A vinda da Clara Bicho

, por Alexandre Matias

Começa nessa segunda! A mineira Clara Bicho finalmente sai da fase dos compactos e lança seu primeiro EP no início desta semana, quando inaugura a sua discografia para além dos singles ao apresentar Cores da TV, batizado com o título da música de mesmo nome, gravada em parceria com Sophia Chablau, que ela lançou em março. Além desta, outras duas já são conhecidas: “Luzes da Cidade” e “Árvores do Fundo do Quintal”, esta em parceria com os catarinenses Exclusive os Cabides. E entre as inéditas – “Meu Quarto”, “A Rua” e “Música do Peixe” -, ela escolheu a última para antecipar em primeira mão aqui no Trabalho Sujo. É a primeira faixa que ela produz sozinha também, ouça abaixo:

“É legal parar para pensar que nada foi planejado no EP, não havia um conceito, as ‘Cores da TV’ simplesmente vieram e eu acho que é uma metáfora bonita para esse período de descoberta de que o mundo não é um lugar idealizado, é simplesmente como é”, ela me explica numa conversa por email. “Eu nunca tinha pensado ‘Cores da TV é isso ou aquilo’, esse termo – que repete-se na música com os Exclusive – veio na minha cabeça enquanto eu estava compondo e eu aceitei que era isso, sem racionalizar. Hoje eu consigo explicar melhor, acho que tem muito a ver com essa coisa de nós crescemos, na infância e na adolescência, aprendendo sobre a vida através da televisão, que tenta nos convencer das fantasias nas novelas e filmes. Acho que a ideia desse termo, inconscientemente, teve tudo a ver com a minha formação em comunicação…”

O pop plástico de Clara fica mais evidente ainda no novo disco, quando ela reúne diferentes aspectos de sua musicalidade para criar um ambiente que é tão robótico quanto doce, que sonha acordado ao mesmo tempo em que deixa levar-se por uma leve paranoia, sentimentos sintetizados tanto na métrica de suas sílabas quanto no timbre etéreo e plástico de sua voz, que conversa exatamente com sua dissertação sobre o título do disco. “A ideia de ‘Cores da TV’ é muito clara para mim e representa justamente esse tempo da minha vida, no qual eu estava me tornando de fato uma pessoa adulta e vivendo as coisas boas e ruins que vem com isso”, prossegue.

“O processo do EP se assemelhou aos processos dos dois primeiros singles que eu lancei, ‘Tarde’ e ‘Luzes da Cidade’, que foram totalmente despretensiosos: vieram da simples vontade de colocar minha música, com os meus sentimentos pra fora”, continua a cantora, deixando claro como isso mexe inclusive com sua sonoridade. “Todas as músicas são sobre mim, sobre a minha vida, minhas percepções e meus sentimentos. Sempre amei escrever e penso as canções como poesias musicadas, não gosto de enrolação e prefiro dizer o que eu penso de forma mais simples.” Clara também faz as artes de sua discografia e também assinou a capa deste EP.

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