Alan Moore sobre Robert Anton Wilson: “Questione tudo: este é o melhor conselho”

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Um dos grandes escritores do século 20 – e um de seus pensadores mais provocadores -, Robert Anton Wilson morreu em 2007, deixando na Terra um legado que unia as teorias conspiratórias mais excêntricas à natureza criativa do ser humano, celebrando a paranóia como inspiração ao recuperar tradições esquecida para apontar prováveis futuros, mas sem colher os méritos literários de outros gigantes do livro que lidam com temas parecidos, como Thomas Pynchon e Don DeLillo. Alan Moore, um de seus pupilos mais famosos e filho direto do cinismo paranóico pós-Trilogia Illuminati (a grande obra de RAW), celebrou a importância do autor em um evento em março de 2007, no Queen Elizabeth Hall, em Londres:

O vídeo é uma dica do José (valeu!) e a transcrição em inglês eu encontrei no site Decondicionamento.org, que também traz a tradução do texto para o espanhol. Se alguém quiser traduzir pro português, é só colar nos comentários que eu publico aqui:

“It’s not in Magick’s nature to let anybody go. So let’s do with Time not being what it’s seems – something about the Gesternheutemorgenswelt – things happening all at once, the way they do in dreams.

And somewhere it’s still 1932 – it’s Brooklyn – sepia dust… depression streets… neutrons distilling, Lovecraft still alive – fat Irish cops abandoning their beats and breaking into a spontaneous ballet, with night sticks twirling, dancing on the stoops as though through Joyce’s Dublin, on one timeless day.

They gather round the New York natal Crib of Mrs. Wilson’s pride and joy, to stand with newsboys, gangsters — dig each other in the ribs, all tearful and red faced, sing “Danny Boy”.

The nuns of Flatbush, glaring and unkissed, line up to smack their rulers on his wrists, promoting Sister Kinney’s Polio cure, and all of this could be in the imagination of a squirrel, furiously circling a tree — all of these people, moments and events could be no more than thoughts, suspended simultaneously within the snow-globed consciousness of Luna Wilson, dreaming in the ice…

To question everything – that’s still your only man, your best advice.

And somewhere, Orson Welles’ voice is leaking from old radios – The Shadow knows if Arlen Reilly scripted those specific shows, but… suddenly it’s 1958 – They’ve set the matrimonial date.

In a Lysergic Spin Drift spray that grades from pink to tangerine, the chemist Albert Hoffman rose upon the day astride his jelly bike, while Leary rides down from an altered state.

The decade’s beatnik H-Bomb clock ticks over to the sixties, as they kiss and grin and celebrate — until the lovely trouble starts. First Krassner’s Realist. Then the rabid raunch of Hefner’s pulsoid swoon, wearing their hearts upon their paisley sleeves, and psychedelic badges on their hearts.

Soon he’s reporting on the tensions swirling around the Democratic armies of the 9th Convention in Chicago, 1968. Tear gas grenades fired by police describe a fuming parabolic arc, as William Burroughs and John Genet take each other by the arm and with great dignity, with years of bright experience between them, with soaked handkerchiefs worn like hour hooped bandannas, quit the park.

Up with Bob Shea at Playboy After Dark, and chuckling over creepy letters from John Birchers, detailing conspiracies compiled from Nesta Webster’s library shelves, our men read all the best bits out aloud, and… then decide to cook one up themselves.

While elsewhere in the yesterday-today-tomorrow world, it’s the mid-seventies. The Unified Field Theorem of American Anxiety become a textbook guide to hilarious Occult anarchy, a trilogy that pulled it all together and changed paranoia from an illness into an illuminating game, before Dan Brown and David Icke hit town to change it back again.

A wrong-doing’s end paper movie full of sex, drugs, yellow submarines, Bavarians, fnord, Marilyn Monroe, and dazzling dime store profundity:

“Tell us, John Dillinger, how did you manage to escape from that locked cell?”

“Same way that you break out of any prison, hell, I just walked through the wall into the fire…”

’71 it’s written – published four years later, and just one year after that served up entire on stage — Ken Campbell’s Science Fiction Theater of Liverpool — Bill Drummond working in the wings who, feeling Justified and Ancient and inspired, moves on to other things…

And during all this there’s been dog-faced messages from Sirius, coincidences piped in by The Crew That Never Rests, new ways of seeing…

And when Bob and Arlen’s 15 year old daughter Luna is shot dead during a stick-up job, he points out that her killer was a young Native American compelled to rob, a brutal and oppressive history, opposes the death penalty, and stands as an extraordinary, an exemplary human being.

In another district of the Gesternheutemorgenswelt meanwhile it’s Sunday, March 18th, 2007, and, well, here we are… for one last 23 skidoo, clearing the wire with an important signal coming through from the agnostic wing of Heaven. Robert Anton Wilson went out through the wall into the fire, into the simultaneous parity of eternity, into the splendid timeless fanfare of a life that he has somehow managed to survive, with 35 books weaving his idea in their spectacular diversity, weaving his luminescent consciousness into the intellectual DNA of our painfully slow developing society, and dancing somewhere with his wife, back when he could still dance, and she was still alive.

Researching pookas, watching “Harvey” in the cathode light, another Wilson on screen finds them in a dictionary described as: “Rabbit spirits working mischief with reality, and Mr. Wilson, how are you tonight?”

I saw him in a psychedelic vision once, with other Magi in a room outside time and shining white, a real Illuminati, a Crew That Never Rests but works without respite to include everyone – every last one of us – within their light.

Oh Mr. Wilson, how are you tonight?

O que acontece no final de A Piada Mortal, a melhor história do Batman, do Alan Moore

Desculpa, mas se até hoje você não leu A Piada Mortal, do Alan Moore, pare o que está fazendo e dê um jeito de lê-la. Tudo que vem abaixo da imagem é spoiler, óbvio:

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Guy Fawkes para as massas

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Tantas máscaras do V de Vingança… de onde elas vêm? O Extra descobriu uma das fábricas que vem abastecendo os Guy Fawkes brasileiros (“a máscara do anônimos”) e fez uma galeria de fotos em seu site. Tem umas aí embaixo.

 

Alan Moore x Margaret Thatcher

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Embora muitos associem V de Vingança (1981), de Alan Moore e David Lloyd, a uma visão pessimista do que se tornaria a Inglaterra pós-Thatcher, o fato é que nem seu autor não imaginava que o partido conservador inglês ganhasse as eleições parlamentares em 1983 – explicitamente confirmado no ensaio Behind the Painted Smile, do próprio Moore, sobre sua obra:

Starting with the assumption that the Conservatives would obviously lose the 1983 elections, I began to work out a future based upon the Labour Party gaining power, removing all American missiles from British soil and thus preventing Britain from becoming a major target in the event of a nuclear war. With disturbingly little difficulty it was easy for me to plot the course from that point up until the Fascist takeover in the post-holocaust Britain of the 1990’s.

Mas ele não deixou barato e, anos depois, em 1990, citaria a própria Dama de Ferro numa página memorável de seu Miracleman:

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Esta foi pinçada pelo Bleeding Cool, que também listou outras manifestações anti-Thatcher nos quadrinhos ingleses. A dica foi do Daniel, valeu!

Você já viu os filmes do Alan Moore?

Lembra deles? Ambos estrearam online, abaixo. Primeiro tem o Act of Faith, um prelúdio ao filme principal, Jimmy’s End (que vem logo depois) – e os dois parecem peças de algo muito maior, que pode ter uma cara de David Lynch, mas a meu entender me parece mais retomar o lance de perspectivas fractais do Big Numbers…

 

Para nos lembrar do 5 de novembro, Alan Moore canta: “The Decline of English Murder”

Foi só falar no mestre dos magos que ele apareceu com força total. Nesta segunda-feira ele lança seu primeiro single, com a faixa “The Decline of English Murder”, com rendas revertidas para o pessoal do Occupy Wall Street – não custa lembrar que o 5 de novembro (além de aniversário do Fred) também é a data-chave do V de Vingança, obra de Moore celebrada tanto pelos Occupy quanto pelos Anonymous. O Guardian fez um vídeo com a música, usando cenas do grupo em ação – e o Bleeding Cool providenciou as letras, ambos abaixo:

 

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O filme de Alan Moore

Não apenas um, mas dois. O mestre começou a trabalhar no que seria um filme de dez minutos, se animou, e agora está prestes a lançar dois médias metragens, ainda neste mês, ambos em parceria com o diretor Mitch Jenkins. Os filmes fazem parte de uma obra chamada Show Pieces e não duvide se outras partes aparecerem em outros formatos, já que o projeto foi descrito como uma narrativa não-linear em diferentes episódios.

O primeiro, Act of Faith, foi filmado no meio do ano e conta com a atriz Siobhan Hewlett no elenco. O segundo, filmado logo depois, chama-se Jimmy’s End e acabou de ter seu trailer lançado online. Vê se dá pra entender alguma coisa:

E estamos falando de Alan Moore, um dos maiores artistas vivos, que ao mesmo tempo que diminuiu sua produção em quadrinhos, aumentou seu interesse por apresentações ao vivo (além de seus esconjuros pessoais, também ajudou Damon Albarn em sua recente ópera sobre o místico John Dee) e é um notório crítico dos filmes que se inspiraram em suas obras – o que aumenta ainda mais a curiosidade sobre a primeira incursão do mestre no território audiovisual.

Liga Extraordinária: Century – em edição de luxo

E por falar na Century, olha só essa caixa que acabou de sair na Itália…

Vai vendo…

Só existem 200 dessas edições da Liga Extraordinária de Alan Moore e Kevin O’Neill lançada pela editora italiana Bao Publishing. Dá pra comprar aqui.

Liga Extraordinária: Century dissecada

E por falar em Alan Moore, aqui vai uma dica boa se você – como eu – já acabou de ler a mais nova saga do mago – a trilogia Century, que fala da chegada do Anticristo ao mesmo tempo em que costura um zilhão de referências de cultura pop e erudita num universo inteiramente de ficção. O catedrático nerd Jess Nevins, famoso por ter dissecado as principais referências da Liga Extraordinária desde que ela surgiu em seu site, vem fazendo suas anotações coletivamente e acaba de publicar o link com as referências do volume final. Ei-los a seguir, em inglês, respectivamente sobre as edições de 1910, 1969 e 2009. Acredite: a leitura aumenta em alguns degraus de compreensão – e percepção.