A volta do Kids in the Hall

, por Alexandre Matias

E agosto está terminando cheio de boas notícias para a comédia mundial. Pra começar, foi anunciado no início desta semana que o grupo canadense Kids in the Hall voltará mais uma vez – e para a TV. Consagrado início da década 90 como uma espécie de Monty Python pós-politicamente correto, o grupo gravará Death Comes to Town, um programa de oito episódios para a emissora de seu país CBC, como anunciou a Variety no fim da semana passada. O novo programa será dirigido pelo mesmo Kelly Makin que sempre dirigiu o grupo (tanto na série quanto no filme porraloca Brain Candy) e vai ao ar em janeiro do ano que vem. No mesmo mês que começa o fim de Lost, não custa lembrar (e olha como 2010 já tá começando a ficar foda…),

O programa original, batizado com o nome do grupo, era escrito e interpretado por Bruce McCulloch, Kevin McDonald, Dave Foley, Mark McKinney e Scott Thompson e, na minha nada modesta opinião, seu conjunto da obra é melhor do que todo o Monty Python e todo o Saturday Night Live, basicamente por ter pouquíssimos quadros abaixo da média. Dou, óbvio, o desconto ao Monty Python, que reinventou a comédia em diversos níveis – no palco, no cinema, na TV, como arte, como redefinição do conceito de humor britânico – e, inevitavelmente, estavam propensos a deslizes. Sua importância é indiscutível. É como contestar a influência dos Beatles na música produzida até hoje. Mas meu gosto pessoal tende aos KITH e posso rever todos os episódios das cinco temporadas o quanto for que continuo rindo como se fosse a primeira vez.

O humor subversivo do grupo invertia a lógica proposta pelo grupo inglês ao tratar o nonsense não como uma agressão ao bom senso, mas como um leve desvio de personalidade. Os quadros do grupo mais tendem a um surrealismo quase filosófico, que às vezes pode ser grosseiro, outras tantas poético, sem contar que não há um comediante que chame mais atenção do que o outro. Os cinco funcionam como uma unidade, não há o John Cleese ou o Eric Idle entre o Kids in the Hall. Suas personalidades se misturam ainda mais pelo fato de eles vestirem personagens femininos e gays com tanta naturalidade que às vezes você não sabe se é uma caricatura ou não. Misturado a isso, o grupo ainda alimentava lendas ao seu redor que dizia que quatro deles eram realmente gays ou, dependendo da versão ouvida, apenas um é que era.

Não acho que eles vão reviver os bons tempos nem voltar no mesmo nível que um dia tiveram (é até bom manter esse tipo de expectativa baixa, pra não se frustrar), mas se o novo programa fizer com que a série original dê ao grupo o reconhecimento que ele merece, já tá valendo.

Separei ainda mais uns vídeos – estes, focando em cada um dos cinco – quando eles anunciaram que iriam voltar para uma turnê de apresentações ao vivo no ano passado. Dá uma sacada.

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