American way-of-life 2

, por Alexandre Matias

Essa saiu da Folha de sábado.

Crítica cinema: ‘A Casa Monstro’ remete aos anos 80

Dá pra gastar linhas e linhas para falar de “Casa Monstro” e repetir-se na obviedade. Falar do processo de animação que mistura atuação com computação gráfica, encaixar o filme na linha do tempo desta nova era de ouro da animação, dos atores hollywoodianos que participaram do filme ou do filme ser produzido por Robert Zemmeckis (“Forrest Gump”) e Steven Spielberg. Mas, mais do que isso (tá no release e todo mundo vai falar disso…), o filme que estreou esta semana é um filme de época.

Uma época quase clássica, consolidada no imaginário de uma geração inteira, tão emblemática quanto a Swinging London da década de 60, o American Way of Life dos anos 50, os Roaring 20s americanos ou o Rio de Janeiro da fase clássica da bossa nova. Esta época acontece nos Estados Unidos durante os anos 80, quando o público adolescente invade o mercado de entretenimento como seu principal alvo e consumidor.

“Casa Monstro” é uma história de terror irracional e tradicionar, sem as tentativas de explicar o medo ou as táticas de choque de terror moderno. Aponta para Freddy Krueger e “A Hora do Espanto”, embora mire numa idade mais baixa. Nada de banhos de sangue ou sustos pesados – o ar do filme é leve como “Garotos Perdidos” ou “Goonies”.

E é nestes anos 80 que o filme é localizado. Aquele da porta com três janelas, aqueles coletes com uma letra grande no peito, bonés e crianças andando de BMX. “Super Vicky”, “ET”, “Alf”, “Picardias Estudantis”, “De Volta para o Futuro”, “Porky’s”, todos John Hughes clássicos (“Curtindo a Vida Adoidado”, “Clube dos Cinco”), “Caras e Caretas” – é este o universo de “Casa Monstro”, com “Pong” no videogame, a babysitter que vira gótica (ou seria melhor “dark”?) depois que os pais do garoto saem ou o retrato clássico da festa americana do Dia das Bruxas. Até no fato de Kathleen Turner – um ícone oitentista – dublar o monstro do título há esta referência.

Divertido e fluído, o filme conta a história de um velho que espanta a criançada que se aproxima de uma casa amaldiçoada. De um pressuposto simples, “Casa Monstro” embarca numa montanha russa de emoções light – a entrada na puberdade, o primeiro amor, o amor impossível – e acerta em cheio no clichê de “filme para a família”.