Um Portishead na trilha de Ex-Machina

ex-machina-poster

Mais um ponto a favor do filme Ex-Machina,, a estreia do escritor e roteirista Alex Garland na direção, é a presença da dupla Geoff Barrow e Ben Salisbury na trilha sonora. Barrow, do Portishead, é velho comparsa do compositor Salisbury e juntos fizeram a ótima trilha sonora para o filme inexistente Drokk, ambientado no universo scifi britânico que John Wagner e Carlos Ezquerra inventaram para o Juiz Dredd. Agora eles voltam para os climões pesados e sombrios sob outra ótica: a da inteligência artificial. Dá pra ouvir a trilha inteira aí embaixo:

Ex-Machina: “Você não deveria confiar em nada do que ele diz”

ex-machina

Mais um trailer de Ex-Machina, a estréia de Alex Garland (o autor de A Praia, que também roteirizou os filmes Extermínio e Sunshine, do Danny Boyle):

Mais um filme que questiona nosso envolvimento emocional com as máquinas que nos cercam. O que vai acontecer o dia em que a internet que cada um de nós acessa diariamente tiver um rosto?

Ex-Machina: “Um dia eles vão olhar para nós do mesmo jeito que olhamos para os fósseis”

exmachina

Um teste de Turing ou um caso de amor? Ex-Machina é a estréia de Alex Garland na direção – e embora o trailer o identifique como autor dos roteiros de Extermínio e Sunshine – Alerta Solar, não custa lembrar que ele foi para o cinema graças a Danny Boyle (diretor destes dois filmes), que o chamou para adaptar para o cinema seu primeiro romance, o denso A Praia. Atrás das câmeras pela primeira vez em Ex-Machina, que estréia no ano que vem, Alex Garland também é o autor dessa história que parece o Her de Spike Jonze com uma pitada de Blade Runner. Afinal, quem é o robô?

Romance: Em “Coma”, Alex Garland mistura delírio e realidade

Na Folha de hoje

Romance: Em “Coma”, Alex Garland mistura delírio e realidade

Do mesmo jeito que com uma ruptura violenta em um paraíso terrestre Alex Garland atingiu seu grande momento literário, ao amarrar seu novo protagonista em si mesmo, o autor inglês parece caminhar para um beco sem saída. Felizmente, não é artístico. Ao deixar os conflitos exteriores de seus dois primeiros livros fora do horizonte, Garland e o pai, Nicholas, embarcam numa viagem sem volta em “Coma”, que acaba de sair no Brasil.

A história é simples e o tema é quase clichê: Carl sai tarde do trabalho e toma uma surra ao se meter numa tentativa de assalto. Acorda em coma. A partir daí, imagina alternar momentos de consciência e vazios de razão e a discussão reverte-se nas diferenças entre sono e despertar, fatos e lembranças, vida e morte.

Garland opta por uma estética enxuta, deixando maneirismos filosóficos e intelectuais de lado para discutir sobre a existência, a natureza da consciência e os limites entre ser e não ser usando exemplos corriqueiros, como a lembrança dos pais, um perfume conhecido, uma loja de livros, uma música antiga (no caso, “Good Golly Miss Molly”, de Little Richard). Contado em capítulos curtos, por vezes mínimos, o ritmo do livro choca-se diretamente com o não-ritmo de um coma, o não-movimento contínuo.

Pontuando os capítulos estão 40 xilogravuras feitas pelo pai de Alex, o ilustrador Nicholas Garland, do jornal Daily Telegraph. Escuras, elas são enormes janelas de tinta preta que apontam para o nada e tentam, como Carl, emoldurar alucinações e sonhos para apegar-se à alguma realidade – e saber se o coma, afinal, terminou. A morbidez sóbria das ilustrações, que distorce minimamente o caminho não-linear percorrido, tem um parentesco improvável com os quadrinhos negros do brasileiro Lourenço Mutarelli, este cada vez mais sóbrio e menos mórbido.

Diferente de seu livro de estréia do autor, o aclamado best-seller “A Praia”, “Coma” mergulha num abismo em que até as emoções tornam-se incertas e os olhos nunca parecem estar abertos. Garland, que se envolveu com o mesmo trio dos filmes “Trainspotting” e “Cova Rasa” (o diretor Danny Boyle, o roteirista John Hodge e o produtor Andrew McDonald) na adaptação de seu primeiro livro para as telas, em 2000, pegou gosto pelo cinema e colaborou na adaptação de seu segundo livro, “O Teressacto” (dirigido pelo cineasta de Hong Kong Oxide Pang Chun, em 2003), além de criar uma história original para o filme seguinte de Boyle, “Extermínio”, de 2002.

“Coma”, com suas extraordinárias imagens simples, prova-se uma adaptação um pouco mais difícil, com o risco de perder-se momentos cruciais da leitura, como o vento no parapeito de um prédio, a sensação de transparência, um cômodo “sentido” em vez de visto, o mergulho no vazio, a perda da razão. Percorrer estas passagens dão ao curto livro um ritmo tenso e familiar, que torna possível deschavar o livro em menos de uma hora num sofá de megastore – e esquecer, por completo, tudo ao redor.

No entanto, é na modalidade clássica da atividade leitora (sozinho, de noite, em casa, um abajur) que “Coma” mostra-se forte. Num mundo hiperlinkado, de comunicadores móveis e exibicionismo histérico, o objeto livro pede que seu usuário entre em seu coma pessoal e desconecte-se do dito “real” para mergulhar em si mesmo.

***
“Coma”
Autor: Alex Garland
Editora: Rocco
160 páginas
Preço: R$ 24,00