseguido começar a acompanhar coisas como Games of Thrones ou Walking Dead). O que também dá uma sensação ímpar ao final de qualquer série – o ar de dever cumprido e o astral de ser uma pessoa melhor, como Earl ao final de cada episódio em que riscava um item de sua lista.
Sim, o melhor seriado atual (em julho de 2011, perceba que estamos no hiato entre as duas temporadas de Fringe) é um programa do History Channel. E Ancient Aliens é só aquilo que aparenta ser: um monte de pseudocientistas, a maioria filhote do Erich von Däniken (autor de Eram os Deuses Astronautas?, também onipresente no documentário), questionando verdades históricas para mexer em velhas perguntas, que linkam Stonehenge aos maias, máquinas voadoras indianas e os tapetes voadores do Oriente Médio, alienígenas, Ilha da Páscoa, Antártida, Atlântida, siderúrgicas portáteis na Bolívia, pirâmides espalhadas pelo mundo, anjos, OVNIs e esse monte de mistério que sempre atiça a curiosidade.
O bom é que a série (cujos episódios têm uma hora e meia) funciona como se tivesse sendo produzida por Fox Mulder – e por mais que costure diferentes aspectos, épocas, ciências e culturas, quase sempre volta para o raciocínio central: de que a civilização moderna é só mais uma das civilizações humanas altamente avançadas tecnologicamente que já habitaram esse planeta e de que sempre contamos como uma mãozinha dos nossos amigos extraterrestres pra chegarmos lá.
Independentemente de ser crível ou não, o ruim desse tipo de teoria é que ele sempre menospreza a capacidade humana, que é sempre vista como júnior demais para conceber projetos arquitetônicos e mecanismos tecnológicos complexos demais em outro momento da história que não fosse depois da revolução industrial.
Mas, por outro lado, eu sempre curto aquela piração do Timothy Leary, que ele diz que todo tipo de aparição que vemos e não conseguimos compreender (espíritos, ETs, assombrações, santos, aliens, anjos, fantasmas) são, na verdade, manifestações de nós mesmos, no futuro, querendo entrar em contato com nós mesmos, no passado. Assim, toda a tecnologia humana teria sido avançada graças ao envolvimento dos próprio humanos do futuro na rotina de seu passado – um clichê em loop, uma fita de Möbius narrativa clássica da ficção científica.