No Social Media Week

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Já já às 17h30 medio um debate na Social Media Week sobre narrativas fragmentadas nas redes sociais, com a participação do Alexandre Maron e do Eduardo Fraga, lá no MIS. Quem vai?

O fim de Lost por Alexandre Maron

E acabou, acabou e acabou. Esperei passar no AXN para comentar. Afinal, era safadeza falar da série que só quem baixou viu (se bem que provavelmente mais gente viu por download do que pelo AXN, mas tudo bem).

Então, deixo a minha interpretação final, que vai caber em uma ou duas linhas: Lost é uma poderosa alegoria sobre os perigos de confiar cegamente em deuses e líderes. Religião, patriotismo, o que você quiser. São formas imperfeitas (e muitas vezes desonestas) de controle. Lost ilustra isso muito bem.

Jacob, o semi-deus que deu as cartas por séculos na Ilha, não passa de um filho meio bocó que, numa briga com o irmão, acabou o transformando num monstro. Ele manipulou pessoas durante muito tempo. Pessoas que viam nele uma ligação com o poder, com o divino, com um objetivo maior. Se Jacob não tivesse criado um monstro, tudo teria sido diferente. Tudo. Jacob mal sabia o que estava protegendo. Só sabia que era importante proteger a luz da Ilha.

Jack. Locke. Dois homens que inspiravam as pessoas ao seu redor. Gente que confiava neles para guiar suas vidas. No processo, eles invariavelmente, levaram várias pessoas à morte. Jack por não acreditar, tomou várias decisões absurdas. Locke, porque acreditava mais do que devia. Os dois, nos extremos, estavam errados.

Ben Linus seguiu a liderança equivocada de Jacob e virou um líder cheio de erros. Widmore passou décadas cometendo todo tipo de erros e causando a desgraça na vida de várias pessoas.

Um monte de líderes cegos. Gente que inspirava pessoas que os seguiam. E que as levava na direção errada. Direto para abismos. E um monte de seguidores sem noção, que acabavam morrendo das formas mais estúpidas. E morrendo, no fim, por pouco, quando não era por nada.

Sinceramente, depois de ver como Jack, Locke, Jacob, Fumacinha Preta e mesmo Widmore não precisavam ter morrido. Eles apenas, por conta de seguir idéias ou líderes equivocados, se deixaram morrer. Olhe bem pros seus líderes e sempre se pergunte se aquela pessoa está dizendo a verdade e, mais importante, indo na direção certa.

* Maron publicou este texto em seu blog.

Lost por Alexandre Maron

A gente fica falando e falando sobre o quanto Lost é relevante, revolucionário, multiplataforma, transmedia, enigmatico e tudo mais. Mas o que importa, o que sempre fez toda a diferença do mundo, é que Lost é bom demais. Simples assim.

Agora, jogar adjetivos ao vento é simplificar demais. Por que “bom demais”? Poucas vezes eu vi um equlíbrio tão preciso entre história (o episódio da semana e a grande trama que serve de pano de fundo) e caracterização (as personalidades complexas dos personagens que movem a história). Os escritores se deram a chance de explorar sem pressa cada item que julgavam importante para a história que queriam contar. Convenhamos que isso não é comum para um programa exibido na TV aberta Americana, a mais impiedosa do mundo quanto ao resultado de sua programação.

Durante essa jornada, a trama inicialmente nebulosa foi tomando forma e os segredos sendo revelados. Os escritores habilmente manobraram as expectativas das tribos de fãs oferecendo, lá e cá, fé e ciência, mas quem ia vendo sua teoria de estimação descartada, muitas vezes se desinteressava pelo programa. Era o choque dos homens de fé (as teses místicas) e os de ciência (os ratos do sci-fi). Quem achava que eles estavam mortos, ou que eles eram avatares, ou que habitavam um limbo espiritual, ou ou ou…

Nessa jornada, aprendemos a jogar de uma maneira nova. Muita gente nunca se tocou que um romance de mistério, um “whodunit” clássico, é um jogo entre o leitor e o escritor. Estão brincando uma mistura de Esconde-esconde e, sei lá o nome daquela brincadeira de “tá quente-tá frio”. Lost trouxe isso pro terreno da multimedia-multiplataforma e explodiu as cabeças de uma geração que achava que só havia um jeito de acompanhar uma trama. Quando alguém tenta explicar o que é esse negócio de narrativa transmedia, Lost é o exemplo perfeito, o estudo de caso. Pense nisso: uma geração de espectadores do mundo todo aprendendo a jogar com sua série. Uau.

Mas chamar uma audiência de milhões de pessoas para… jogar? Era óbvio que a coisa ia filtrar seu público. Sobramos nós, que ouvimos o chamado de Darlton (o nome ridículo dado à entidade formada por DAmon Lindelof e CARLTON Cuse) materializado no refrão da música “Make Your Own Kind Of Music”, cantada por Mama Cass Elliot, tocada na primeira cena do primeiro episódio do segundo ano:

“You gotta make your own kind of music
Sing your own special song
Make your own kind music
Even if nobody else sings along”

Esperamos semanas entre episódios que entregavam uma gota de informação, meses entre temporadas. Minha mulher, irritada com as doses homeopáticas de informação no segundo ano da série, cunhou a frase: “é muito pouco pela minha fidelidade” (Hummm, penso sempre nessa frase em outros contextos e fico bem espertinho, sabe. Mais uma informação importante que Darlton me deu).

E, caramba, como somos globais, somos muitos. Dezenas de milhões em todo o mundo. Gente que aprendeu a fazer downloads e catar legendas, operar gravadores digitais, ressuscitar videocassetes, ficou de olho na tela do AXN, acompanhou a exibição diária na Globo no início do ano ou esperou pelos lançamentos anuais das caixas de DVDs. Tudo para saber o que estava por trás daquele fatídico acidente do vôo 815 da Oceanic Airlines. Ou da escotilha, ou o que acontecia na outra ilha, ou porque os Oceanic Six tinham que voltar ou agora: o que diabos é aquela luz no coração da Ilha? Agora queremos saber como vai ser nossa vida depois de, bem, do fim.

Somos talvez menos do que quando Lost podia ser qualquer coisa, naqueles primeiros e nebulosos dias. Mas agora estamos em todo lugar, conectados por um programa revolucionário, genial e que, na essência, pode ser definido, depois de tantos rodeios, como smplesmente bom demais.

* Alexandre Maron é do tempo em que se orgulhar de ser nerd era motivo de vergonha.

De portas fechadas

Maron me cutucou ontem no Gtalk, pasmo, para dizer que a Virgin de Londres tinha sido fechada. Assim, do nada. Ele foi dar uma passada e, quando menos esperou, a loja havia fechado as portas. E não foi só ela, não – além da loja de Piccadilly Circus, outras 21 lojas da empresa, que mudou seu nome para Zavvi, fecharão as portas na Inglaterra. E não é só: até abril, a Virgin da Times Square, em Nova York, também venderá seus últimos discos para fechar logo em seguida. Desculpa é o que não falta: de problemas adminstrativos internos à inevitabilidade digital no consumo de entretenimento, passando pela sempre conveniente crise no mercado financeiro – qualquer coisa pode justificar o simples fato de que o fim das lojas de discos como conhecemos já está em curso.

Mesmo porque não vai ser só a Virgin…

300 Filmes

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Chegou nas bancas no finde passado (primeiro Rio e SP, depois o resto do Brasil) o guia 300 Filmes para Ver Antes de Morrer, mais um frila com a chancela de qualidade Trabalho Sujo. E não só a minha: o livro foi editado ao lado do Maron e tem textinhos de bambas como Fred Leal, Vladimir Cunha, Dafne Sampaio e Arnaldo Branco. Aqui tem uma pagininha não-oficial com alguns exemplos de páginas e dando uma geral no livrinho que, custando 20 pilas, é, fácil, o melhor guia de filmes publicado em bancas de jornal no Brasil.