Um papo com o Xkcd

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Entrevistei o físico Randall Munroe, também conhecido como Xkcd, para a capa da Ilustrada de hoje – falei com ele algumas horas antes de ele acompanhar o pouso da nave no cometa, assunto que dominou o final da conversa. Meio tímido e meio sem graça, ficamos quase meia hora falando sobre cultura pop, quadrinhos, internet e ficção científica. Um dia eu publico a íntegra dessa conversa.

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Eureka!
Ex-funcionário da Nasa e um dos principais autores da era da internet, o físico e quadrinista Randall Munroe conversou com a Folha sobre o livro em que responde, usando ciência, a perguntas inusitadas enviadas por seus leitores

Faltavam poucas horas para o módulo Philae desconectar-se da sonda Rosetta e pousar no cometa Churyumov-Gerasimenko e Randall Munroe, 30, não conseguia disfarçar sua animação. “Vou ficar acordado à noite toda para assistir a isso, quero ver se tudo vai dar certo”, disse em entrevista por telefone com a voz tímida e quase sem graça, como se fosse apenas um sujeito qualquer assistindo a um evento corriqueiro.

E isso o físico e quadrinista mais conhecido como Xkcd, que acaba de lançar seu E Se? – Respostas Científicas para Perguntas Absurdas (Companhia das Letras, R$ 39,90) no Brasil, não é. Seu traço é simples até o limite do conceitual, reduzindo minimanente tudo a bonequinhos de palitinhos, mas ele lida com temas de escopo épico, medindo tudo com a grande régua da ciência.

Suas tirinhas – publicadas no site xkcd.com a cada dois ou três dias – compilam comentários ácidos e diálogos perspicazes sobre assuntos correlatos à ciência, como a cultura da internet, nossa relação com a tecnologia, linguagem e a natureza da ficção científica. Em uma delas, observou que tweets sobre terremotos chegavam mais rápido que as próprias ondas sísmicas a regiões ao redor do epicentro do tremor, sendo possível ler sobre o terremoto antes de senti-lo – e o comentário foi comprovado cientificamente pouco depois da publicação do quadrinho.

A tira começou em 2005, quando Munroe ainda trabalhava na área de robótica da Nasa, a agência espacial norte-americana. “Meus primeiros quadrinhos foram desenhados ainda na escola, quando deveria estar prestando atenção nas aulas, sempre rabiscava algo nos cantos dos meus cadernos. Depois de um tempo resolvi escaneá-los, mas não sabia o que fazer com eles e os coloquei em meu site”, explica.

O nome do site foi inventado a partir de uma observação que ele havia feito quando ainda era criança, de que um nome poderia perder seu sentido com o tempo: “Então inventei uma linha de texto que não significa nada e que seria só minha. E também um nome curto, pois achei que seria mais fácil se precisasse digitá-lo bastante no futuro.”

Não demorou muito para o quadrinho autodescrito como “um webcomic sobre romance, sarcasmo, matemática e linguagem” começasse a fazer sucesso, atingindo em poucos meses um público mensal de 70 milhões de pessoas, como registrou a revista Wired no final de 2007. Foi quando Munroe começou a explorar as possibilidades do formato quadrinho na internet.

A seção E Se? (What If) foi um dos primeiros experimentos com a interatividade digital. Reunidas pela primeira vez em livro em 2014, as respostas elaboradas visualmente por Munroe vinham de perguntas absurdas enviadas por seus leitores. No livro, ele responde a perguntas inusitadas como “se minha impressora conseguisse literalmente imprimir dinheiro, o impacto no mundo seria muito grande?”, “quanto espaço físico a internet ocupa?”, “se um asteroide fosse bem pequeno mas superdenso, seria possível morar nele como o Pequeno Príncipe?” e “de que altura você teria que soltar um bife para ele chegar ao chão cozido?” Mas a inspiração veio na sala de aula.

“Há um programa no MIT em que qualquer pessoa pode ser voluntária para dar aulas num fim de semana sobre qualquer assunto para estudantes de segundo grau”, lembra. “Eu nunca havia dado aulas antes e vi como é difícil manter os alunos interessados naquilo que você está querendo ensinar. Então pensei numa questão sobre Guerra nas Estrelas e quanta energia que Yoda conseguiria produzir através da Força e de repente todos começaram a ficar interessados. E seguiram a lógica, fazendo perguntas do tipo sobre outros filmes e logo em seguida sobre coisas da vida real. Eles ficam bem mais interessados quando as perguntas não são abstratas.”

Ele adaptou essa lógica para o seu site e começou a receber uma avalanche de perguntas improváveis. “Não consigo ler todas, são muitas”, confessa. Alguma delas são bizarras o suficiente para que ele nem pestaneje em pensar na resposta (“Dá para impedir uma erupção vulcânica depositando uma bomba (termobárica ou nuclear) debaixo da terra?”) ou que nem comece a cogitar a possibilidade de respondê-las (“A que velocidade um ser humano teria que correr para ser cortado ao meio, na altura do umbigo, por um arame de cortar queijo?”).

Depois da seção E Se?, Randall começou a experimentar cada vez mais em escala (o quadrinho “Money” trabalha proporcionalmente todo o dinheiro que existe no mundo), com geolocalização (certa vez publicou uma brincadeira de primeiro de abril que variava de acordo com a localização geográfica de cada leitor), com espaço (no vasto universo digital de “Click and drag”, um desenho interativo que se fosse impresso ocuparia uma área de 14 metros de largura), culminando na contemplativa “Time”, que ganhou o prêmio Hugo, maior reconhecimento na área de ficção científica, deste ano (leia abaixo).

Atualmente ele descansa da turnê de lançamento de seu livro na Europa e cogita conhecer o Brasil: “Nunca fui ao Hemisfério Sul, mas sei que tenho muitos fãs aí.” Ele não detalha projetos para o futuro pois faz muitas coisas ao mesmo tempo (“sou muito desorganizado”), mas antecipou que quer fazer algo com os “3.2 GB de dados do genoma humano”, que baixou no início do ano.

Logo depois da entrevista, ele transmitiu o pouso do módulo Philae no cometa Churyumov-Gerasimenko através de seu próprio site, publicando um quadrinho a cada cinco minutos, criando uma animação que reunia as informações que conseguia conectar enquanto acompanhava as informações que obtinha no site da Esa (agência espacial europeia).

Projetos recentes ampliam ideia de interação entre público e obra

Dois dos projetos mais ambiciosos de Randall Munroe exploram as possibilidades de interação entre a obra de arte e o público de formas bem distintas. “Click and drag” (“clique e arraste”, que pode ser visto em http://xkcd.com/1110/), por exemplo, é o ápice de seu trabalho com mapas e tabelas, como já havia feito ao criar o mapa da internet ou do sistema solar. A obra de 2012 é uma tira cujo último quadrinho permite que o leitor explore dimensões improváveis dentro de um único painel. “Quando você está num videogame de carro e olha no horizonte, você vê algumas montanhas, mas se tenta dirigir o carro para fora da pista, há uma espécie de parede invisível que não permite que você chegue às montanhas. É um universo que parece ser muito grande, mas é muito pequeno. Eu queria fazer um quadrinho que tivesse o efeito oposto, que parecesse muito pequeno mas que fosse muito grande”, conta seu autor.

A obra também foi inspirada em um passatempo comum em nossa rotina digital: passear por mapas através da internet. “Eu achava um rio perto de casa e começava a clicar e arrastar o mapa para seguir o rio até o oceano e isso levava meia hora, passava por várias cidades e dava uma sensação de estar explorando. Mas eu não queria que você pudesse dar zoom para fora, pois isso seria como trapacear”, explica.

“Time” (que pode ser lida aqui http://xkcd.com/1190/) era um experimento com tempo e nele Randall convidava o leitor a acompanhar uma história que teria um novo quadrinho publicado a cada meia hora por 123 dias. “Era como se fosse algo entre uma tira na internet e um filme. Porque uma tira de internet é atualizada uma vez por dia ou por semana enquanto um filme é uma espécie de tira de internet que é atualizada 24 vezes por segundo. Eu queria contar aquela história, que era sobre o tempo, e achei que seria uma forma interessante e única de contá-la”, conclui. “Time” ganhou o prêmio Hugo de “melhor história gráfica” deste ano e a premiação foi aceita pelo escritor Cory Doctorow que, a pedido de Munroe, disse que iria ler o discurso de agradecimento falando uma palavra por hora.

P: Quanta Força o Yoda consegue gerar?
R:
É óbvio que vou ignorar as prequels. A maior demonstração de força de Yoda na trilogia original se deu quando ele ergueu a X-wing de Luke do pântano. No que concerne a movimentar objetos fisicamente, esse foi sem dúvida o maior dispêndio de energia através da Força que vimos em qualquer momento da trilogia. A energia necessária para erguer um objeto até certa altura é igual à massa do objeto vezes a força da gravidade vezes a altura a que se queira erguer. (…) Por fim, precisamos saber da força da gravidade em Dagobah. Aqui fico sem ter para onde ir, pois mesmo que os fãs de ficção científica sejam obcecados, não tem como existir um catálogo das mínimas especificações geofísicas de cada planeta que aparece em Star Wars, né? Não. Subestimei os fãs.A Wookieepedia tem esse catálogo e nos diz que a gravidade superficial de Dagobah é de 0,9 g. (…)
(O resultado de 19,2 kW) é potência suficiente para energizar um quarteirão de casinhas no subúrbio. Também é equivalente a 25 cavalos-vapor, que é quase a potência do motor do Smart Car elétrico. Aos preços atuais de energia elétrica, Yoda valeria aproximadamente dois dólares por hora. (…) com o consumo de eletricidade mundial na faixa dos 2 terawatts, precisaríamos de 100 milhões de Yodas para cumprir a demanda. Somando tudo, adotar “Yodanergia” não ia valer a pena — mas é incontestável que seria energia verde.

P: Quando, se é que um dia, o Facebook terá mais perfis de mortos do que de vivos?
R:
Vai ser ou nos anos 2060 ou 2130. Não tem muito morto no Facebook. A razão principal é que tanto a rede social quanto seus usuários são jovens. O usuário médio do Facebook envelheceu com o passar dos anos, mas o site ainda é mais utilizado — e com frequência bem maior — pelos mais jovens. Com base na taxa de crescimento do site, e na estratificação etária de usuários ao longo do tempo,2 cerca de 10 a 20 milhões de pessoas que criaram perfis do Facebook já morreram.

P: Dá para construir um propulsor a jato (jetpack) usando metralhadoras que atirem para baixo?
R: Eu fiquei meio surpreso quando descobri que a resposta é positiva! Mas para fazer direito, você vai ter que conversar com os russos. O princípio é bem básico. Se você atira uma bala para a frente, o coice empurra você para trás; então, se atirar para baixo, o coice vai lançar você para cima. A primeira pergunta a responder é: “Tem como uma arma erguer seu próprio peso?”. Se uma metralhadora pesa 4 kg mas o coice dela ao disparar é de 3 kg, ela não vai conseguir se erguer do chão, muito menos erguer ela mesma mais uma pessoa. No mundo da engenharia, a razão entre a potência de um veículo e o peso é chamada de, veja só, relação peso-potência. Se for menor que 1, o veículo não consegue se erguer. O Saturno V tinha uma relação peso-potência, para a decolagem, de aproximadamente 1,5
Apesar de eu ter crescido no sul dos Estados Unidos, não sou especialista em armas de fogo. Por isso, conversei com um conhecido do Texas para ajudar na resposta.
Aviso: por favor, POR FAVOR, não tente fazer isso em casa.

Como foi o bate-papo com o Peter Hook na Casa do Mancha

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De bermudas e havaianas, o baixista do Joy Division e do New Order chegou à Casa do Mancha depois de tomar umas cervejas no Empanadas, ali na Vila Madalena, quando fui mediador de uma conversa entre e ele e uns trinta fãs, que tiraram a tarde quente de sexta-feira para se espremer num “shitty hole”, com disse o próprio Peter Hook em relação à Casinha. “É de lugares assim que sai a melhor música”, explicou em seguida, dizendo que já havia tocado com suas duas bandas em casas menores e com menos estrutura que lá. Figuraça, Peter Hook aparenta menos que seus quase 60 anos, não mediu palavras para falar de seu passado de glória e desancar o ex-parceiro Bernard Sumner e ficou com os olhos cheios de lágrimas quando foi perguntado sobre a morte do ex-empresário Rob Gretton. O Pablo, que agora tem um blog no UOL, também esteve lá e relatou o encontro. Destaco um trecho:

Apesar do ar seco paulistano, Hook estava se divertindo. Brincou com a tradutora, fez caretas, ignorou uma mensagem da filha no celular e deu um conselho torto sobre como ser bem-sucedido na profissão. “A coisa de se estar num grupo é aprender que você está certo e o mundo todo está errado. Senão você não consegue seguir em frente. O que mais me assusta nesses programas de talentos da TV é que as pessoas vão neles para saber: ‘O que você acha de mim?’ E quando se é um grupo, você apenas diz: ‘Foda-se!’ Se você pergunta para as pessoas o que elas acham de você, e elas não concordam com você, você fica arrasado. Para um grupo se dar bem, tem que ser realmente você contra o resto do mundo.”

“Imagine”, ele finalizou a tese, “o que os jurados do X-Factor diriam se vissem hoje uns caras como Ian Curtis, Ian Brown [do Stone Roses], Shaun Rider [do Happy Mondays]. Oh não!”

Várias pessoas filmaram o bate-papo, se alguém tiver publicado o vídeo, manda aí o link nos comentários. A foto que ilustra esse post é do próprio Pablo, que me mandou por celular com a legenda “kkkkk”.

Dia de bater um papo com o Peter Hook

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O ex-baixista do Joy Division e do New Order Peter Hook toca mais uma vez em São Paulo nessa sexta-feira, na Clash (e o vencedor da promoção do par de ingressos que sorteei no início da semana já foi avisado por email). Mas antes do show de hoje à noite, Hooky bate um papo com fãs na Casa do Mancha, num evento promovido pelo British Council. Fui chamado para mediar o papo, que teve suas inscrições feitas a partir de perguntas enviadas para a organização (veja aqui se você vai participar). A boa é chegar cedo, tipo 13h, para não correr o risco de ficar de fora da Casinha. Nos vemos mais tarde?

Conversando sobre política com o Não Salvo

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Bati um papo sobre política com Maurício Cid, do Não Salvo, para o YouPix. Dono de um dos principais blogs do Brasil, ele resolveu, durante estas eleições, entrevistar os candidatos à presidência do país, mesmo sendo um blog de humor. O papo rendeu um post no site do YouPix, veja só:

 

Ruído/mm – Rasura

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Um dos melhores discos brasileiros do ano está vindo aí. Rasura é quarto disco da banda curitibana Ruído/mm (lê-se “Ruído por milímetro”) e os consagra não apenas como principal representante de uma cena de música experimental instrumental dentro do rock independente brasileiro como também como uma banda estabelecida no cenário nacional, mesmo que desconhecida do grande público. Menos introspectivo e mais guitarreiro que o disco anterior (o incrível Introdução à Cortina do Sótão, de 2011), Rasura ainda flutua no éter da pressão da microfonia, contrapondo calma e barulho como elementos não necessariamente opostos. O grupo está soltando o disco aos poucos, já liberou a faixa “Cromaqui” e agora descola “Transibéria” aqui pro Trabalho Sujo, ouça:

O novo disco será lançado no próximo sábado, dia 27, num show no Sesc da Esquina de Curitiba, nos formatos digital (download gratuito pelo selo paulistano Sinewave ou pelo Bandcamp, em que o ouvinte pode pagar pelo download – e ganhar bônus por isso), CD e, mais pra frente, em vinil, o que garantirá toda a glória desta colagem feita pelo designer Mario de Alencar, que assina essa capa incrível:

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A banda é formada pelos guitarristas André Ramiro e Ricardo Pill, o baterista Giovani Farina, o pianista Alexandre Liblik e pelo novato mulltiinstrumentista Felipe Ayres, além do baixista Rafael Panke, que conversou comigo por email.

Fale mais sobre esse amadurecimento do Ruído. Vocês já têm um próprio som definido ou é algo em mutação constante?
O Ruído é uma entidade com vontade própria. Não importa quem a esteja incorporando no momento, sempre será conduzido por uma intuição estranha, como que guiado por vozes. Cada desertor deixa um pouco de sua essência e leva um pouco do zumbido com ele. Percebemos para onde estamos sendo levados, mas não há nada que possamos fazer quanto a isso: escolhas, discussões, livre arbítrio, definições… O grande espírito ri. Às vezes, depois de muito tempo buscando determinado resultado, acabamos chegando lá por caminhos não antecipados. Outras, quando achamos que finalmente compreendemos a mecânica da construção… puf! O absurdo se revela e nos vemos às voltas com o imponderável outra vez. Aceitar isso foi o pulo do gato preto.
Uma vez ouvi que “o artista que sabe o que está fazendo é medíocre”. Não sei se concordo totalmente com isso, mas é uma grande frase de efeito. Se formos nos pautar por essa máxima, o ruído está fazendo do jeito certo.

O que vocês mais ouviram durante a gravação e composição desse disco? O que foi referência em termos de composição e de produção?
Usamos a coqueteleira de sempre, apenas dosando os ingredientes de forma diferente. Um pouquinho menos de Satie, um pouco mais de Yo La Tengo. O bom e velho Morricone continua lá, mas apertando forte a mão do Kevin Shields e do Lee Ranaldo. O piano não está tão proeminente nas composições quanto estava no nosso trabalho anterior, e essa opção permitiu ao Liblik explorar toda sua versatilidade com outros timbres, dos clássicos Wurlitzer e Hammond aos sintetizadores mais fritos. Temos muito mais camadas de guitarras desta vez, também.
Em questão de produção, eu tinha uma intenção vaga de aquecer o som; eu queria que o disco soasse honesto, mais parecido com a gente ao vivo: guitarras garageiras gritando, o piano e os synths bem quentes, a batera com muito som de sala e a coisa toda com bastante ambiência. Transportar o ouvinte praquele mesmo lugar/lugar nenhum, praquele momento fora dos momentos. As coisas foram feitas com muita minúcia e atenção, mas como eu disse anteriormente, a pajelança ruidosa incorpórea não nos permite tomar as rédeas da coisa totalmente. O disco foi se moldando a si mesmo diante de nós, observadores aparvalhados, e chegou a esse resultado como que por vontade própria.

Como anda a cena de rock experimental brasileira? Vocês se encaixam em alguma cena? Se sim, ao lado de que outros artistas?
Temos muita afinidade com o pessoal do Constantina, do Herod, do Labirinto, do Kalouv… mas apesar de curtirmos e nos identificarmos, é raro conseguirmos tocar juntos ou interagir fora da internet. Isso sim constituiria uma “cena” da forma tradicional, certo? Mas as grandes distâncias e a pouca grana para promover eventos impedem isso.
Por outro lado, há um sentimento de pertencimento, sim, e a Sinewave é o vetor disso. Eles têm feito um trabalho incrível de curadoria, descobrindo, reunindo e lançando bandas experimentais de todo o Brasil. No fim, estamos todos juntos numa grande hive mind.

Como Curitiba se reflete no som da banda?
Na dicotomia complementar entre a introspecção caseira e o boteco inferninho, creio eu. Na nossa casa, no vento frio na janela; nas quatro estações num mesmo dia; no bafo dum porão lotado ou num conhaque queimando o peito.
O Petit Pavé da Rua XV e os bêbados da Trajano Reis estão tatuados em nossas vesículas.

Vendo de fora, percebo a cidade está passando por uma nova transformação, incluindo culturalmente. O que você acha?
Não sei… de dentro, é difícil dizer; não dá pra dar um passo atrás e ver o quadro maior. O que pode ser dito é que, no que diz respeito à produção da música dita alternativa, Curitiba está está sempre borbulhando. A coisa se transmuta, cresce e encolhe, se estica, solta vapor e não pára de se mexer. Todos sempre atentos, esperando pra ver se não nasce um grande monstro voador dessa gosma inquieta.

Lou Barlow: “Há um momento em que as pessoas se deixam levar pelo lado empresarial, querendo se tornar imensamente populares e isso não é muito realista”

Sebadoh 2 (2011)

Bati um papo com Lou Barlow (à direita, com o rosto virado), líder do Sebadoh, por telefone no fim da tarde deste sábado – a banda tinha chegado pela manhã no Brasil. A banda se apresenta hoje e amanhã no Sesc Pompéia e os shows começam pontualmente às 19h.

Esta é a sua segunda vez no Brasil, na primeira você veio para cá como baixista do Dinosaur Jr. e teve a oportunidade de fazer um show solo. Quais lembranças você tem daquele dia?
O show solo foi muito bom, foi um dos momentos mais doces da minha carreira, acho (ri). Foi bem surpreendente pra mim, porque todo mundo estava sendo muito legal e o show foi organizado em, sei lá, umas seis horas. Muita gente foi e todos foram muito legais. O público no Brasil foi muito bom com o Dinosaur Jr. também. As pessoas amam música aqui, São Paulo é uma cidade absurdamente enorme (ri) e só uma porcentagem pequena deve ir ao show, como é o que acontece quando tocamos em Londres ou em Nova York. E sempre tive vontade de voltar e agora estou feliz de estar aqui com o Sebadoh.

Você tinha alguma idéia da quantidade de fãs que têm aqui no Brasil?
Não. Fiquei surpreso quando vi as pessoas no show solo da outra vez, mas não sei o que esperar com o Sebadoh. Acabamos de fazer uma turnê pela Austrália e Nova Zelândia que foi bem divertida, mas não teve muito público e ultimamente nossas turnês pelos EUA têm cada vez menos gente na platéia.

Acredito que o público do Sebadoh é o mesmo que pode, ainda nos anos 90, comprar CDs importados numa época em que isso começou a ficar mais barato por aqui, no início dos anos 90. Ao mesmo tempo foi uma época em que a cultura independente norte-americana começou a ser mais conhecida pelo mundo e isso acabou influenciando a música independente brasileira. Atualmente os limites entre música independente e mainstream estão cada vez mais misturados. Como você vê isso?
Eu acho que o que acontece com a maioria das pessoas, eu incluso, é que você tem que fazer as coisas você mesmo. Há um momento em que as pessoas se deixam levar pelo lado empresarial, querendo se tornar imensamente populares e isso não é muito realista. E as pessoas percebem isso. Acho que o maravilhoso da cultura independente é que ela sempre vai existir, em algum lugar. E que o underground sempre vai ser um vasto território para a música. Eu vejo as pessoas reclamando que a música está chata, que não tem coisa legal sendo feita, mas acho que é mais provável que essas pessoas que reclamam não estejam procurando. Elas não se importam. Elas não se importam com o que os moleques de 23 anos de hoje em dia estão ouvindo. Elas não se importam se tem um galpão abandonado fora da cidade que recebeu um show que reuniu mil pessoas pra ver uma banda que ela nunca ouviu falar. Isso não quer dizer que não esteja acontecendo. Está e sempre estará. Sempre haverá comunicação entre as pessoas em um nível bem básico e debaixo de toda essa lógica comercial e empresarial. Sempre acontecerá e isso é impressionante.

Mas as coisas estão bem mais misturadas hoje em dia. Era impensável que uma gravadora indie dos anos 90 teria uma música no topo da parada de discos mais vendidos na Billboard, como aconteceu com o Arcade Fire que é um artista da Merge.
Ao mesmo tempo a Merge é uma gravadora consciente de seu papel, de uma forma bem realista. É uma gravadora fundada a partir da integridade artística, o que também acontece com a Domino. Eles continuaram fazendo o mesmo por anos, os gostos musicais mudam e aconteceu que algo como o Arcade Fire se tornasse comercial. A Merge é formada por pessoas espertas e honestas e eu acredito que este é o grande fator que tornou possível que tivessem um disco no topo da parada, sua integridade artística. E depois de 25, 30 anos, isso torna-se uma habilidade de mudar a forma como as coisas funcionam.

É que eles são comerciais mas não tratam isso apenas como um negócio.
Sim. É exatamente isso. Isso acontece com a Merge, com a Domino, com a Sub Pop… Gente que pensa de forma realista o tempo todo.

O Sebadoh apareceu no final dos anos 80, uma época em que era muito difícil conseguir gravar seu próprio disco e você foi um dos pioneiros ao lançar gravações caseiras, que se tornou uma estética conhecida na época como lo-fi. Isso foi importante para mostrar que você não precisava ser superproduzido para soar bem. Hoje, com computador e acesso à internet, qualquer um consegue gravar músicas com um mínimo de esforço e espalhá-las para o mundo inteiro sem precisar fazer concessões sonoras para soar mais comercial e conseguir um público cada vez maior. O que você acha disso?
Acho que isso é verdade. Eu estava pensando num dia desses sobre como, nos anos 90, as bandas acabavam fazendo isso para ver se atingiam um público maior e seus discos acabavam vendendo menos que os anteriores (ri). Isso não ocorre com os discos independentes e eles acabam vendendo mais, porque as pessoas têm uma conexão pessoal com isso. É há uma diferença quando você não trabalha nisso como se estivesse lidando apenas com uma empresa, seja por uma decisão política ou porque a sonoridade acaba se tornando mais fria para deixá-la com uma cara mais corporativa. Algumas bandas são exceções, como, claro, o Nirvana. Mas bandas como o Arcade Fire ou o Spoon continuaram na Merge porque sabiam que era a coisa certa a ser feita, especialmente o Spoon, que já esteve numa gravadora grande e foi muito mal, passou por dificuldades. Mas aí eles voltaram para algo mais realista e tudo melhorou.

Ao mesmo tempo, estamos vivendo em uma época em que cada vez mais pessoas lançam seus trabalhos, nunca foi tão fácil se tornar um artista e ter sua obra publicada. Você acha que isso não vai acabar enfraquecendo esse lado mais corporativo do mercado da música, que faz as pessoas serem guiadas por quem está na capa da revista, no topo das paradas, com os discos mais vendidos…
Hm… Tem outra coisa também: as pessoas gostam de música pop porque ela é gigantesca. E a música pop passa por ângulo cultural que a torna onipresente, espalhada em cartazes, e isso é parte do negócio. Mas qualquer um que desconfie que há algo diferente acaba procurando outro tipo de música, claro, graças à internet, que tornou tudo mais fácil. Você pode passar a noite procurando por sua nova banda favorita.

Você soube do disco-tributo que bandas brasileiras gravaram com as canções do Sebadoh?
Ouvi falar, mas não ouvi ainda.

Não é improvável pensar em um tributo feito por bandas brasileiras?
Mas fazem tributos pra tantas coisas diferentes… Na verdade, umas bandas francesas já fizeram um tributo ao Sebadoh e outras bandas da Bélgica também, então não é tão improvável assim pra mim. Acho que nos anos 90 o Brasil realmente parecia distante. Mas, hoje, com a internet, você fala no Brasil e parece normal, não é como se estivesse falando de uma coisa completamente distante. E tem tantos brasileiros no Facebook… E na minha visão superficial do país, acho que é um lugar muito musical, onde as pessoas amam música e agem de forma muito passional em relação à música, vi isso na resposta dos shows com o Dinosaur Jr. quanto nas bandas brasileiras que tocaram junto com a gente e eram muito boas! E além de ter uma tradição musical incrível, as pessoas daí gostam de rock. Isso é tão incomum, porque na maior parte dos lugares há a presença da dance music, que é tão invasiva e está em todos os lugares e todo mundo gosta… Estávamos no aeroporto hoje, saímos do avião e estávamos sentados em um pequeno café e tá tocando Stooges, num café pequeno num aeroporto e isso é incomum (ri)! Não é um bar, é um lugar normal pra pessoas comuns… e tá tocando Stooges! E logo em seguida tocou uma canção melancólica qualquer. Foi tão estranho. Isso nunca aconteceria nos Estados Unidos. Você nunca vai ouvir os Stooges tocando num aeroporto. E não é por causa do que está sendo dito, mas pela sonoridade. Isso não é música para pessoas em seu dia-a-dia. E por aqui toca. Acho engraçado como as pessoas na América do Sul gostam mais de rock do que nos outros lugares que conheço.

Aproveitando a deixa, o que você conhece de música brasileira?
Não muito. Conheço os Mutantes porque fez parte de um onda nos anos 90, com coletâneas e relançamentos, são discos incríveis, que hoje fazem parte da coleção de qualquer fã de música, junto dos discos dos Zombies e dos Beatles, já são considerados um clássico. Não conheço o hard rock brasileiro, mas imagino que deva ser incrível (ri). Quando começou o hardcore tinham umas ótimas bandas de hardcore brasileira, como o Olho Seco, e também a cena de speed metal, principalmente por conta do Sepultura, que era a melhor banda do mundo naquela época. Quando morei em Boston, eu assinava TV a cabo e pegava a MTV Latina e eu via muita coisa da América Latina e adorava muita coisa. A versão latina do programa 120 Minutes, que era o programa de rock alternativo, sempre mostrava umas bandas indies latinas, tinha muita coisa legal.

Você vai sair por aqui pra comprar discos?
Não (ri). Sou um pai de família, não posso sair comprando discos o tempo todo.

E como é a primeira vez do Sebadoh por aqui vocês vão preparar alguma coisa diferente?
Eu não sei. Nós tocamos músicas novas mas sempre tocamos músicas velhas… Mas o melhor é tocar em um lugar onde nunca tocamos. É sempre incrível. Mesmo porque você não precisa se preocupar em tocar de outro jeito diferente da outra vez (ri).

Radiola Urbana em 1973

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Karina Buhr tocando o primeiro disco dos Secos & Molhados, Cidadão instigado relendo a íntegra do Dark Side of The Moon do Pink Floyd, Céu visitando Catch a Fire do Bob Marley & The Wailers e Fred Zeroquatro apresentando a clássica estréia em disco de Nelson Cavaquinho. É um pequeno festival dos sonhos, mas não é tão sonho assim, pois irá acontecer: a nova encarnação do projeto 72 Rotações, realizado no ano passado pelos compadres do Radiola Urbana, ganha uma versão 2013 e mais uma vez o palco do Sesc Santana recebe nomes da nova música brasileira reinterpretando clássicos com 40 anos de idade, no final de setembro. Os shows do evento 73 Rotações acontecem entre os dias 26 a 29 do mês que vem, sempre às 21h (à exceção do último show, no domingo, às 18h), e conversei com os compadres Ramiro Zwetsch e com o Filipe Luna, capitães tanto do Radiola Urbana quanto do festival, sobre o evento que já pode ser considerado histórico. A entrevista segue abaixo:

 

James Gleick: “Somos processadores de informação”

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E nesta edição da Galileu bati um papo com um dos maiores autores de livros de não-ficção da atualidade. Biógrafo de Richard Feynman e de Isaac Newton, James Gleick finalmente tem seu A Informação – de 2011 – lançado no Brasil. Editei textos dele nos meus tempos de editor do Link (um sobre memes e outro sobre o Google), por isso foi uma satisfação dupla conversar com ele. A íntegra do papo segue abaixo:

Bit a bit
Autor de importantes livros sobre ciência mostra que tudo – eu, você e o universo – é formado por informação

A bibliografia do jornalista e escritor norte-americano James Gleick já contava com obras de fôlego, como seu primeiro livro Caos — A Criação de uma Nova Ciência (1987), sobre a teoria do caos, e as biografias que escreveu sobre mestres da física como Richard Feynman (Feynman — A Natureza do Gênio, de 1992) e Isaac Newton (Isaac Newton — Uma Biografia, de 2003). Mas com A Informação — Uma História, Uma Teoria, Uma Enxurrada (Cia das Letras, R$ 59,90), lançado em 2011 e que só agora chega ao Brasil pela Companhia das Letras, o escritor dá um salto ainda maior em abrangência ao explicar que a base do Universo é o bit de informação. “Somos processadores de informação”, crava o escritor, em entrevista por telefone. • Alexandre Matias

Quando você notou que o tema “informação” daria um livro?
Ao pesquisar para fazer meu primeiro livro, Caos, descobri esta ciência chamada Teoria da Informação, criada por Claude Shannon, sem chamá-la assim, em 1948. Lembro ter visto seu livro A Teoria Matemática da Comunicação, que nunca saiu de catálogo, ainda naquela época, mas não me aprofundei. Os anos se passaram e vimos as drásticas mudanças que ocorreram. E, a partir daquela descoberta, sempre soube que sob todas aquelas mudanças havia uma ciência não muito conhecida chamada Teoria da Informação. Havia uma conexão entre uma área da ciência tão obscura e a extremamente dramática e óbvia revolução da informação pela qual estamos passando. Foi quando percebi que poderia organizar isso tudo em um livro. Queria contar apenas a história toda, desde o começo.

Uma tarefa tão ambiciosa quanto megalomaníaca.
Sim, uma tarefa impossível, como se fosse contar a história do mundo. Mas sempre achei que houvesse um tema, que daria coerência ou que funcionasse como um fio da meada para esta história tão complicada.

O subtítulo do livro dá a entender que ele pode ser encarado como três livros.
Sempre soube que este meu livro se chamaria apenas A Informação, só no final do processo é que o subtítulo apareceu. Não havia percebido que estava trabalhando num livro de três partes e essas três partes — a história, a teoria e a enxurrada — vêm todas ao mesmo tempo. E, sim, há três livros em um só volume, embora a divisão não seja clara.

Na parte histórica, um dos grandes méritos do livro é o reconhecimento de figuras que foram esquecidas pela história.
Duas delas, Charles Babbage e Ada Lovelace, surgiram na Inglaterra vitoriana. Algo peculiar sobre sua importância é que, por muito tempo, eles foram esquecidos. Babbage foi bem conhecido em seu próprio tempo, na Inglaterra. Mas logo depois ele sumiu da consciência das pessoas. Se você perguntasse para alguém, nos anos 1930, por exemplo, quem era Charles Babbage, acho que ninguém teria ouvido falar dele, mesmo em seu país. Com Ada Lovelace era pior, você teria de ser um estudioso sério de poesia inglesa para saber que Lord Byron teve uma filha e mesmo assim era pouco provável que alguém soubesse que ela era matemática.
Os dois foram redescobertos em nossa época por cientistas da computação — e mesmo hoje não dá para saber quem foi o responsável por desenterrar seu trabalho de bibliotecas e perceber que o que estava sendo feito nos anos 1950 na área de computação havia sido imaginado anteriormente, com muito detalhe e criatividade, por Babbage e Lovelace. E isso é muito excitante. Estas idéias nunca deixaram a consciência mundial, mesmo que a grande máquina de calcular idealizada por Babbage tenha sido um fracasso. Tentei entender suas motivações e acho que ele tentava estabelecer uma conexão entre o mundo abstrato dos números e o mundo físico das máquinas. Só isso já era algo emocionante: máquinas podem manipular não apenas tecidos e metais, mas também coisas de natureza mental. É uma ideia muito poderosa que nos fez viver no mundo que vivemos hoje. E é aí que a Ada torna-se uma figura tão importante nessa história, pois enquanto Babbage só pensava em termos de números, ela entendeu melhor do que ele que a informação é algo mais geral — se uma máquina pode manipular números, pode fazê-la manipular palavras e linguagens também.

O livro também cita exemplos de que não é a primeira vez que nos sentimos inundados por informação – você cita que, quando livros deixaram de ser novidade e aos poucos viraram um mercado, muitos diziam que era impossível ler tanto e que isso emburreceria a civilização. Mas ao mesmo tempo, estamos vivendo uma época única em respeito à velocidade e ao volume de informação.
Tentei escrever justamente para que parecesse contraditório. Por um lado, sentimos que nosso tempo não parece com nenhum outro que veio anteriormente. Afinal, no mundo em que vivemos hoje, todos estão conectados eletronicamente por todo o planeta, de forma instantânea, na velocidade da luz, e que podemos ver imagens do que está acontecendo exatamente agora no sudeste da Ásia – sem contar o fato de estarmos tendo esta conversa, mesmo a milhas de distância. Ao mesmo tempo, todos nós podemos ter acesso a todo o conhecimento do mundo ao acionar um aparelho de nossos bolsos. Tudo isso é genuinamente novo e nós só podemos supor o que poderá acontecer com a espécie humana a partir disso.
E o que torna esta afirmação contraditória é que as pessoas sempre sentiram isso, por várias vezes, em toda a história. E toda nova tecnologia da informação trouxe junto um coro de reclamações, medo e ansiedade que é muito parecida com a que vivemos hoje. E à medida em que fui escrevendo o livro, sabia que ele iria terminar na enxurrada de informações a que somos submetidos hoje, afogados em informação.
Mas sabia que iria repetir as previsões loucas do século 17 quando, depois da criação da impressora de tipos móveis, as pessoas temiam por uma terrível enxurrada de livros, que seria tão drástica que faria a humanidade retornar à barbárie, pois não haveria forma de acompanhar tanto conhecimento que, de repente, começava a ser impresso.
A forma que se fala que a internet irá aniquilar o tempo e o espaço é parecida com a forma como o telégrafo foi recebido ao ser criado. E realmente há conexões entre todas estas tecnologias de informação – não é só uma coincidência.
Isso tudo me levou a três considerações. Primeiro, já vimos isso acontecer e é importante termos isso em mente. Segundo, que é realmente diferente desta vez. E terceiro que não dá para imaginar como as pessoas daqui a 50 anos verão a época em que vivemos agora. Acho que isso é impossível de imaginar.

A compreensão da natureza da informação vai para além da área das comunicações e explica, inclusive, nossa biologia.
Com certeza. Pensar o mundo em termos de informação abriu nossos olhos e nos ajudou a entender o que somos como criaturas biológicas. Não há dúvida sobre isso: somos processadores de informação. Nosso sistema nervoso é responsável por mandar mensagens por todo o nosso corpo – e não apenas o sistema nervoso, que é um sistema de fios elétricos, mas também nossos hormônios e outros sinais químicos que são foram percebidos por muitos biólogos como sendo apenas informação. Isso só foi possível entender depois que o telégrafo foi inventado, ele funcionou como uma metáfora para nosso próprio funcionamento.
Mesmo num nível genético, somos feitos de informação. Quando falamos do código genético, isso não é uma metáfora, é literal. O DNA é um código, um alfabeto formado por quatro letras que codifica informações sobre como criar um novo organismo. Até os biólogos entenderem isso seria impossível para eles descobrirem, ou melhor, criarem a linguagem genética.
A grande revolução genética aconteceu nos anos 1950 e 1960, e não ocorreu apenas pela evolução da química ou pela criação de grandes microscópios eletrônicos, que nos permitiu ver a famosa hélice dupla, e sim o entendimento dos processos que estão na base de nossa biologia.

E você acha que em algum momento podemos nos fundir com as máquinas que criamos? O Google Glass, por exemplo, seria o próximo passo rumo à tal singularidade?
Fala-se muito sobre singularidade e acho que boa parte do que é dito é meio bobo, mas de certa forma esta singularidade já aconteceu. Eu não acho que iremos nos fundir como um só organismo com os Borgs (uma entidade coletiva do universo de Jornada nas Estrelas), mas acredito que já podemos nos ver como já somos criaturas mais complexas quando levamos em conta as máquinas e a tecnologia que ampliam nossas habilidades humanas. E é claro que o Google Glass é um dispositivo protético, da mesma forma que o celular que carregamos no bolso também é. Se você parar para pensar, até a escrita é uma tecnologia inventada para ampliar nossas capacidades mentais, como os muitos dispositivos que agregamos ao nosso corpo. Nós já somos híbridos e estamos felizes em nos conectar com o mundo eletrônico.

Dá para ser otimista imaginando este futuro?
Eu tendo a ser otimista pessoalmente, mas não posso defender isso. É mais uma questão de humor. Claro que há muitas coisas que nós precisamos temer e nos preocupar, não acho que seja saudável achar que tudo será ótimo e que a tecnologia irá resolver todos nossos problemas. Não acredito nisso, temos que estar alerta e temos o direito de termos medo e nos preocupar com o fato de estarmos cada vez mais distraídos, sobre perder a habilidade de nos concentrar, devemos nos vigiar se estivermos fazendo muitas coisas ao mesmo tempo e nos esquecermos de prestar atenção naquilo que é próximo da gente, no mundo físico. Mas acho que se fizermos isso, se formos cuidadosos, os desafios que teremos a seguir não serão tão diferentes dos desafios que vimos antes. Portanto, sim, sou um otimista.

E você pode antecipar qual é o assunto de seu próximo livro?
Eu só posso dizer brevemente que comecei a escrever um livro sobre viagens no tempo. Sobre a história da viagem no tempo. Acho que levarei alguns anos para concluí-lo.

Agora sim, o papo com Richard Swarbrick

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O papo com o animador Richard Swarbrick, que iria acontecer no domingo, foi remarcado para esta terça, às 19h, no Itaú Cultural. Quem vai?

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Mais uma atração do Festival Cultura na Rede, realizado dias 29 e 30 de junho, acontece nesta terça-feira, dia 2 de julho, às 19h, no térreo do Itaú Cultural.

O ilustrador e videoartista inglês Richard Swarbrick promove um ciclo com alguns dos seus curtas-metragens sobre futebol. Ao final da mostra, o público poderá participar de um bate-papo com Swarbrick, mediado pelo jornalista Alexandre Matias.

O Festival Cultura na Rede – encontro sobre literatura e futebol, mostra de curtas-metragens, show e performance que abordam a relação entre o esporte e a cultura – está alinhado com o encontro internacional Cultura na Rede, que aconteceu no Museu de Arte do Rio (MAR), nos dias 27 e 28 de junho, no Rio de Janeiro, em parceria com a Fundação Roberto Marinho.

Festival Cultura na Rede – Richard Swarbrick
terça 2 de julho de 2013
às 19h
Piso Térreo

Mais informações no site do Itaú Cultural.

Um papo com Richard Swarbrick

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Já já às 15h converso com o animador e cinegrafista Richard Swarbrick, dentro da programação do festival Cultura na Rede, no Itaú Cultural, ali na Paulista. Saca só:

Updeite: Rolou um problema e o papo foi transferido pra terça, no mesmo lugar, às 19h.

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/CICLO DE FILMES E BATE-PAPO
Domingo – 15h00
Sala Itaú Cultural – 219 lugares

Ciclo de filmes sobre futebol criados pelo ilustrador e videoartista inglês Richard Swarbrick (richardswarbrick.com). Na sequência haverá um bate-papo com o artista, mediado por Alexandre Matias.

Mais informações no site do Itaú Cultural.