Sem embaraço

Desembaraçou! Sempre é bom ver um artista desabrochar e nesta terça-feira tivemos mais uma oportunidade no Centro da Terra de ver outra carreira musical tomando corpo naquele palco pela primeira vez. Quando Leon Gurfein me falou que queria soltar seu canto profissionalmente no palco, minha intuição disse que seu senso estético espalharia-se facilmente para a música. Há uma década convivendo com artistas de diferentes portes pelos bastidores (Leon faz cabelo, maquiagem e produção visual para nomes como Ava Rocha, Liniker, Tulipa Ruiz e Johnny Hooker, entre outros), ele mostrou sua familiaridade com o palco a partir de sua paixão pela música, que começou pela coleção de discos do pai nas proximidades daquele mesmo teatro, como fez questão de contar nos vários momentos em que conversou com o público e transformava o palco em seu salão e num divã ao mesmo tempo. A apresentação começou com uma cama ambient proposta por sua banda, que Leon batizou de Las Gatas Embarazadas, e Helena Cruz (guitarra, baixo e synthbass), Lauiz (teclas e MPC) e M7i9 (sintetizador, flauta, guitarra e saxofone) emudeceram a plateia por longos minutos, deixando a expectativa palpável para que a estrela da noite entrasse e cantasse suas próprias músicas – parte delas em espanhol – e versões, duas delas divididas com Manu Julian, que subiu ao palco para cantar duetos com Leon em versões em castelhano para “Little Trouble Girl” do Sonic Youth e em português para a clássica “Sea of Love”. Leon encerrou a noite misturando músicas de Ava Rocha, d’O Terno, Portishead e Luiza Lian a “Lágrimas Negras” e “Jorge da Capadócia”, como se invocasse proteção de seus orixãs pessoais da música para aquele momento, antes de cantar mais uma canção própria para fechar a noite. Ele nem esperou sair do palco para anunciar o bis, quando voltou à primeira música da noite acompanhado de um coral estelar formado por Manu, Lorena Pipa, Thiago Pethit, Laura Lavieri, Luiza Lian e Ana Frango Elétrico, espalhando a catarse que claramente sentia para o resto do teatro. Agora já está no mundo!

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Festival consolidado

Quando o Dinosaur Jr deixou o palco do Tokio Marine Hall neste domingo deixando quase todos surdos num dos shows mais altos que ouvi em tempos, também coroava um ano de ouro para a Balaclava. O selo, que vi começando quase como um projeto paralelo de dois integrantes da banda indie Single Parents, conseguiu feitos consideráveis neste 2024 que chega ao fim: desde lotar um lugar enorme e desconhecido no raio que o parta para assistir a uma banda literalmente desconhecida de quem não frequenta a cena indie (num show histórico do King Krule no Terra SP) a fazer a principal banda do selo, o Terno Rei, atingir alturas que uma banda indie brasileira raramente atingiu a trazer os Smashing Pumpkins para um Espaço das Américas lotado, atingindo um patamar inédito de público em sua história. O já tradicional festival que aconteceu neste domingo foi só a cereja do ano que termina, para o selo.

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Balaclava Fest 2024 tem Dinosaur Jr., Badbadnotgood, Water from Your Eyes, Ana Frango Elétrico e não para por aí…

E a Balaclava não tá pra brincadeira. Não bastasse ter trazido o King Krule e o Tortoise para o Brasil este ano e ter anunciado a vinda do grupo inglês Bar Italia e dos americanos Smashing Pumpkins agora no segundo semestre, o selo paulistano acaba de anunciar a edição 2024 de seu Balaclava Fest, que reúne Dinosaur Jr., Badbadnotgood, os ótimos Water from Your Eyes pela primeira vez no Brasil, Ana Frango Elétrico, a inglesa Nabihah Iqbal, o grupo paulistano Raça e a dupla mineira Paira, estas últimas do elenco da gravadora. É uma das melhores escalações das 14 edições do festival e acontece mais uma vez no Tokio Marine Hall no dia 10 de novembro – e os ingressos já estão à venda.

Vida Fodona #816: A segunda metade de 2024 acabou de começar

50% e pouco já foram…

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Vida Fodona #813: Retomada de ritmo

Sem pressa.

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Vida Fodona #812: Vielas das lembranças

Vamos começar bem o mês…

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“Insista em Mim” uníssono

Nunca consigo ir ao Tranquilo porque ele acontece sempre às segundas-feiras, dia em que me ocupo com as temporadas que faço no Centro da Terra, mas como a apresentação dessa segunda terminou logo e a edição do Tranquilo era por perto, consegui me deslocar para chegar no União Fraterna antes da última convidada da noite, Ana Frango Elétrico, que iria mostrar sozinha – como é a praxe do evento – músicas de sua lavra depois de apresentações da Marina Nemésio e da banda Pluma (que, pelos motivos descritos acima, perdi). Mas cheguei a tempo de ver Ana mostrar músicas de seus primeiros discos (Mormaço Queima e Little Electric Chicken Heart), além de canções de seu disco mais recente, Me Chama de Gato Que Eu Sou Sua. Ela começou primeiro na guitarra e depois foi para o teclado, quando convidou Marina Nemésio para dividir a maravilhosa ” Nuvem Vermelha”, parceria das duas (e como eu amo a voz da Marina…). Voltou para a guitarra, quando, acompanhada do público que lotou o União Fraterna, fez todos cantarem em uníssono a perfeita “Insista em Mim”, minha música favorita do ano passado. Uma noite memorável.

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Um belo reencontro

Fim de semana começou com o reencontro da banda Sophia Chablau e Uma Enorme Perda de Tempo com seu farol artístico, Ana Frango Elétrico, que originalmente aconteceria no início de março mas que, por questões pessoais (Theo Ceccato, o baterista, havia quebrado o pé!), só aconteceu dois meses depois, no mesmo Sesc Bom Retiro em que o primeiro show aconteceria. Era também o primeiro show da Enorme em uma unidade do Sesc após o lançamento de seu segundo álbum e acontecer no Bom Retiro ainda lhes garantiu um ótimo som para mostrar seu Música de Esquecimento na primeira parte do show – que ainda teve o próprio baterista vindo para frente cantar sua ótima balada “O Último Sexo” quase às lágrimas. Mas depois que Ana subiu ao palco, a banda voltou no tempo e Sophia puxou o flashback pra julho de 2019, quando eu havia juntado aquelas duas jovens forças no palco do Centro Cultural São Paulo, fazendo-os voltar ao primeiro disco de Ana, Mormaço Queima, que a vocalista não mediu elogios ao comparar com a lenda urbana do primeiro disco do Velvet Underground, que não vendeu muito, mas todo mundo que o comprou montou uma banda. E assim voltaram ao passado para tocar juntos músicas de seus primeiros discos como “Debaixo do Pano”, “Picles”, “Loteria” e “Delícia Luxúria”, mas também puxaram duas de seus discos recentes, como “Segredo” e “Quem Vai Apagar A Luz?”, em que Ana assumiu a voz do coautor da música, Negro Leo, e o momento mais bonito da noite, a versão que fizeram juntos para “Insista em Mim”. “Não vai embora nunca”, disse Sophia, antes de emendar, quase chorando que, “você é meu melhor amigo, cara”. Foi demais.

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Gato Elétrico

Finalmente saudei minha dívida com a Ana Frango Elétrico e pude ver o melhor disco brasileiro de 2023 ao vivo neste sábado, no Sesc Ipiranga, depois de perdê-lo no Sesc Pompeia no fim do ano passado e no Circo Voador no fim de janeiro (até fiz planos, mas infelizmente não rolou). Não tinha dúvida que seria um showzaço, mas Ana entregou ainda mais que esperávamos, passando a íntegra de seu Me Chama de Gato Que Eu Sou Sua além de várias músicas de seus dois discos anteriores, Mormaço Queima e Little Electric Chicken Heart, ambos acondicionados à nova realidade sonora projetada pela sensação carioca. A começar pela banda que ela reuniu, um time de peso que traz alguns dos principais músicos brasileiros da atualidade: Sérgio Machado na bateria, Alberto Continentino no baixo, Guilherme Lírio na guitarra, Thomás Jagoda nos teclados, Dora Morelenbaum nos vocais de apoio e Pablo Carvalho na percussão, e a luz sempre deslumbrante da Olívia Munhoz. Além de ter sido um show mais longo dos que ela tem feito até aqui, a banda estava tinindo de tão entrosada, deixando Ana completamente à vontade não só para se jogar em cima do público como a soltar sua voz maravilhosamente e fazer até um solo de Moog arrastando a cabeça nas teclas (sério!). Abrindo o show perfeito com a música mais alheia do repertório – a stereolabiana “Let’s Go To Before Again” -, a apresentação pesa no groove e na dance music, atingindo um pico na fusão que ela fez entre “Não Tem Nada Não” (o encontro dos gênios Eumir Deodato, João Donato e Marcos Valle) e “Gypsy Woman” (aquela da Crystal Waters). Mas, como no disco, meu momento favorito foi quando ela emendou as três baladas espetaculares – “Camelo Azul”, “Nuvem Vermelha” e “Insista em Mim” – num bloco de derreter corações e mentes. Obrigado, Ana! Quero ver mais!

Assista a um trecho aqui.

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Eis os melhores de 2023 na categoria Música Popular segundo a APCA

Ludmilla, Jards Macalé, Ana Frango Elétrico, Titãs, Luiza Lian, projeto Relicário e Mateus Fazeno Rock são os vencedores nas categorias de Música Popular da edição de 2023 do prêmio dado pela Associação Paulista dos Críticos de Arte, da qual faço parte. Eis os vencedores de cada categoria: