“Meu tempo de composição é, se pensarmos no mercado e no ritmo que ele tem mesmo pós-indústria, um tempo mais esticado”, explica Álvaro Lancelotti, ex-Fino Coletivo, que está lançando nesta sexta-feira seu terceiro álbum, Canto de Marajó. Ele prossegue: “O Tempo Faz a Gente Ter Esses Encantos (seu disco anterior) é de novembro de 2012, e de lá até o último disco do Fino, que gravamos em 2014, eu vim construindo as canções lentamente. Ainda não sei o que é ter que compor durante processo de gravação de um disco, todas elas eu fiz antes de entrar em estúdio. Não é uma regra, e nem acho que precisarei disso sempre, mas ainda é pra mim um tipo de processo que me ajuda a visualizar a concepção do trabalho.” Antes havia gravado Mar aberto, em 2008.
Irmão de Domenico Lancellotti, Alvinho lança um disco que define por cima como “macumba romântica”, enfatizando as aspas. Canto de Marajó é sensível e delicado, mas nem por isso frágil – graças, principalmente à temática central do disco, ponteada pela percussão de terreiro, com vocais suaves e melódicos e muita ênfase no ritmo, ainda que suave, cortesia da produção de Mario Caldato.
Gravado por Maria Rita, Marcos Valle e Wado, Alvinho ainda é desconhecido do grande público. “Tenho parceiros de composições de estilos musicais bem diferentes. Acho legal isso, é uma forma de passear em varias camadas de tempo, de interesses, de percepções da música. Tenho parcerias com Davi Moraes, Rogê, Wado, MoMo, Roque Ferreira, Domenico e Ivor Lancellotti, Adriano Siri… Durante os quase dez anos de Fino Coletivo vivi muito nessa troca Rio-Alagoas e acabou que a banda também se criou numa conexão forte com o nordeste, onde eu acho que troquei muito. Nos últimos anos, junto com o trabalho solo, eu tenho frequentado mais os shows por aqui, trocado mais com a cena do Rio. Fazer o disco me colocou na rua novamente, voltei a frequentar as casas, frequentar os artistas daqui.” Canto de Marajó pode mostrá-lo para o resto do país por um caminho mais suave, quase místico.