Sonho guiado pelo Air

Cheguei tarde ontem no C6 Fest, mas passei batido pelo Stephen Sanchez (até tentei, mas soou tão genérico e sem graça que a única vontade que me deu foi sair) pra chegar a tempo do A.G. Cook, que fez um set absurdo, selecionando músicas próprias com músicas que produziu e remixou, misturando Charli XCX (tinha que ter, né? E ele tocou “Club Classics” e “Mean Girls”, que originalmente era uma demo pro disco dele do ano passado) com drum’n’bass, distorcendo tempos e pitches numa pequena aula de hyperpop para, nos minutos finais, sair de trás do set e ir para o microfone, derretendo-se em uma balada emotiva cheia de distorção vocal e entrega. Foi frenético – e bonito.

Depois corri pra pegar a bênção da matriarca Chrissie Hynde, que trouxe seus Pretenders mais uma vez para o Brasil, sete anos depois de sua última vinda, quando abriram o show para o Phil Collins no estádio do Palmeiras em 2018, em sua terceira vinda para o país (ela também tocou aqui em 1988 e 2004, quando tocou com Moreno Veloso, Kassin e Domenico Lancelotti e passou uma temporada morando aqui, entre Rio de Janeiro e São Paulo).

Nesta quarta vinda, trouxe uma banda completamente nova, que inclusive dispensava o único Pretender original, o baterista Martin Chambers, substituído pelo jovem Rob Walbourne. O quarteto, completo pelo baixista Dave Page e pelo guitar hero James Walbourne, tocou pouco mais de uma hora no festival e é claro que o foco estava em Chrissie, carisma tão intacto quanto sua voz, que fez o que se espera de um show de rock para uma plateia faria limer (a maior parte do público do festival bancado por um banco, por motivo$ óbvio$) que não parava de conversar o show inteiro, reagindo apenas quando ela tocou os hits: as imortais “Back on the Chain Gang”, “Don’t Get Me Wrong” e “Middle of the Road” (minha favorita, quando puxou a gaita do bolso após a contagem no miolo da música) e a balada “I’ll Stand by You”. “Amo essa cidade, sou paulistana”, brincou Hynde, 73 anos muitíssimos bem vividos e com uma disposição e humor invejáveis. Pecou apenas por não tocar outro clássico (“Brass in Pocket”) e por não tocar sua versão para “Forever Young”, de Bob Dylan (número frequente em seus shows) exatamente no dia em que o mestre completava 84 anos.

Perdi o Gossip (eu sei, eu sei, todo mundo falou que foi catártico, mas culpa do festival, que espremeu duas ótimas atrações quase no mesmo horário) porque queria ver o Moon Safari que o Air tocou na íntegra desde o começo do show, principalmente porque minha música favorita do disco é sua longa e lenta introdução “La Femme d’Argent”. E foi tão bonito que Nicolas Godin e Jean-Benoît Dunckel conseguiram manter o aspecto camerístico do disco – que vinha sendo apresentado em salas de concerto nos shows que deram início à comemoração dos 25 anos do álbum, no ano passado – para um público bem maior – e mais interessado que o dos Pretenders. A atmosfera ambient e o groove onírico do disco contaminou a audiência, hipnotizada não apenas pela música mas também pelo pontual telão gigantesco acima da banda, que tocava na parte de trás do Auditório do Parque Ibirapuera, que já é uma assinatura visual do evento. A dupla francesa – que agradeceu pela primeira vez em inglês, num ato falho logo corrigido para os “merci” – preferiu ela mesma assumir os vocais das canções do disco de 1997, inclusive de “All I Need” e “You Make It Easy” (cantadas originalmente pela autora das letras, a norte-americana Beth Hirsch), também cantados pelo baterista, o ótimo Louis Delorme, que completava a anda como um trio, deixando Godin dividindo-se entre teclados, synth, baixo e violão enquanto Dunckel ficava entre as teclas do piano, do synth e do teclado elétrico. O show foi um transe do início ao fim, as dez músicas do Moon Safari repetidas como uma sinfonia e funcionando também como isca para a segunda parte do show, um bis de quase meia hora em que visitaram músicas de seus outros discos, não tão clássicos, mas que mostravam doçura e periculosidade aprofundadas para além do disco de estreia, com números frenéticos (como “Run” e “Don’t Be Light”) e acolhedores (como “Cherry Blossom Girl” e a eterna “Playground Love”, que eles preferiram não cantar, em vez de assumir os vocais que, na música original, são do vocalista do Phoenix, Thomas Mars). Space rock com lounge, krautrock com música eletrônica e a sensação de ser o mais perto de um show do Pink Floyd que qualquer um presente ali poderia sentir. Um show de sonho, que foi além da promessa cumprida e que me impediu de continuar com o festival na parte eletrônica da festa (que, além de estar lotada com mais faria limers, tocava um pop genérico que estava estragando o retrogosto deixado pelo Air). Mas domingo tem mais C6 e é bom estar bem pro dia seguinte – e atenção que o Wilco hoje toca no palco menor, que pode lotar e deixar gente de fora, por isso não dê mole).

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Eis a escalação completa do C6 Fest 2025!

Confirmados Air, Pretenders, Wilco e Nile Rodgers e também fechados Mulatu Astatke, A.G. Cook, Amaro Freitas, Gossip, Perfume Genius, Meshell Ndegeocello, Maria Esmeralda, Seu Jorge, Agnes Nunes, Last Dinner Party, Arooj Aftab, Stephen Sanchez, Brian Blade & The Fellowship Band, Beach Weather, English Teacher, Cat Burns e Superjazzclub. Sinistro!

E o Air vem tocar o Moon Safari no Brasil… em 2025!

Quem acaba de confirmar a vinda do duo francês Air para o país é o C6Fest, que tem Nicolas Godin e Jean-Benoît Dunckel tocando a versão ao vivo de seu disco de estreia – que passa pela América do Sul no próximo mês de novembro, com shows na Argentina e no Chile – como primeira atração da edição do festival no ano que vem, que acontece entre os dias 22 e 25 de maio. Golaço!

Moon Safari na Argentina!

E o Air confirmou sua passagem por Buenos Aires ao anunciar que tocará na íntegra seu disco de estreia, Moon Safari, que completou um quarto de século no ano passado, na Movistar Arena no dia 6 de novembro – os ingressos já estão à venda. Alguém anima ir pra Argentina ver a dupla francesa ou será que esperamos algum produtor esperto o suficiente para convencer alguma marca com um pingo de senso estético para trazer esse show para cá?

Airporto

Imagina você chegando em Paris e o Air está tocando “Playground Love” com o vocalista do Phoenix em pleno terminal? Mais um vídeo fodaço do Blogothèque, que filmou esse encontro – que não acontecia ao vivo há 20 anos – no terraço do aeroporto parisiense. Assista abaixo:  

Vida Fodona #814: Françoise Hardy (1944-2024)

A voz da França se calou.

Ouça abaixo:  

Todo o show: Air tocando o Moon Safari na íntegra no Olympia de Paris (7.3.2024)

Faz quase um mês que o Air está circulando a Europa tocando a versão ao vivo para seu disco de estreia, o perfeito Moon Safari, mas nesta quinta-feira a dupla formada por Nicolas Godin e Jean-Benoît Dunckel tocou no Olympia, clássica sala de shows de sua cidade-natal, Paris, e uma boa alma registrou a íntegra do show com sua camerinha… E que viagem que foi isso, porque além de todo o disco que está completando 25 anos, eles ainda tocaram um bis com músicas dos discos Walkie Talkie e 10,000 Hz Legend, além da hipnótica “Highschool Lover”, da trilha do filme Virgens Suicidas. S’il te plaît, viens au Brésil!

Assista abaixo:  

O Air vai tocar o clássico Moon Safari na íntegra ao vivo!

E o Air acaba de anunciar que irá tocar seu clássico disco de estreia, Moon Safari, lançado há 25 anos, pela primeira vez ao vivo em uma série de shows pela Europa, passando por Gênova (dia 24 de fevereiro), Milão (25), Viena (27), Berlim (2 de março), Paris (7), Amsterdã (8) e Londres (24). A dupla formada por Nicolas Godin e Jean-Benoît Dunckel também está para lançar uma versão remasterizada do disco em Dolby Atmos exclusiva para o serviço de streaming da Apple na próxima sexta-feira. Um dia antes, na quinta 16, começam as vendas de ingressos para os shows a partir do site da banda. A dupla também preparou uma playlist chamada Deck Safari, com músicas que influenciaram a criação de seu primeiro disco – incluindo Velvet Underground, Money Mark, Supergrass, Harry Nisson, Pharcyde, David Bowie, Beck, Minnie Ripperton, Jean-Jacques Perrey, Cure, Beastie Boys e muito mais – que dá pra ser ouvida abaixo:  

Vida Fodona #797: Bem na manha

Sintonizando a frequência certa para começar a semana…

Ouça aqui:  

Vida Fodona #746: Consegui descansar

Demorei, mas tô aqui.

Ouça aqui.