Um pouco da importância do mestre carioca Aldir Blanc pode ser absorvida através do ótimo documentário Aldir Blanc: Dois Pra Lá, Dois Pra Cá, dirigido em 2013 por Alexandre Ribeiro de Carvalho, André Sampaio e José Roberto de Morais, que está disponível online. Nele, o boêmio carioca lembra da infância e da adolescência na zona norte do Rio de Janeiro, suas parcerias (João Bosco e Guinga falam sobre este que consideram seu principal parceiro musical), seu envolvimento com o Movimento Artístico Universitário e seu papel na luta pelos direitos autorais, além de ver como Aldir era bom contador de histórias e querido por onde passava.
Dica do Aliche, o diretor do festival In-Edit Brasil.
Com a morte de Aldir Blanc, o Sesc resgatou a íntegra do show que seu maior parceiro, o mineiro João Bosco, fez no fim do mês passado, dia 25 de abril, a partir de sua casa, uma vez que já estávamos em quarentena. Ele aproveita para pedir forças para o velho compadre, já internado por conta do coronavírus, que acabou por levá-lo. João Bosco e seu violão não precisa de muito mais, certo? E ele ainda canta Tincoãs…
Com a morte de Aldir Blanc, perdemos um mago que também era uma estrela, um autor que também era um personagem, um ser de carne e osso sobrenatural. A música brasileira fica um tanto muda e nossa cultura um tanto sem palavras, mas, como ele mesmo dizia: “Mas sei que uma dor assim pungente não há de ser inutilmente…” Obrigado, seu Aldir.
O sambista paulista Douglas Germano antecipa o lançamento de seu próximo álbum, Escumalha, mostrando a parceria com o antológico letrista carioca Aldir Blanc, “Valhacouto”, uma faca no pescoço desta nova ordem de merda que assola o país. Abre o caminho, Douglas!
https://www.youtube.com/watch?v=gJLJ6XMpduE&feature=youtu.be
“Valhacouto”
(Douglas Germano / Aldir Blanc)
Foi na Alemanha
que a escumalha
fez armas virarem leis
Em vales de lama
onde a canalha
roubava vidas sem talvez
É um valhacouto:
sangue e mentiras
vitória da insensatez
Crianças matando
imitando tiras…
Vale da morte, estupidez
Chacais arrancando na marra valor
de gente que nem trabalhou…
Escroques, laranjas, fantasmas, vilões
um horror
A eterna irmandade do mal
a bandalha metralha revezando a vez
Se é duro prender um bandido
imaginem três, seis, MIL!
Quero danças sobre as ruínas
dos reinos da escuridão
Riam, riam, o circo começou a lamber
Eu quero beber pelas esquinas
reza, rimas
Mas vou precisar de vocês!
Foi na Alemanha
que a escumalha
fez armas virarem leis
Entraram na guerra
pensando em mil anos
– a arrogância durou seis…