Ana Passarinho preparando o vôo

, por Alexandre Matias

Conheci Ana Passarinho quando fiz a primeira edição do Trabalho Sujo Apresenta na Unibes Cultural, em abril de 2019, no espetáculo Tempo Feliz. Convidei o trio reunido pelo vibrafonista Victor Vieira-Branco, com o baixista Fabio Sá e o baterista Sérgio Machado, e propusemos uma homenagem ao disco que Elizeth Cardoso gravou com o Zimbo Trio em 1968, e Ana foi uma das cantoras convidadas, ao lado de Ava Rocha e Negro Leo. Comecei a conversar com ela desde então e pude acompanhar sua transição da MPB tradicional rumo à eletrônica, ciclo completo nesta sexta, quando ela lança seu primeiro single, a deliciosa e hipnótica “Eclipse Total”, nas plataformas digitais, que ela antecipa em primeira mão aqui no Trabalho Sujo.

Assista aqui:

“Comecei a compor com o violão; nessa fase passei a escutar muita MPB, samba e bossa”, ela me conta por email. “Essas foram as principais referências que segui na linha da composição. Mas sempre flertei com músicas dançantes, afinal sou dos anos 90, né… Cresci assistindo e reproduzindo imitações dos clipes que passavam na MTV e curtia tudo que uma adolescente dos anos 2000 curtia. Era inevitável a presença do pop na minha vida. Também sempre flertei com batidas dos anos 80 e com o rap.”

“As primeiras experimentações de música eletrônica foram versões de ‘Comida’, dos Titãs, ‘Vapor Barato’, do Jards Macalé e do Waly Salomão, e ‘Samba em Prelúdio’, do Vinicius de Moraes e do Baden Powell, que produzi no GarageBand. Mesclei tudo. Comecei a pegar gosto em produzir no iPad, foi uma descoberta massa. Fui me reinventando desde lá, mas não me levava muito a sério. Em 2017, conheci melhor o trabalho de Flora Matos através de uma amiga, e quando descobri que ela produzia e fiquei encantada, rolou aquela identificação por ser mulher e atuar nisso, pois até então só conhecia a Alicia Keys como produtora do próprio som. Segui brincando com as produções.”

“Em 2019 comecei a escutar as músicas da Billie Eilish e, de alguma forma, me encontrei naquilo”, ela continua. “Resolvi transformar a minha brincadeira em trabalho, e deu no que deu. ‘Eclipse Total’ surgiu, e depois dela vieram outras composições usando o GarageBand. Comecei a mostrar para pessoas próximas, eu precisava de aprovação, não sabia se estava viajando ou não. Elas gostaram. Ousei mais ainda e passei a mandar tudo o que fazia para o meu amigo produtor e compositor Gustavo Ruiz, e foi ele quem me encorajou a continuar produzindo. Voilà! Quando vi, tinha praticamente um álbum pronto.”

“Na metade de 2020, em meio à pandemia, mandei as músicas para a Yma, que tanto admiro, e ela quem fez a ponte para o restante do selo Matraca Records que, para a minha alegria e espanto, abraçaram a ideia de me lançar nesse formato.” Por enquanto ela estuda como apresentar seu trabalho ao vivo ao mesmo tempo em que planeja o lançamento do álbum para o ano que vem. Coisa fina…

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