Puro esplendor

Uma noite esplendorosa nesta terça-feira no Centro da Terra quando o público lotou o teatro para ver o reencontro dos amigos Léa Freire, Filó Machado e Alaíde Costa. Os dois primeiros começaram a noite entre números instrumentais e composições de Filó Machado (como “Carmens e Consuelos” e “Terras de Minas”), com Léa na flauta transversal, atuando como anfitriã da noite, enquanto seu compadre dividia-se entre o violão e os vocais, que por vezes acompanhava as canções que tocavam juntos, por outros fantasiava-se de bateria ou contrabaixo em vocalizes cheios de groove. A noite ficou ainda mais grandiosa com a entrada da diva Alaíde Costa, que começou cantando “Segundo Andar”, eternizada por Dalva de Oliveira, que comentou que acabara de gravar com os próprios Léa e Filó. Depois o trio passeou por canções guiadas pelo canto magnífico da deusa da voz, como “Diariamente” (de Paulo César Girão), duas de Fátima Guedes pinçadas de seu Muito Prazer (“Absinto” e “Eu Te Odeio”) e um clássico do argentino Piero De Benedictis (“Pedro Nadie”) para encerrar com a maravilhosa “Céu e Mar”, de Johnny Alf, numa noite histórica para o teatro. Quem foi sabe.

Assista abaixo:  

Léa Freire + Filó Machado + Alaíde Costa: 50 Anos Juntos

E o orgulho de promover um encontro que não acontecia há meio século. Parceiros de longa data, Léa Freire tocou pela última vez com Filó Machado e Alaíde Costa ao mesmo tempo há 50 anos, embora os três sempre estiveram próximos nestas décadas de amizade. E assim 50 Anos Juntos acontece nesta terça-feira no palco do Centro da Terra quando Léa convida seus dois amigos para visitar seu repertório e encerrar o ótimo ano que teve a partir do documentário A Música Natureza de Léa Freire, de Lucas Weglinski, que a fez rodar pelo Brasil em apresentações em quase todas as regiões do país. O espetáculo começa pontualmente às 20h e os ingressos estão à venda na bilheteria e no site do Centro da Terra.

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Centro da Terra: Dezembro de 2024

Estamos chegando ao fim do ano e a despedida da música no Centro da Terra sempre acontece com menos datas pois nossa programação encerra as atividades na metade do mês. Por isso não faremos temporada em dezembro, apenas quatro apresentações, mas escolhidas a dedo. Começamos na segunda (dia 2), com a banda Lost in Translation de Marcelo Rubens Paiva fazendo o espetáculo Pedras no Caminho, em que aborda o casamento de música com poesia a partir da influência de Bob Dylan, em canções do mestre traduzidas ao lado de obras de Patti Smith, Lou Reed, Jim Morrison, Rolling Stones e Caetano Veloso. No dia seguinte (dia 3), temos o encontro mágico de meio século de amizade, quando Léa Freire recebe Filó Machado e Alaíde Costa num espetáculo batizado de 50 Anos Juntos. Na segunda seguinte (dia 9), Lara Castagnolli faz sua estreia autoral mostrando as músicas que estarão em seu disco de estreia, batizado de Araribá (que também dá nome à apresentação), que terá produção de Mestrinho, que também participa da apresentação. E o último espetáculo musical de 2024 no Centro da Terra vem do Rio de Janeiro, quando o projeto Crizin da ZO apresenta seu Colapso Programado ao lado da banda Death Kids e de MNTH na terça (dia 10), numa apresentação apocalíptica inédita. Todos os espetáculos começam pontualmente às 20h e os ingressos já estão à venda na bilheteria e no site do Centro da Terra. E se preparem que 2025 promete…

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Os 50 melhores discos de 2023 segundo o júri de música popular da APCA

Estes são os 50 discos mais importantes lançados em 2023 segundo o júri da comissão de música popular da Associação Paulista dos Críticos de Arte, da qual faço parte ao lado de Adriana de Barros (editora do site da TV Cultura e apresentadora do Mistura Cultural), José Norberto Flesch (Canal do Flesch), Marcelo Costa (Scream & Yell) e Pedro Antunes (Tem um Gato na Minha Vitrola, Popload e Primavera Sound). A amplitude de gêneros, estilos musicais, faixas etárias e localidades destas coleções de canções é uma bela amostra de como a música brasileira conseguiu se reerguer após o período pandêmico com o lançamento de álbuns emblemáticos tanto na carreiras de seus autores quanto no impacto junto ao público. Além dos discos contemporâneos, fizemos menções honrosas para dois álbuns maravilhosos que pertencem a outras décadas, mas que só conseguiram ver a luz do dia neste ano passado, um de João Gilberto e outro dos Tincoãs. Na semana que vem divulgaremos os indicados nas categorias Artista do Ano, Show e Artista Revelação, para, no final de janeiro, finalmente escolhermos os vencedores de cada categoria. Veja os 50 (e dois) discos escolhidos abaixo:  

“Que rei sou eu que vive assim à toa?”

Consagrando o lançamento do disco ao vivo Relicário, registro da inauguração do Sesc Vila Mariana quando João Gilberto começou os trabalhos do hoje clássico equipamento cultural há vinte e cinco anos, a apresentação Rei Sem Coroa reuniu súditos de todas as gerações da música brasileira para reverenciar nosso maior artista e pude assistir à sua terceira e última apresentação neste primeiro dia de maio. Um quinteto formado por Joyce Moreno, Alaíde Costa, Dori Caymmi, Renato Braz e Vanessa Moreno saudou o repertório clássico do pai nosso da música brasileira moderna com as condições perfeitas de temperatura e pressão – o público imóvel e em silêncio deixando lágrimas rolarem no escuro enquanto músicos e intérpretes revezaram-se no palco em formações mínimas, sempre lustrando o formato que João escolheu para sua música – somente voz e violão. Entre as canções, várias histórias e lembranças, com Alaíde lembrando do tempo em que tudo era chamado de “bossa nova” pois o nome do gênero ainda era associado a um modismo passageiro, Joyce citando testemunhas que viram João sapatear – e bem! – e Dori fazendo a conexão de seu pai Dorival com nosso mestre.

A novata do grupo Vanessa Moreno abriu a noite com três orações obrigatórias deste rosário – “Corcovado”, “Samba de Uma Nota Só” e “O Pato” -, deixando sua doce voz solar equilibrando solenidade e carinho. Renato Braz pegou o violão na canção seguinte, a imortal “Bahia com H”, dividindo os vocais com Vanessa, que percutia a batida nostálgica em seu próprio corpo. Braz seguiu com “Pra Que Discutir Com Madame?” tocando apenas com um tamborim e prosseguiu com a faixa que batiza o espetáculo, “Rei Sem Coroa”, pérola de Herivelto Martins que finalmente ganhou registro oficial de João Gilberto com o lançamento de Relicário, emendando-a com “Eu Vim da Bahia”, de um dos principais pupilos dele, Gilberto Gil. Depois Braz recebeu Alaíde Costa, uma imortal da canção, que começou sua participação dividindo “Caminhos Cruzados” (de Tom Jobim e Newton Mendonça), para depois seguir ao lado de Joyce Moreno, que trocou de lugar com Renato, para dois duetos fabulosos: “Nova Ilusão” e “Retrato em Branco e Preto” (de Chico Buarque e Tom Jobim).

Depois Joyce seguiu sozinha e deslumbrante como sempre com “Desafinado” e “Águas de Março”, convidando Dori Caymmi para dividir uma mistura impecável de “Esse Seu Olhar” com “Só em Teus Braços” seguida de “Aos Pés da Cruz”. Dori teve seu momento solo cantando “Rosa Morena” de seu pai (quando improvisou a letra para avisar ao assistente de palco que a correia de seu violão havia escapulido) e “Bolinha de Papel”, até que Renato e Vanessa voltaram para cantar “Doralice” (também de Dorival). O final trouxe três faixas fora do roteiro: “Saudades da Bahia”, com os cinco no palco, “Dindi” (apenas Dori e Alaíde, numa versão maravilhosa, que abriu o bis) e “Chega de Saudade”, que encerrou a uma noite de reverência ao maior nome de nossa cultura que, como Joyce lembrou, ousou imaginar um Brasil moderno: “João pra mim ainda hoje é um Brasil possível, um sonho de Brasil, um Brasil que deveria ter sido e que algum dia será”.

Assista aqui.  

“O que vocês fariam pra sair desta maré?”

No ano passado fui convidado para participar do livro De Tudo Se Faz Canção – 50 anos do Clube da Esquina que comemorava meio século desta obra ímpar de Milton Nascimento e Lô Borges que colocou no mapa da música brasileira toda uma nova cena e novos temperos musicais que mudaram a cara de nossa música. Concebido e organizado pela Chris Fuscaldo, através de sua editora Garota FM, ao lado de um dos patronos desta cena, o próprio Marcio Borges, letrista do grupo e irmão de Lô. O livro conta esta saga do ponto de vista de seus protagonistas, com depoimentops de Ronaldo Bastos, Beto Guedes, Fernando Brant, Wagner Tiso, Toninho Horta, Alaíde Costa e muitos outros que participaram do disco, além de seus próprios autores, Milton e Lô e um extenso faixa a faixa em que vários pesquisadores, críticos e jornalistas, como Leonardo Lichote, Kamille Viola, Marcelo Costa, Ana Maria Bahiana, Charles Gavin, Carlos Eduardo Lima, Patrícia Palumbo e Ricardo Schott, entre outros, atravessam as clássicas canções deste disco histórico. É nessa seção que faço minha participação, dissecando as duas versões de “Saídas e Bandeiras” e mostrando como a força destas duas pequenas canções atravessou décadas para ressurgir numa apresentação que vi duas bandas contemporâneas em 2015, quando O Terno e os Boogarins celebravam a importância do disco a partir de uma transformação conjunta desta microcanção no bis de seu show conjunto no Auditório Ibirapuera, em São Paulo, tornando-se um épico de mais de doze minutos com duas baterias, dois baixos e três guitarras. De Tudo Se Faz Canção ainda fala de outros grandes nomes ligados ao disco (como Eumir Deodato, Paulo Moura e o fotógrafo Cafi), cita as comemorações do cinquentenário do disco no ano passado, incluindo a turnê de despedida de Milton Nascimento, e reúne fotos raras com um acabamento gráfico de primeira. O livro pode ser comprado no site da Garota.fm e aproveitei para falar do livro nesta sexta-feira em que os Boogarins tocam na íntegra o Clube da Esquina no teatro do Sesc Pompeia, a partir das 21h. Os ingressos para o show já estão esgotados, mas vai que aparece alguém vendendo algum que sobrou na hora…

Os 50 melhores discos de 2022 segundo o júri de música popular da APCA

Eis a lista com os 50 melhores álbuns de 2022 de acordo com o júri de música popular da Associação Paulista dos Críticos de Arte, do qual faço parte. A seleção reflete o quanto a produção musical brasileira ficou represada nos últimos anos e esta seleção saiu de uma lista de mais de 300 discos mencionados por mim e pelos integrantes do júri, Adriana de Barros (editora do site da TV Cultura e colunista do Terra), José Norberto Flesch (que tem seu canal no YouTube), Marcelo Costa (do site Scream & Yell), Pedro Antunes (do vlog Tem Um Gato na Minha Vitrola) e Roberta Martinelli (dos programas Sol a Pino e Cultura Livre). Eis a lista completa abaixo:

Leia mais:  

On the run #161: Samba Obscuro, por Kiko Dinucci

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Esbarrei nessa mixtape Samba Obscuro que o Kiko Dinucci fez em 2011 em seu blog de cinema e que foi ressuscitada no canal do YouTube do Garimpo Sound System. “Mas isso não é um blog de cinema? Sim, mas esse mixtape tem um Q de filme, seja nos climas, na montagem ou no poder narrativo dos sambas escolhidos”, explica o então futuro Metá Metá, listando Paulinho da Viola, Adauto Santos, Nelson Cavaquinho, Itamar Assumpção, João Bosco, Alaíde Costa e Milton Nascimento, Jards Macalé, entre outros e alguns diálogos de filmes nacionais. “Boa viagem aos porões da alma humana através da música popular brasileira”, anuncia o compositor.

Paulinho da Viola – “Roendo as Unhas”
Jards Macalé- “E Daí?”
Adauto Santos – “Cravo Branco”
Nelson Cavaquinho – “Pode Sorrir”
Itamar Assumpção e banda Isca de Policia – “Você Está Sumindo”
João Bosco – “Bodas de Prata”
Alaíde Costa e Milton Nascimento – “Me Deixa Em Paz”
Jards Macalé – “Rua Real Grandeza”
Paulo Vanzolini – “Alberto”
Paulinho da Viola – “Comprimido”

Zé Manoel e Alaíde Costa no CCSP

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O pianista pernambucano Zé Manoel recebe a diva Alaíde Costa nesta quinta-feira, a partir das 21h, com as participações do violoncelista Filipe Massumi e do percussionista Mauricio Badé (mais informações aqui).