África Brasil – Jorge Ben

, por Alexandre Matias

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Cada país tem o Bob Dylan que merece e o nosso tem seu auge no improvável meio dos anos 70, quando enfileira uma seqüência de discos do mesmo naipe da tríade Bringin’ it All Back Home, Highway 61 e Blonde on Blonde. Depois da psicodelia acústica de Tábua e do exorcismo ao vivo com Gilberto Gil, Ben larga o violão e assume a guitarra como instrumento de condução – num conjunto de canções de valor inestimável. “Ele chegou descontraído, chegou filosofando num tom de voz meio angelical”, apresenta-se em “O Filósofo”, pisando passos mais firmes e elétricos que os do mutante que atravessou os anos 60 entre a bossa nova, o tropicalismo e a jovem guarda. Syd Barrett com James Brown, Paulinho da Viola com Sly Stone – as metáforas mais estranhas ainda soam falhas pra definir o choque da cuíca, tamborim, apito e pandeiro com baixo, guitarra, teclado e bateria provocado por Jorge, escudado por cobras do naipe de Dadi, Wilson das Neves, Nenê, Djalma Corrêa e José Roberto Bertrami. Futuros standards de Ben como “Umbabarauma”, “Xica da Silva” e “Taj Mahal” (surrupiada por Rod Stewart, logo depois) convivem naturalmente com faixas que aproximam o groove black do terreiro afro e do morro carioca, como “Hermes Trismegisto Escreveu”, “Meus Filhos, Meu Tesouro” e “Cavaleiro do Cavalo Imaculado”, culminando com uma versão irrepreensível para “Zumbi”, rebatizada com o nome do disco. Voa, Jorge!