Conversei com o filósofo digital Jaron Lanier, que está lançando no Brasil um livro cujo título é auto-explicativo: Dez Argumentos para Você Deletar Agora Suas Redes Sociais, que está sendo lançado no Brasil pela Editora Intrínseca – a entrevista saiu no site da editora. Um trecho:
Realmente acho que não devemos entrar em pânico ou ficar desesperados, especialmente agora. Estamos entrando em uma era em que o mundo será comandado por esses caras mal-humorados e paranoicos e ela pode durar muito tempo; talvez seja uma época em que não tenhamos democracia. E a única coisa que podemos fazer de verdade por ora é tentar nos preparar para a próxima época, quando as coisas talvez melhorem. Esse é um projeto meu. É o que estamos tentando fazer aqui nos Estados Unidos e vocês precisam fazer no Brasil e os europeus na Europa. Todos temos que tentar atravessar este período e não podemos perder a fé nem nossa imaginação para encontrar o caminho para a nova era.
Leia a íntegra da entrevista aqui.
Depois de anos de negociações, finalmente o Lucio conseguiu trazer o Wilco para seu Popload Festival, que este ano acontece dia 8 de outubro e conta com outras duas atrações confirmadas, a banda Battles e a cantora Ava Rocha (mais informações aqui). É a segunda vez que a banda de Jeff Tweedy vem ao Brasil – a primeira foi em 2005, num showzaço durante o Tim Festival, que só aconteceu no Rio de Janeiro. A vinda para São Paulo finalmente encerra uma novela que já foi parar até no Sesc e consagra o festival do jornalista como uma das principais atrações anuais em São Paulo. Aproveitei a deixa para conversar com ele sobre o festival (que vai ter mais atrações, anunciadas em breve) – como é o local, que outras atrações ele pretende trazer esse ano, o preço dos ingressos e quem é o novo santo graal do Popload Festival.
Há quanto tempo você vem negociando a vinda do Wilco?
Para essa vinda específica há muitos anos. Diria que há uns cinco, seis anos, pra virar agora. Toda vez era mantida uma conversa, esperando a banda divulgar os planos dela para ver se encaixávamos uma vinda para a América do Sul, sempre com um receio de um produtor maior ou festival grande levar. Mas nosso contato com eles foi anual, de uns anos para cá. Segundo minha sócia, a Paola Wescher, que fica à frente das negociações infindáveis, ela sonha em trazer o Wilco há 12 anos. O Wilco é a banda favorita da vida dela. Não é a minha, mas curto demais.
Por que o Wilco? A banda nunca teve um hype maior do que algumas bandas que você já trouxe nem tem uma audiência tão grande no Brasil. Explica por que o Wilco pra quem não conhece o Wilco.
“Hype”… Quando a gente trouxe o Tame Impala pela primeira vez não tinha hype. Nem Metronomy, nem Friendly Fires. Wilco é uma dessas bandas naturais que a gente sempre sonhou trazer, porque a gente procura trazer o que a gente gosta, o que a gente acha ter a ver com nosso mundo, uma banda que eu acho já ter visto umas seis vezes na vida e minha sócia um outro tanto. A gente adora Battles e está trazendo e o hype deles é zero. Iggy Pop é mais um “velho punk” cheio de história do que um artista que quem está atrás de hype poderia imaginar ver num Popload Gig ou Festival.
A aproximação com o Wilco se explica sozinha. Eu adorava Uncle Tupelo, a banda do Jeff Tweedy antes do Wilco, mas era mais impressionado com o Jay Farrar do que com o Tweedy. Uncle Tupelo era o “rock alternativo” gostoso e melódico, mais próximo de REM e bem mais country, uma “alternativa” à ferocidade do Nirvana e do grunge, que era o “alternativo” deixando de ser “alternativo”. A brincadeira com o termo “alternativo” é proposital. Quando o Farrar saiu e formou o Son Volt e o Tweedy o Wilco, eu achei que ia gostar mais, seguir mais, o Son Volt. Mas o Tweedy assumiu a porra toda e foi me provando o contrário. Não teve um só show do Wilco dos muitos que eu vi que eu tenha achado médio. Nem o confuso show no Rio de Janeiro, no Tim Festival. E sempre achávamos que São Paulo merecia ver o Wilco aqui.
É um festival que você já anunciou três bandas. Quantas outras atrações terão? Acontecerá em apenas um dia? Quando você anunciará os novos nomes?
O número certo ainda não está fechado. É uma matemática mutante que envolve dinheiro e oportunidades. E mais quatro meses para correr atrás das coisas. Obviamente já temos algumas bandas em contato, estamos vendo se conseguimos mais grana para investir em mais, tem a resposta dos ingressos. Se tudo der certo, anunciaremos mais duas bandas. Estamos trabalhando nisso ainda.
Sobre o lugar, o que dá pra esperar do Urban Stage? A maioria do público do Wilco e do Popload não conhece o local, presumo.
Por não conhecer o local, ele já vira um atrativo a mais, uma nova experiência. É um espaço grande e moldável que tentaremos deixar com nossa cara. A gente sempre gastou muito em estrutura, até em lugares “prontos” como o Audio. Não será diferente com o Urban Stage. É um lugar na Zona Norte, no outro lado da Marginal, pertinho de metrô, bom acesso de carro, perto de shopping, vários estacionamentos, hoteis. O ir e vir ali é fácil. E é um lugar quase que espartano. Cabe à gente deixá-lo bonito e confortável. Mas isso acho que a gente fez bem nas edições passadas do Popload Festival, espero que consigamos fazer neste ano também.
E, é inevitável, claro, falar sobre o preço: por que o ingresso custa tão caro?
Não é difícil entender. E sempre tem a ver com a famigerada “planilha de custo”. Bandas caras + estrutura cara + uma iniciativa diferente de não se preocupar em fazer um festival pra mais de 30 mil pessoas, e sim para 6, 8 mil. Você joga esses preços numa planilha besta de excel, mais os 500 outros custos, e voilà. Teve gente no Facebook que questionou isso de um modo bem tosco e eu respondi quaaaase ironicamente. Mas é a real e é ilustrativo, então vou copiar e colar aqui, se você me permite, para não ficar falando de modo diferente a mesma coisa. .
“Nossa ideia era fazer um ingresso de um só tipo, custando R$ 1. Mas daí o Wilco não topou não receber seu cachê pleno. Nenhuma das outras bandas topou, aliás. A gente insistiu, mostramos a situação da economia brasileira, que tá foda, falamos do golpe e tudo. Não rolou. As companhias aéreas não toparam fazer as passagens de graça, os hotéis bons não liberaram os quartos para a gente botar os caras todos de graça, escrevemos para o Temer e ele não liberou os impostos absurdos que pagamos para erguer um evento assim, os advogados que contratamos para cuidar dos vistos de entrada dos gringos – é uma trabalheira e você não tem ideia quanto custa… – já disseram que querem receber os deles, a galera do transporte de instrumentos não arreda pé para carregar tudo na faixa, mesmo para um festival tão bacana com bandas tão legais. O Urban Stage não cedeu de graça todo o seu espaço e a estrutura e o cenário que montaremos vai nos tirar vários dinheiros. Por fim, entre umas 60, 70 pessoas que trabalham direta ou indieretamente – indie-retamente? – para o Popload Festival, que acaba gerando um bom número de empregos e movimentando essa nossa economia quase falida, não aceitaram trabalhar meses de graça para você conseguir assistir ao festival tão legal e caprichado por R$ 1… Ou R$ 10… Ou R$ 100.”
Nem vou falar o que a meia-entrada, do jeito como ela é, e o que causa aos produtores de eventos do Brasil-il-il. Nem dos amigos e quase-amigos mais todas as “personalidades” e os 25 mil jornalistas que querem cortesia e nem pensam em botar a mão no bolso para ajudar um evento desses a continuar de pé, trazendo bandas para cá, para o nosso mundinho.
Daí que, levando tudo isso em consideração, metemos as contas todas numa planilha de custos. E saem aqueles preços dos ingressos que divulgamos. E aí pensamos: “Nessas condições, fazemos ou não o festival, os shows todos, os eventos? Ainda estamos na fase de fazer, de acreditar na gente, na galera que curte o que a gente curte, de contribuir de alguma forma para agitar a cena da cidade onde vivemos. Ainda que a chance de se ferrar financeiramente, estruturalmente e mentalmente seja muuuuuuito grande”. E, por mais um ano, resolvemos fazer. E tamos aí, segurando as broncas, inclusive para o tipo de comentário e “análises” de Facebook diversas de “entendedores de economia”.
Muita gente acha o preço do ingresso alto para um festival que tem o patrocínio da Heineken. Mas o maravilhoso dinheiro da Heineken só serve para atenuar parte das contas. A gente samba em várias outras frentes para montar um evento do jeito que a gente se propõe a fazer, com a experiência que a gente acha que tem que criar, com o preço mais “justo” (ou seja, menor) possível para botá-lo de pé. É uma variante sem fim de contas e estratégias.
Até a história da famosa área vip, que eu acho em si um princípio besta, mas que serve para cobrar mais de quem pode mais, para aliviar a conta para quem pode menos. Estamos fazendo uso dela pela primeira vez, é um incômodo, mas fazer o quê se ela serve para deixar o ingresso comum mais barato… Ela ocupará metade da “linha de frente” do palco. Poderia ocupar inteira, toda a frente, e com isso baixaríamos o ticket comum. Mas aí já seria demais. De novo, e sempre, é a tal da matemática.
Além do festival, você ainda anunciou dois Popload Gigs seguidos (Air e Courtney Barnett com Magnetic Zeros) com apenas uma semana de diferença. Vem mais show ainda no segundo semestre?
A ideia é ter mais alguma coisa sim. Temos muitas conversas e, agora, pouco dinheiro para arriscar o pescoço. Mas quando oportunidades aparecerem e a gente se debruça na planilha e vê o que rola. “Hey boys… hey girls…”
E shows nacionais? Você não vai começar a explorar esse mercado com mais força – tanto fazendo artistas que você aposta circular no Brasil quanto levar artistas brasileiros pro exterior?
Nunca tivemos tempo/espaço/chance para pensar seriamente nessas coisas. Pode ser que uma hora aconteça.
Como você se refere ao trabalho que você faz, misturando jornalismo com curadoria e produção? O quanto o jornalismo está mudando nesse início de século? O que você acha do jornalismo cultural brasileiro?
Generalizar jornalismo cultural é muito difícil, mas não gosto muito do que vejo e leio. Acho opinativo demais e bem sacado de menos. É muito tipo “eu acho” do que traz histórias boas e perspectivas diferentes. Jornalismo cultural, seja em jornal, revista e blogs, tá um grande facebook.
Não sei mais como me refiro a meu trabalho e o que sou. Ando tendo que virar várias chavinhas no meu dia a dia. Mas seja com a Popload, escrevendo para a Folha e editando a Harper’s Bazaar, jornalismo é o terreno que eu mais me sinto “verdadeiro”, digamos.
E depois do Wilco, qual o próximo santo graal da Popload?
A volta do Oasis no Popload Festival.
O pessoal da editora Intrínseca me pediu para entrevistar o autor Terry Hayes, cujo primeiro livro, Eu Sou o Peregrino, está sendo lançado no Brasil, e pedi o livro para me familiarizar com a pauta. Quando menos percebi, estava engolindo as quase 700 páginas de uma saga que mistura conspiração política, paranoia apocalíptica, religião, ciência, arte e espionagem sem nem conseguir dormir direito. Abaixo, a conversa que tive com o autor.
Adrenalina em escala global
Eu sou o Peregrino é um épico impressionantemente detalhista e dinâmico sobre política internacional, o mundo da espionagem e terrorismo — e é o primeiro livro do roteirista Terry Hayes, que escreveu os primeiros filmes da série Mad Max entre outros de sucesso
“Escrever um filme é como nadar em uma banheira e escrever um romance é como nadar no oceano.” A diferença de escala entre os dois formatos, uma citação de John Irving presente no início dos agradecimentos de Eu sou o Peregrino, não é apenas o principal diferencial do romance de estreia do roteirista de cinema Terry Hayes em relação aos seus trabalhos anteriores. Conhecido por escrever o roteiro do segundo e terceiro filmes da série Mad Max, nos anos 1980, Hayes escreveu bons thrillers na virada do milênio (como O Troco, com Mel Gibson, Limite Vertical, com Chris O’Donell, e Do Inferno, com Johnny Depp). Mas nenhum desses filmes se compara ao calhamaço que inaugura sua bibliografia.
A ameaça das quase 700 páginas do livro, no entanto, começa a se desfazer logo que começamos a leitura. Hayes puxa o primeiro fio da meada com um assassinato num hotel barato em Nova York, que traça conexões no Oriente Médio, nos Balcãs, em um banco suíço, em Paris, em Veneza, na Turquia e no Afeganistão, numa espiral de acontecimentos inesperados ao redor de dois personagens densos definidos por seus codinomes, Sarraceno e Peregrino. A narrativa da história é ao mesmo tempo detalhista e deliciosa e as páginas são viradas numa compulsão que desafia o leitor não apenas pela complexidade da trama, que mistura política internacional, espionagem, técnicas de tortura, biotecnologia, história da arte, internet e o 11 de Setembro, mas também pela profundidade de seus protagonistas, agentes perfeitos que não deixam rastros, tão motivados quanto determinados — além de extremamente complexos —, colocados um contra o outro em uma conspiração de escala planetária.
“Acho que o público em geral está em busca de experiências mais intensas e mais amplas”, me explicou o autor em entrevista por e-mail. “As prateleiras das livrarias estão cheias de thrillers e de romances policiais. Os cinemas também viviam cheios disso. Mas agora as pessoas já tiveram essas experiências tantas vezes que estão em busca por algo diferente — talvez uma experiência que de alguma forma seja mais abrangente. Percebi que tinha que fazer algo diferente de outros livros em um mercado que é muito disputado — eu tinha que ir rumo a uma experiência mais épica.” Também conversamos sobre a adaptação do livro para o cinema, suas influências narrativas e o que ele achou do novo Mad Max.
Quanto você teve de estudar para entrar nas mentes dos dois personagens principais?
Bem, você precisa acreditar nos personagens. Você não pode considerar que só existem mocinhos e vilões. Se fosse óbvio dessa forma, por que se importar em ler um livro? Você tem de misturar — como na vida, suponho. Steven Spielberg, que sabe umas coisinhas sobre como contar histórias, diz que não existem personagens maus — só pessoas com más intenções. Entendo que ele queira dizer que não existe ninguém que acorde de manhã e decida ser mau — são suas experiências e objetivos que os guiam, passo a passo, rumo a um caminho que leva às más consequências. Eu certamente criei meu chamado vilão dessa maneira. De forma similar, o herói também faz coisas assustadoras. Acho que isso os transforma em personagens mais interessantes e levanta uma série de questões morais interessantes.
Eu fico impressionado — e muito agradecido — que tantos resenhistas ao redor do mundo tenham dito que, de alguma forma, simpatizaram com o vilão. Mesmo que ele tenha um plano horrível para colocar em ação. Esse elogio me prova que eu criei um personagem com motivações convincentes e que eu pelo trilhei um caminho no sentido de criar um ser humano real e não um vilão de papel. As histórias estão repletas desse tipo de personagem e acho que não precisávamos de mais um deles.
Por isso, se você trabalha desse ponto de partida — que ambos os personagens principais devem ser escritos de forma bem positiva —, você apenas prossegue cada vez mais fundo e tenta garantir que tudo que eles façam seja lógico. Para os dois, você tem que continuar dizendo: “E se fosse comigo, o que eu faria?”. O único problema é que isso parece mais fácil de fazer do que acaba sendo quando você está sentado na frente da tela vazia do computador.
Você conhece pessoalmente os lugares e tem noção dos procedimentos descritos com tantos detalhes no livro?
Conheço muito dos lugares mencionados no livro porque tive a sorte de viver em muitos países diferentes e viajei para um número ainda maior deles. Há passagens num banco privado em Genebra que, como morei na Suíça por anos, tirei da minha experiência pessoal. O mesmo pode ser dito de Santorini, Paris, Londres e por aí vai. Fui correspondente internacional em Nova York e em Washington, então compreendo bem como funcionam o governo norte-americano e suas agências de inteligência. Escrevi muitas matérias sobre grupos de inteligência e conversei com vários dos seus integrantes de alto escalão, por isso eu sei onde como buscar informações e o tipo de detalhes que não são necessariamente conhecidos de todos.
Quais foram suas principais influências narrativas — tanto filmes quanto livros — para este romance?
Gosto de boas histórias, com uma linguagem clara e precisa. Você precisa de personagens com motivações convincentes e ter algo correndo risco que faça com que o público se importe. Por isso, naturalmente, amo os filmes da chamada Era de Ouro de Hollywood. Casablanca, Uma Aventura na África, Núpcias de Escândalo e vários outros que foram adaptados de livros muito bons. Isso continua até os anos 1970 e até mesmo depois, filmes como A Ponte do Rio Kwai, O Poderoso Chefão, A Primeira Noite de um Homem. São muitos! Infelizmente, os filmes dependem menos de livros bem escritos e mais de histórias em quadrinhos hoje em dia e por isso é difícil encontrar narrativas fortes que não dependam apenas de explosões e eventos que desafiam as regras da física. No que diz respeito à literatura, eu tive a sorte de, ainda criança, ler bastante e de ter um pai que me encorajava a ler o melhor que o mundo podia me oferecer. Por isso fui de Hemingway e F. Scott Fitzgerald para Herman Hesse, Cervantes e, claro, a Bíblia. Afinal, se há uma coleção melhor de ótimas histórias, eu ainda tenho que encontrá-la. Talvez As Mil e Uma Noites. Deixando as conexões religiosas do Novo Testamento de lado, a história de Jesus ainda é a melhor história de herói já contada. Melhor que a de Luke Skywalker, que pegou muita coisa emprestada dali.
Eu sou o Peregrino será adaptado para o cinema? Quando você escrevia pensava no livro como um filme?
Ele está se transformando em um filme enquanto conversamos — então essa é uma resposta fácil. Será um bom filme? Isso é uma resposta mais difícil de dar, afinal, não há muitos deles hoje em dia, não? Mas eu tenho a esperança de que será, sim! Acho que quando estava escrevendo pensei nisso porque costumo pensar em cenas e momentos impactantes. Escrevi filmes por tanto tempo que agora meio que está no meio DNA. Óbvio que escrever um romance é algo bem diferente, mas foi um ponto de partida — bem útil, na minha opinião.
Como autor da história de dois dos três primeiros filmes da franquia Mad Max, o que você achou do quarto filme da série, lançado no ano passado?
Eu gosto muito do novo, Mad Max: Estrada da Fúria. Uma das coisas que eu mais gosto dele é que George Miller —um amigo muito querido — não apenas reciclou os velhos; ele o levou para um rumo novo e ainda mais empolgante. É claro que é um tour de force de direção e ele mereceu, de verdade, a indicação para o Oscar. Na minha opinião imparcial, ele devia ter ganhado. Parte do problema com continuações é que as pessoas ficam muito tentadas a apenas duplicar o que consideram que foram os elementos bem-sucedidos. Não é o caso de George, ele ainda está lá explorando os próprios limites e a si mesmo. Ele não é mais jovem, por isso é incrível ver um cineasta e roteirista querendo fazer isso.
E o que você está fazendo atualmente? Trabalhando em algum filme ou em seu segundo romance?
Finalizei o roteiro para Eu sou o Peregrino, que vai ser produzido pela MGM, e agora estou trabalhando em como vou lidar com a realização do filme. E estou escrevendo também outro romance, The Year of the Locust [ainda sem título em português, será publicado pela Intrínseca], que é uma espécie de cruzamento entre O Exterminador do Futuro, O Planeta dos Macacos e um thriller de espionagem. Eu sei, parece maluco, e provavelmente é mesmo, mas eu realmente gosto dele e acho que será uma história arrebatadora, então já é um bom começo! Não há nada pior, imagino, do que tentar escrever sobre algo que você não gosta. Espero que os leitores compartilhem esse meu entusiasmo!
O velho compadre Chico Dub, mais um ex-OEsquema desgarrado no mundo, consolida firmemente o Novas Frequências como um dos principais festivais de música do Brasil – e não apenas de “música avançada”, como sugere seu tênue e subjetivo rótulo. O evento chega à quinta edição nadando contra a corrente – fazer um festival que música não-pop em pleno Rio de Janeiro – e misturando-se cada vez mais à mutante paisagem carioca, que vive uma década riquíssima como toda a música brasileira. E é apenas reflexo do trabalho do próprio Chico, que cada vez mais se firma como uma das sumidades brasileiras neste segmento. Conversei com ele sobre o evento, cuja quinta edição começa esta semana.
Mais uma edição do Novas Frequências: qual a expectativa para essa edição?
Bem alta! Conseguimos driblar a crise e criar uma programação com mais desdobramentos que a do ano passado. Inclusive, o número de artistas aumentou. Passou de 33 para 42. Em relação ao line-up, nomes como Mika Vainio, The Bug, Tyondai Braxton, Dawn of Midi, Phill Niblock e King Midas Sound são presença constante nos melhores festivais de música avançada do mundo.
Ao mesmo tempo, temos praticamente outro festival rolando dentro do Novas este ano. De 1 a 8 de dezembro, ou seja, durante toda a duração do Novas Frequências, vamos ocupar o galpão/atelier do Tunga com uma exposição de fotografias a cargo do Fabio Ghivelder que foram comissionadas para a criação da nossa identidade visual de 2015. Em paralelo, o Tunga estreia uma instalação sonora participativa chamada Delivered in Voices em que ao todo vai receber 14 artistas para uma série de intervenções.
Sei que isso é como pedir para um pai escolher um dos filhos, mas qual ou quais as atrações que você está mais feliz em trazer para essa edição?
É difícil escolher mesmo! Não vou falar dos nomes mais óbvios para poder destacar alguém como Phill Niblock, um artista ícone, incrivelmente importante, mas que pouca gente conhece aqui no Brasil. Lenda da vanguarda nova-iorquina, contemporâneo de toda aquela turma – Young, Glass, Reich, Riley -, amigo do povo do Fluxus, dos happenings… Ele compõe drones microtonais a partir do processamento de instrumentos acústicos. São blocos pesados de som que se movimentam em câmera – muito – lenta e que desafiam a noção de espaço-tempo. É cineasta também e faz filmes experimentais belíssimos como o Brazil 84, que inclusive iremos passar no festival.
Em termos de formato o que mudou no festival? Você se preocupa em inovar inclusive nisso?
Mantivemos a “massa base”, mas incrementamos o forrmato com diversos temperos e especiarias. Quero dizer que, como no ano passado, permanece o formato descentralizado – são ao todo 7 espaços da cidade, cada um recebendo um tipo diferente de programação. Em paralelo, também mantivemos a pegada de mostrar a música e o som no maior número de desdobramentos possíveis. O palco hoje não basta para a gente, sabe? Queremos, sim, o palco – vários!-, mas também o cinema, a galeria, a pista de dança, salas para discussões e oficinas, infra para conseguir realizar residências artísticas e desta forma realizar experiências inéditas e por aí vai. Quanto mais desdobramentos, maior a ampliação das escutas. As novidades portanto dizem respeito a novos espaços dentro do festival e também a novos desdobramentos: hacklab/cinema/exposição/instalação sonora. Pensar no formato é tão importante quanto pensar no line-up! Super importante inovar, inclusive. Experimental na curadoria; experimental no formato. Tem que ser assim. Só pode ser assim.
Nos últimos anos a cena de vanguarda do Rio de Janeiro está cada vez mais forte e produtiva. Como você observa esta cena como conterrâneo e idealizador do NF?
Na verdade, não é que eu observe a cena. Eu atuo nela. Eu vivo dela. Todo o meu trabalho está voltado para a vanguarda, o experimentalismo e as novas tendências. Então se a cena cresce, eu cresço, o Novas Frequências cresce…. Porque tudo faz parte do mesmo ecossistema, entende? As características podem até ser diferentes entre, por exemplo, NF, Quintavant e Wobble, mas tenho certeza que os objetivos são os mesmos. Precisamos aprender a trabalhar em rede.
De qualquer forma, só vamos crescer MESMO, no dia que conseguirmos mais espaço na mídia. Jornais impressos revistas mensais são fundamentais, claro. Mas precisamos criar nossos próprios veículos: mais estações de rádios, mais publicações, mais, mais, mais…
E no resto do Brasil, como anda a produção de música avançada no resto do país?
Muito bem, obrigado! Um reflexo disso está inclusive na programação do Novas Frequências, onde a cada ano cresce a participação de artistas brasileiros. Aliás, nunca tivemos tantos como em 2015: é a primeira vez que o número de brasileiros é superior ao de estrangeiros. Eu criei a série de coletâneas online e gratuitas Hy Brazil em 2013 para dar uma mapeada nessa cena. Já foram lançados 9 volumes – 126 faixas de 126 produtores diferentes – e quando uma publicação do porte da britânica The Wire me pede para compilar um “Especial Brasil” para uma de suas edições mensais – a de novembro de 2015 -, é sinal de que também há interesse internacional naquilo que estamos fazendo.
A ficção científica e a cultura negra parecem dois movimentos paralelos, mas em diversos momentos estas duas vertentes se encontraram gerando algumas das obras mais inspiradoras e malucaças do último século. É possível traçar um inusitado paralelo entre a história da cultura africana e contos futuristas e viagens siderais, visto que o aprisionamento e sequestro de populações inteiras na África para o trabalho escravo no continente americano abre paralelos bem realistas com as abduções extraterrestre e o existencialismo robô. Estas conexões foram celebradas por autores tão diferentes quanto Lee Perry, George Clinton e Sun Ra, que exploram possibilidades narrativas inéditas que, olhadas em perspectivam, ganham o nome de afrofuturismo, vertente temática que explora a fusão entre estes dois universos que já existe há pelo menos vinte anos e que agora ganha uma mostra dedicada ao tema no Brasil, que encerra sua programação neste dia 2 de dezembro. Conversei com a Kênia Freitas, jornalista, professora e pesquisadora de comunicação capixaba que atualmente reside em Brasília e é curadora da Mostra Afrofuturismo, sobre o tema (ela também apontou 10 pontos de partida para quem quiser se enveredar no tema neste post).
Explique o conceito de afrofuturismo e seus desdobramentos na cultura atual.
Afrofuturismo é um movimento estético, político e crítico plural e multifacetado, tendo como ponto em comum uma narrativa especulativa, alternativa e fantástica para as experiências das populações negras – de todo o mundo – no passado, no presente e no futuro. As obras são influenciadas por elementos da ficção especulativa – ou seja, da ficção científica, do hiperrealismo, da fantasia, das diversas mitologias de origem africana.
O Afrofuturismo na cultura atual é fundamental por reivindicar para os negros e negras a narrativa das suas histórias. É um processo que começa pela imaginação de novos futuros, mas que contamina as narrativas do presente e do passado. Pois a partir do momento que é possível assumir a autonomia dos discursos do futuro, é possível travar as lutas do presente – do planejamento e contestação desse futuro. É algo que passa pela arte, pelo lúdico, pela fantasia – o que desloca a luta para outros campos. E, ao mesmo tempo, as questões mais importantes para os afrodescendentes perpassam essas narrativas de forma cortante. Para ficarmos em um exemplo apenas nos filmes dessa mostra: a questão da violência policial e estatal contra os negros é o mote de filmes brasileiros (Branco Sai, Preto Fica e Rapsódia para um Homem Negro), ingleses (Bem-vindo ao Terrordome e Robôs de Brixton) e norte-americanos (Drylongso). Esses filmes vão tratar essa questão a partir de estratégias e tipos de ficção especulativa variados, mas todos estão plenamente dentro de um dos problemas mais vitais para as populações negras dos grandes centros.
Fale sobre a Mostra – como ela começou, de onde veio a ideia, como começou o seu contato com o tema, quem mais está envolvido.
A ideia da mostra surgiu em 2013, quando ouvi falar do termo pela primeira vez. Lembro que estava ouvindo um podcast que fazia uma discussão sobre música eletrônica – mais especificamente, sobre como o techno de Detroit misturava elementos da cidade, como um parque industrial decadente – quase um cenário sci-fi, pós-apocalíptico -, com a criação de uma música que apontava para um futuro distópico ou extra-terreno para a população da metrópole. O programa também falava de como o techno nasce totalmente enraizado na cultura negra, tanto na África, quanto nos EUA e como essa influência ficou esquecida em alguns aspectos da música eletrônica depois.
A partir daí veio uma grande curiosidade sobre o Afrofuturismo. Pesquisando o tema, surgiu a ideia de buscar filmes que falassem dos artistas afrofuturistas ou que tivessem uma construção ancorada nessa estética. Essa ideia de partir de presentes em que os negros encontram-se em condições de pobreza, discriminação e violência estatal para imaginar futuros distópicos, fantásticos e subversivos foi o que me encantou no tema, pois é uma confluência muito potente entre arte e política. E foi a partir dela que pensamos a escolha dos filmes.
O projeto foi construído em parceria com a Thalita Oliveira que é coordenadora geral da Mostra e foi realizada pela Provisório Permanente Produções, com um patrocínio do edital de ocupação da Caixa Cultural. No processo, sobretudo durante a realização, muita gente chegou junto. O debate teve a presença da Egrégora Afrofuturista – que é um coletivo afrofuturista latino-americano- e do Coletivo Sistema Negro, aqui de SP. É muito interessante ver como o tema estava sendo pesquisado e discutido por pessoas e coletivos diversos e como de alguma forma o evento catalisou alguns desses encontros.
Quais os desafios da edição realizada este ano?
Talvez o mais complicado tenho sido apresentar um tema pouco conhecido no Brasil. Embora um grupo muito maior de pessoas do que a gente imaginava conhecessem o tema, o Afrofuturismo ainda é um movimento pouco conhecido no Brasil.
E um outro desafio foi o de juntar os coletivos e pessoas que já estavam pensando no assunto. E nesse aspecto acredito que a realização da mostra e sobretudo do debate no dia 28 de novembro tenho sido muito importante. E o desafio que fica é o de continuar e espalhar o debate.
Como você continua a discussão a partir da Mostra? Há grupos de discussão para interessados?
A princípio vamos manter a página no Facebook e o site ativos. Eles acabaram sendo um ponto inicial de conversa e concentraram as muitas pessoas interessadas no tema. A partir desses espaços – além ou através- outros grupos devem se consolidar. Um outro espaço de discussão do qual continuarei participando é o da Egrégora Afrofuturista. A expectativa é que se realize um encontro aberto a todos e todas no início do ano que vem.
Que outras manifestações de Afrofuturismo são realizadas no Brasil?
Aqui a gente corre sempre o risco de ser um pouco injusto e deixar de citar realizações bacanas, porém pouco conhecidas por serem independentes. De certa forma, negras e negros que estejam produzindo música, literatura, cinema, quadrinhos, artes visuais e plásticas que pensem as suas experiências a partir desse viés da ficção especulativa estão fazendo manifestações afrofuturistas. Acho que um trabalho daqui para frente é tentar mapear e juntar essas manifestações em encontros, exposições, livros, etc. Espero que surjam vários eventos e projetos nesses sentido.
Quando será o próximo evento?
Ainda não temos previsão, mas esperamos que a Mostra de filmes possa ser realizada em outras cidades além de São Paulo. Para o ano que vem, estamos vendo a viabilidade de levar os filmes para o Rio de Janeiro, Vitória e Salvador.
A cantora baiana-pernambucana Karina Buhr acentua a tensão de suas composições ao transformar seu terceiro disco, Selvática, em uma imersão ao rock mais duro, mas sem perder a sensibilidade nordestina, o balanço do reggae e a intensidade do teatro, algumas de suas principais matrizes estéticas. E o discurso do álbum é ainda mais pesado que sua sonoridade, sem espaço para meio-termos.
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Nunca se produziu tanto, nunca tantos artistas brasileiros lançaram tantos discos bons em tão pouco tempo mas ao mesmo tempo nunca se discutiu tão pouco sobre música. A overdose de informação e a concorrência por atenção apenas trata discos como notícias e mesmo com a amplitude da internet, estes discos não são tratados como obras importantes na carreira do artista e sim como mero gancho para notícias.
A partir desta constatação, o jornalista Alexandre Matias, do site Trabalho Sujo, junto com o Espaço Cult, propõe um encontro com artistas para discutir especificamente sua obra neste ano. São quatro encontros que acontecem em novembro com autores de quatro dos discos mais importantes no Brasil em 2015: Fortaleza do grupo Cidadão Instigado, De Baile Solto de Siba, Sobre Sobre Crianças, Quadris, Pesadelos e Lições de Casa de Emicida e Selvática de Karina Buhr. Nos encontros, eles falarão do processo de criação e composição de seus discos, incluindo uma audição comentada faixa a faixa dos discos que lançaram este ano.
Os cursos acontecem durante o mês de novembro e fazem parte das comemorações dos 20 anos do site Trabalho Sujo.
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O curso sobre rap brasileiro dos anos 90 e cultura black dos anos 70 foi transferido para esta segunda e agora é gratuito – e para se inscrever basta seguir este link (e colocar o código “unibescultural” na parte do preço) ou mandar seu nome para o email inscricao@unibescultural.org.br até às 19h desta segunda, dia 30.
Em plena ascensão, Emicida embarcou em uma viagem de autoconhecimento para dois países africanos para estudar suas raízes, se inspirar e olhar a história do Brasil sob outra perspectiva. O resultado foi seu segundo disco, Sobre Crianças, Quadris, Pesadelos e Lições de Casa, uma ampla discussão sobre cores e valores em âmbitos políticos e sentimentais.
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Todo o Disco – Trabalho Sujo 20 anos
Nunca se produziu tanto, nunca tantos artistas brasileiros lançaram tantos discos bons em tão pouco tempo mas ao mesmo tempo nunca se discutiu tão pouco sobre música. A overdose de informação e a concorrência por atenção apenas trata discos como notícias e mesmo com a amplitude da internet, estes discos não são tratados como obras importantes na carreira do artista e sim como mero gancho para notícias.
A partir desta constatação, o jornalista Alexandre Matias, do site Trabalho Sujo, junto com o Espaço Cult, propõe um encontro com artistas para discutir especificamente sua obra neste ano. São quatro encontros que acontecem em novembro com autores de quatro dos discos mais importantes no Brasil em 2015: Fortaleza do grupo Cidadão Instigado, De Baile Solto de Siba, Sobre Sobre Crianças, Quadris, Pesadelos e Lições de Casa de Emicida e Selvática de Karina Buhr. Nos encontros, eles falarão do processo de criação e composição de seus discos, incluindo uma audição comentada faixa a faixa dos discos que lançaram este ano.
Os cursos acontecem durante o mês de novembro e fazem parte das comemorações dos 20 anos do site Trabalho Sujo.
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O Pin Ups é um marco zero para uma geração inteira de bandas no Brasil e escolheu 2015 para encerrar oficialmente sua carreira com um último na choperia do Sesc Pompéia, neste sábado, 14 de novembro. A banda marcou a transição entre o rock brasileiro dos anos 80 – e especificamente a geração pós-punk paulistana, que lançava disco pela Wop Bop e Baratos Afins – e a geração Juntatribo, e durante este hiato foi a pioneira de uma safra de bandas brasileiras que cantavam em inglês que formariam a base do que ainda nos referimos, até hoje, como indie brasileiro. Atrás deles vieram Killing Chainsaw, Mickey Junkies, Second Come, Cigarrettes, PELVs, entre outros, que ajudaram a forjar a primeira fase de estruturação de um mercado independente no Brasil. A banda parou de gravar há quinze anos e tem feito shows tão esporadicamente que preferiu pendurar as guitarras num show com participações especiais e sem a presença do primeiro vocalista, Luiz Gustavo. Conversei com o Zé Antonio, que também foi diretor do mítico Lado B na fase áurea da MTV brasileira, sobre este desfecho e a influência da banda.
Por que terminar a banda? Qual foi o estalo que fez vocês pensarem num fim?
O Pin Ups não tem tocado com muita regularidade nos últimos anos, mas nunca havíamos declarado o fim. Neste ano até chegamos a pensar se voltaríamos ou não, muitas bandas da nossa geração estão voltando à ativa, ha dois documentários sobre aquela época que estão sendo finalizados e um livro, Rcknrll, do Yury Hermuche, terá uma capítulo inteiro dedicado à nossa história. Mas depois de muita reflexão achamos que só valeria a pena voltar se tivéssemos condições de nos dedicar integralmente à banda e isso não é possível.
Pensamos então que deveríamos fazer um show de despedida e agradecimento por toda esta lembrança e também para poder tocarpelo menos uma vez para pessoas das novas gerações que nunca nos viram ao vivo. Fechamos com o Sesc Pompeia onde fomos muito bem recebidos e temos a certeza de que encontraremos as condições necessárias pra fazer um bom show. E pra tornar tudo mais especial teremos alguns convidados especialíssimos, que fizeram parte da nossa história de alguma maneira: Adriano Cintra, Rodrigo Carneiro, do Mickey Junkies, Rodrigo Gozo do Killing Chainsaw, e o Mario Bross, do Wry. Vai ser uma festa boa.
Antes desse último show qual foram as últimas coisas que vocês fizeram?
Nosso último disco é o Bruce Lee, de 2000. Os últimos shows foram no Sesc Belenzinho e na Virada Cultural há mais ou menos uns três anos. A formação mais recente, e a que mais durou na história da banda, é quase a mesma que vai se apresentar no show do sábado, Eu, a Alê e o Flávio. Só a Eliane não participa porque está morando em Londres.
Dá para comparar a época em que vocês começaram com os dias de hoje?
Dá sim, hoje é bem melhor! Acho que a principal diferença é que naquela época não havia tantas possibilidades. Ninguém esperava nada de uma banda alternativa a não ser tocar e se divertir. Os lugares, na maioria das vezes, tinham uma estrutura sofrível, a divulgação era na raça com flyers e fanzines e a internet não existia e a comunicação era muito mais demorada. Tocar fora de sua cidade era um privilégio, fora do país impossível.
Hoje eu vejo que as novas bandas tem muito mais possibilidades e fico feliz com isso. Existem uns saudosistas que acham que hoje é tudo muito mais fácil, mas eu discordo. Se por um lado a divulgação é mais rápida, os instrumentos mais baratos, etc, também existe uma cobrança maior em relação à qualidade e profissionalismo. Não que isso não existisse em nossa época, mas hoje o alcance das bandas é muito maior.
Fala sobre o começo dos Pin Ups – como a banda nasceu, quais foram as referências originais, os trabalhos anteriores…?
Eu já havia tocado em algumas bandas mas nunca acontecia nada. Um dia eu estava em uma loja de discos, a extinta Bossa Nova, com o Luiz quando vi um anúncio de duas garotas querendo formar uma banda. Elas citavam várias bandas que eu gostava como referência e resolvi ligar pra elas. Marcamos um ensaio e como não tinha baterista o Luiz se ofereceu pra fazer algo tipo Velvet. Depois de duas tentativas vimos que não ia rolar nada. O Luiz lamentou dizendo que iria rolar um lançamento da revista Monga no (Madame) Satã e que podíamos tocar, já que ele era um dos desenhistas da revista. O Satã na época era um lugar muito bacana pra ser desprezado. Fiz uns riffs, uma linha de baixo que o Luiz decorou em uma semana e ele fez umas letras com colagens de frases da NME. Chamamos um baterista e um amigo pra cantar e lá fomos nós, tocar antes do Ratos de Porão. No final foi bom, algumas pessoas vieram falar com a gente e aí nasceu a banda… O resto é história! As referências naquela época eram principalmente Jesus and Mary Chain, Stooges, MC5 e Velvet Underground. Gostávamos de barulho.
Time Wil Burn é um dos marcos do que hoje chamamos de indie brasileiro, conta a história desse disco.
A história é que quando começamos a tocar, por algum motivo chamamos a atenção de algumas pessoas, entre elas o Thomas Pappon, que na época era diretor artístico da Stilletto, um selo que acabava de estrear no Brasil. Ele mostrou nossas demos ao Lawrence Brennan, um produtor inglês que era o dono do selo, ele se animou e resolveu lançar nosso disco. Mas a verdade é que gravamos umas poucas músicas, a maioria do que se ouve no disco são demos gravadas em um (gravador) Tascan de quatro canais, por isso o som é tão sujo. Éramos muito ingênuos em relação a estúdios de gravação, mas posso dizer que fizemos tudo aquilo com vontade.
O Pin Ups iniciou uma época em que as bandas começaram a cantar em inglês – até como uma forma de protesto. Como vocês encaravam isso na época? Quando que vocês acham que essa tendência mudou?
Pois é… na verdade nunca pensamos nas letras em inglês como forma de protesto, era mais uma questão de sonoridade. Mas sofremos com isso, pois o BRock ainda era forte e os produtores e as rádios só queriam quem cantasse em português. Um produtor famoso chegou a dizer que nos contrataria se mudássemos de idéia, mas nós recusamos. Eu não sei se consigo precisar em qual momento essa coisa do inglês surgiu, mas acho que de certa forma isso foi natural. Nossa geração veio logo depois daquela cena de bandas como Fellini, Akira S, Voluntários da pátria, etc, que era formada por jornalistas e intelectuais que escreviam muito bem, faziam boas letras e tinham muito mais a dizer do que nós, um bando de moleques influenciados por My Bloody Valentine e Jesus and Mary Chain cujos vocais eram sempre enterrados sob uma parede de som. A voz era só um instrumento, nossa voz era o barulho.
Quem são os filhotes diretos e indiretos do Pin Ups na cena hoje?
Olha, alguns músicos nos citam como influência, mas eu não saberia te responder isso de forma precisa. Vejo bandas que eu gosto como o Biggs, Twin Pines, Single Parents, Zefirina, etc, que tem uma atitude parecida com a nossa mas dizer que são nossos filhotes talvez seja muita pretensão. Os filhotes diretos na maioria nem existem mais, como o Lava, da Ale e Eliane, o Butcher’s Orchestra do Marquinhos, etc.
Se vocês estivessem começando uma banda hoje, o que iriam fazer?
Iria aproveitar todas as oportunidades. Hoje uma banda alternativa pode tocar em um grande festival,aqui e no exterior, disponibilizar suas músicas para o mundo todo,comprar bons instrumentos, etc. E hoje o cenário é muito mais colaborativo, as bandas se ajudam e isso é lindo. Com tudo isso os desafios são bem maiores e as apostas também. Nós sempre gostamos de desafios, então acho que a gente poderia se dar bem.
O Luiz não foi convidado para o show?
Convido o Luiz há anos pra fazermos músicas, mas nos últimos tempos ele sempre recusa por questões pessoais. Não insisti por uma questão de respeito, mas obviamente ele faz parte da nossa história e é sempre bem vindo. O Luiz – não consigo chamar ele de Luigi – é uma figura divertida, querido por todos nós da banda.
Há alguma novidade para o show? Alguma música que vocês não tocavam há muito tempo?
Tem uma música do primeiro álbum que nunca tocamos, Sonic Butterflies, que será apresentada com um arranjo um pouco diferente. Para esse show resolvemos fazer um setlist com músicas de todos os discos, então tem algumas como Loneliness, que não tocávamos há muito tempo. Está sendo interessante retomar tudo isso.
Pretendem lançar algo para fechar esse ciclo?
No início do ano que vem será lançado o documentário Guitar Days, do Caio Augusto, e ele pediu às bandas que cedessem uma faixa inédita. Vamos gravar uma música para esta trilha sonora ainda este ano, mas essa será nossa última música. Nada de disco.
Quem quer ouvir Pin Ups hoje encontra o que onde? Tem algo nos aplicativos de streaming? Videos no YouTube? Os vinis e os CDs já são raridades?
Estamos conversando com o Rodrigo Lariú, da Midsummer Madness, que está nos ajudando a colocar as músicas em várias plataformas digitais. Isso deve acontecer em breve. Por enquanto o único jeito é procurar os discos no YouTube ou em blogs musicais. Vários deles disponibilizaram nossos álbuns para download, e achei isso demais, pois permitiu que muita gente nova ouvisse os nossos discos. Nossa discografia é difícil de achar mesmo… Os vinis são bem raros. O primeiro, Time Will Burn, nem eu tenho. O Gash, nosso segundo álbum, sumiu mas sei que a Locomotiva Discos tem cópias novas, que eles acharam em algum estoque ou algo do gênero.
E se o show rolar superbem corre o risco de ter uma turnê de despedida?
Olha, em princípio esse é mesmo o último show da banda, mas já recebemos convites para shows em outras capitais e até para um festival. Em São Paulo certamente será o último. Não pretendemos tocar em outros lugares, mas sei lá… como diz a velha música…
Em mais uma atividade de comemoração dos 20 anos do Trabalho Sujo, inaguro mais um curso no Espaço Cult, desta vez dedicado à crítica e análise musical. Se O Ecossistema da Música no Século 21 detalha as engrenagens de um mercado em mutação, o projeto Todo o Disco põe seu foco em um dos principais pontos deste mercado: a obra musical. E em uma série de quatro encontro convido autores de alguns dos melhores discos de 2015 para dissecá-los – o Cidadão Instigado fala sobre seu disco Fortaleza, Siba detalha o seu De Baile Solto, Emicida conta mais sobre o seu Sobre Crianças, Quadris, Pesadelos e Lições de Casa e Karina Buhr fala sobre seu Selvática. Vamos falar menos sobre história, influências, mercado e vida pessoal do artista e focar nos diferentes aspectos de um álbum: ordem das faixas, produção, capa, título, músicos, processo de composição e gravação, além de ouvir o disco ao lado de cada um destes artistas.
As inscrições podem ser feitas no site do Espaço Cult – e dá para assistir tanto o curso inteiro como algumas aulas isoladamente. Segue a ementa do curso:
Nunca se produziu tanto, nunca tantos artistas brasileiros lançaram tantos discos bons em tão pouco tempo mas ao mesmo tempo nunca se discutiu tão pouco sobre música. A overdose de informação e a concorrência por atenção apenas trata discos como notícias e mesmo com a amplitude da internet, estes discos não são tratados como obras importantes na carreira do artista e sim como mero gancho para notícias.
A partir desta constatação, o jornalista Alexandre Matias, do site Trabalho Sujo, junto com o Espaço Cult, propõe um encontro com artistas para discutir especificamente sua obra neste ano. São quatro encontros que acontecem em novembro com autores de quatro dos discos mais importantes no Brasil em 2015: Fortaleza do grupo Cidadão Instigado, De Baile Solto de Siba, Sobre Sobre Crianças, Quadris, Pesadelos e Lições de Casa de Emicida e Selvática de Karina Buhr. Nos encontros, eles falarão do processo de criação e composição de seus discos, incluindo uma audição comentada faixa a faixa dos discos que lançaram este ano.
Os cursos acontecem durante o mês de novembro e fazem parte das comemorações dos 20 anos do site Trabalho Sujo.
AULAS:
Cidadão Instigado fala sobre Fortaleza
DATA: 12/11/2015
HORÁRIO: das 20h às 22hSiba fala sobre De Baile Solto.
DATA: 17/11/2015
HORÁRIO: das 20h às 22hEmicida fala sobre Sobre Crianças, Quadris, Pesadelos e Lições de Casa
DATA: 24/11/2015
HORÁRIO: das 20h às 22hKarina Buhr fala sobre Selvática
DATA: 02/12/2015
HORÁRIO: das 20h às 22h