
Nos dias 11 e 12 de dezembro, o Auditório Simon Bolívar, no Memorial da América Latina, em São Paulo, recebe dois encontros memoráveis. O projeto Noites no Memorial recebe, na sexta-feira, dia 11, o paraibano Chico César acompanhado da orquestra de percussão baiana Aguidavi do Jêje, que acaba de passar por São Paulo dentro da programação do Sesc Jazz. No dia seguinte, num sábado, é a vez de dois cariocas recém apresentados – Ana Frango Elétrico e Marcos Valle – encontrarem-se pela primeira vez no palco. Os dois shows terão abertura do cantor e compositor Joaquim. Os ingressos já estão à venda.

Fui ao penúltimo show que Ana Frango Elétrico fez de seu Me Chama de Gato Que Eu Sou Sua em São Paulo, sexta passada, quando ela reuniu mais de duas mil pessoas da Áudio, atingindo o maior público ao vivo de sua carreira, e escrevi sobre a deliciosa noite em mais uma frila pro Toca UOL.

Finalmente Vovô Bebê trouxe seu ótimo Bad English, disco com músicas em inglês que compôs durante a pandemia e que lançou no semestre passado, para uma apresentação ao vivo, que aconteceu dentro da bissexta mas resistente programação do Prata da Casa do Sesc Pompeia. Veio acompanhado de uma banda de ouro, reunindo velhos e novos camaradas, cada um com suas próprias carreiras em segundo plano para celebrar o trabaho do compadre: Gabriel Ventura na guitarra, Carol Mathias nos teclados, Guilherme Lírio no baixo e Uirá Bueno na bateria. E para não perder a oportunidade – afinal shows dele em São Paulo são menos frequentes do que gostaríamos – ele não só passou por boa parte do repertório do disco novo como visitou músicas de seus outros discos. E no meio de “Briga de Família”, música que batiza seu disco de 2020, recebeu a participação não anunciada de Ana Frango Elétrico, que subiu no palco quando a música se metamorfoseou num improvável mashup com a pedrada “Cross the Tracks (We Better Go Back)”, de Maceo & The Macks. Ana seguiu no palco por mais duas canções, quando primeiro dividiu os vocais de sua “Coisa Maluca” como Vovô, que é coautor da canção, para depois descambar na espetacular “Insista em Mim”, uma das melhores músicas brasileiras dessa década. Showzaço, cheio de gente artistas na plateia, todos esperando há um tempão por esse show.
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Às vésperas de despedir-se de seu terceiro disco em uma série de shows pelo Brasil, Ana Frango Elétrico lança o segundo single posterior ao lançamento do disco, que acaba funcionando como complemento ao álbum de 2023. Depois da deliciosa “A Sua Diversão” é a vez de ela registrar numa mesma música, as duas versões alheias que toca no show para além do repertório do álbum, quando visita a parceria de Eumir Deodato e João Donato via Marcos Valle, que convidou para participar de sua gravação para “Nâo Tem Nada Não”, que ela emenda com o hit grudento “Gipsy Woman” da hipnotizante Crystal Waters. Coisa fina, saca só:

Ana Frango Elétrico começa a despedir-se de seu Me Chama de Gato Que Eu Sou Sua e além de uma série de shows marcada para o início do semestre, ele resolveu marcar essa fase final do seu terceiro álbum lançando dois singles – a versão de ‘Não Tem Nada Não” que ela tem tocado nos shows (agora com a presença do próprio autor, Marcos Valle) e uma música inédita, a deliciosa “A Sua Diversão”, que ela lançou de súbito no fim desta semana. Sente o drama abaixo:

Meu camarada Carlos Albuquerque, o bom e velho Calbuque, está na equipe da recém-lançada edição brasileira da clássica revista norte-americana Esquire, que chega impressa ao Brasil em edições especiais. E no primeiro número, ele organizou uma enquete com um júri da pesada incluindo jornalistas, executivos da indústria e artistas (este que vos escreve incluso) para descobrir quais são os 20 discos mais importantes desde 2020 até hoje e o resultado (que pode ser visto abaixo) está nas bancas com um texto de apresentação do próprio Calbuque.

Eis a capa do novo disco de Arnaldo Antunes, Novo Mundo, que será lançado na próxima semana e é o primeiro que o compositor paulistano lança pelo selo Risco, casa de artistas como Ana Frango Elétrico, Maria Beraldo e Luiza Lian, consagrando a gravadora independente como um dos principais nomes desta cena ao fisgar um artista de tal proporção. O disco, produzido por Pupillo, conta com participações de David Byrne, de Ana Frango Elétrico, de Marisa Monte, de Vandal e com uma parceria póstuma com o saudoso Erasmo Carlos, é o primeiro disco de inéditas do compositor desde 2000 e vem coroar a ótima fase que ele atravessa desde antes da pandemia, quando lançou o disco de protesto O Real Resiste (que ganhou outra dimensão com o tragédia daquele ano, num show feito pela internet), seguido da festejada parceria com o pianista pernambucano Vítor Araújo, no projeto Lágrimas no Mar, e com a já histórica volta de seu grupo original, os Titãs. Veja abaixo o nome das faixas e as participações de cada canção:

Desembaraçou! Sempre é bom ver um artista desabrochar e nesta terça-feira tivemos mais uma oportunidade no Centro da Terra de ver outra carreira musical tomando corpo naquele palco pela primeira vez. Quando Leon Gurfein me falou que queria soltar seu canto profissionalmente no palco, minha intuição disse que seu senso estético espalharia-se facilmente para a música. Há uma década convivendo com artistas de diferentes portes pelos bastidores (Leon faz cabelo, maquiagem e produção visual para nomes como Ava Rocha, Liniker, Tulipa Ruiz e Johnny Hooker, entre outros), ele mostrou sua familiaridade com o palco a partir de sua paixão pela música, que começou pela coleção de discos do pai nas proximidades daquele mesmo teatro, como fez questão de contar nos vários momentos em que conversou com o público e transformava o palco em seu salão e num divã ao mesmo tempo. A apresentação começou com uma cama ambient proposta por sua banda, que Leon batizou de Las Gatas Embarazadas, e Helena Cruz (guitarra, baixo e synthbass), Lauiz (teclas e MPC) e M7i9 (sintetizador, flauta, guitarra e saxofone) emudeceram a plateia por longos minutos, deixando a expectativa palpável para que a estrela da noite entrasse e cantasse suas próprias músicas – parte delas em espanhol – e versões, duas delas divididas com Manu Julian, que subiu ao palco para cantar duetos com Leon em versões em castelhano para “Little Trouble Girl” do Sonic Youth e em português para a clássica “Sea of Love”. Leon encerrou a noite misturando músicas de Ava Rocha, d’O Terno, Portishead e Luiza Lian a “Lágrimas Negras” e “Jorge da Capadócia”, como se invocasse proteção de seus orixãs pessoais da música para aquele momento, antes de cantar mais uma canção própria para fechar a noite. Ele nem esperou sair do palco para anunciar o bis, quando voltou à primeira música da noite acompanhado de um coral estelar formado por Manu, Lorena Pipa, Thiago Pethit, Laura Lavieri, Luiza Lian e Ana Frango Elétrico, espalhando a catarse que claramente sentia para o resto do teatro. Agora já está no mundo!

Quando o Dinosaur Jr deixou o palco do Tokio Marine Hall neste domingo deixando quase todos surdos num dos shows mais altos que ouvi em tempos, também coroava um ano de ouro para a Balaclava. O selo, que vi começando quase como um projeto paralelo de dois integrantes da banda indie Single Parents, conseguiu feitos consideráveis neste 2024 que chega ao fim: desde lotar um lugar enorme e desconhecido no raio que o parta para assistir a uma banda literalmente desconhecida de quem não frequenta a cena indie (num show histórico do King Krule no Terra SP) a fazer a principal banda do selo, o Terno Rei, atingir alturas que uma banda indie brasileira raramente atingiu a trazer os Smashing Pumpkins para um Espaço das Américas lotado, atingindo um patamar inédito de público em sua história. O já tradicional festival que aconteceu neste domingo foi só a cereja do ano que termina, para o selo.