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A Rede Social 2

Muito foda.

Vi aqui.

Link – 22 de novembro de 2010

FFLCH EletrônicaAgora é olhar para o futuroCentral de conversas Por que ‘A Rede Social’ menospreza Zuckerberg?Butique GoogleServidor: youPIX, MySpace e Facebook, FBIPrivacidade em riscoBeatles à vendaIlegal de propósitoVida Digital: Hugo Barra

Vintedez: Yorick e Zuckerberg


Primeira novidade: finalmente botamos no ar o primeiro Vintedez, sucessor do Comentando Lost que eu e Ronaldo viemos bolando nos últimos seis meses. Segue a mesma lógica do podcast sobre a série, com a exceção da mecânica: em vez de você sincronizar com algum filme, disco ou livro, basta dar play no MP3 aí embaixo e nos juntar a quase uma hora de papo furado sobre o que vier na telha dos dois. Tentamos definir o papo entre “cultura pop” e “comportamento”, mas vocês sabem que esses termos fazem mais sentido em páginas de jornal e de revistas do que na vida real. Para dar algum senso de identidade ao programa (completamente ad lib), foco o título do conversê nos dois assuntos que trouxemos à mesa – a série em quadrinhos Y: The Last Man e o filme A Rede Social -, mas não espere que falemos profundamente sobre estes temas nem outros específicos. O lance é deixar o papo rolar e as idéias fluírem. Quem ouvir, verá.


Ronaldo Evangelista & Alexandre Matias – “Vintedez #0001 (MP3)

Impressão digital #0030: A Rede Social e o MP3

Na minha coluna no Caderno 2 desta semana, falo novamente sobre o filme do Facebook, não sobre ele propriamente, e sim sobre uma mensagem que está embutida em seus minutos…

O MP3 e ‘A Rede Social’
O dilema digital para as massas

A Rede Social, novo filme de David Fincher (o mesmo diretor de Clube da Luta e Zodíaco), conta a história de como o site Facebook foi criado – e entra em seu terceiro fim de semana de exibição nos EUA correndo o risco de manter-se como líder das bilheterias desde sua estreia. O resultado pode surpreender quem crê que, para ter um bom desempenho comercial na telona, basta adaptar uma história em quadrinhos, enchê-la de efeitos especiais e exibi-la em 3D.

A Rede Social não tem nada disso: dispõe-se a contar como um gênio antissocial inventou uma ferramenta de socialização digital que tornou-se o maior site do mundo. Denso, frio e devagar quase parando, o filme é o oposto do que se espera de um sucesso hollywoodiano, mas o nome dos envolvidos ajuda a entender o porquê do sucesso – além de Fincher, o filme é escrito pelo mesmo Aaron Sorkin da série West Wing e protagonizado pelos novos galãs Jesse Eisenberg e Andrew Garfield (que fará o novo Homem-Aranha), além do cantor pop Justin Timberlake.

E Justin é o assunto da coluna de hoje. Nem preciso entrar nos méritos de sua atuação (que é boa, mesmo que ele venha da música e não do cinema), mas sim no personagem vivido pelo popstar em A Rede Social. Ele faz as vezes de Sean Parker, cofundador do Napster, o software de compartilhamento de arquivos online que virou a indústria musical – e, em seguida, a do entretenimento como um todo – do avesso.

Em certa passagem do filme, que só estreia no Brasil em dezembro, ele conversa com o personagem de Eisenberg (que vive o criador do Facebook, Mark Zuckerberg) sobre o potencial da rede social criada por ele. E, no meio do papo, cita que, embora todos envolvidos no Napster tenham sido processados e que o software tenha causado a fúria da indústria fonográfica, ele sim, mudou a forma como consumimos música. E pergunta, ironicamente, se alguém ainda entra em lojas de discos para comprar CD.

A ironia se desdobra ao lembrarmos que Justin é um dos principais vendedores de disco da mesma indústria que foi estilhaçada pelo MP3, formato de arquivo que o Napster estabeleceu como padrão para a música no início do século 21. Mas não deixa de ser importante que este tema venha a ser uma das principais questões discutidas – entre outras, bem mais severas – em um dos filmes que, certamente, será um dos mais vistos em 2010. E, como o próprio Mark após o papo com Sean, pode fazer o grande público pensar um tanto sobre este assunto.

O filme do Facebook

Assisti semana passada – e é tudo isso mesmo.

Foi com ceticismo que interrompi minhas férias por três horas, na semana passada, ao entrar em uma sala de cinema nos EUA para assistir ao filme sobre o Facebook. Líder nas bilheterias daquele fim de semana, A Rede Social também recebeu aplausos e elogios de quase todas as publicações norte-americanas – citar uma lista só com os veículos que lhe deram cotação máxima em suas avaliações enumera nomes que vão de carros-chefe da indústria como Hollywood Reporter e Variety a revistas como Time, Rolling Stone e New Yorker e jornais como Washington Post, Wall Street Journal e Los Angeles Times.

Para completar, o filme reúne um time exemplar: dirigido por um dos melhores cineastas de sua geração (David Fincher, de Clube da Luta e Zodíaco), escrito pelo mesmo Aaron Sorkin que deu ao mundo West Wing (o seriado sobre a Casa Branca que spoilou a realidade ao antever a eleição de Barack Obama) e protagonizado por Jesse Eisenberg (herói dos melhores hits discretos de 2009, Zombieland e Adventureland), além do cantor Justin Timberlake e dos bons novatos Andrew Garfield e Armie Hammer. Enquanto escrevo, surgem notícias apontando o filme como forte candidato ao Oscar de 2011. Mas como o excesso de expectativa costuma ser fatal para qualquer obra, fui sem esperar nada.

E me impressionei. A Rede Social, que chega aos cinemas brasileiros no início de dezembro, é o filme mais importante de 2010. E antes que os cinéfilos venham atirar pedras, vale lembrar que “mais importante” não é sinônimo de “melhor” (este posto continua com Um Homem Sério, dos Irmãos Coen). A Rede Social é o filme mais importante do ano por fazer que Hollywood saia do casulo sem assunto em que se fechou no início do século, quando preferiu recriar universos mitológicos – seja de super-heróis ou de livros clássicos – para voltar a falar de algo que faça sentido para a vida de seu público, reassumindo um papel que já foi seu mas que, nos últimos dez anos, foi substituído pela TV.

Mas não é irônico que, para isso acontecer, o cinema norte-americano tenha de falar da criação de um site de internet?

Não. E não apenas pelo tema do filme ser um site com meio bilhão de cadastrados, mas pelo fato de o cinema finalmente reconhecer a importância do meio digital para a história contemporânea. Hackers eram tratados como seres mágicos, prontos para quebrar barreiras de segurança sempre que o herói do filme, frequentemente avesso às novas tecnologia, se via diante de um computador.

Mas se antes isso era exceção, agora não é mais: vivemos em um mundo digital e é ridículo pensar que a única obra cinematográfica feita sobre este universo seja um filme feito para a televisão (Piratas do Vale do Silício, de 1999, sobre a rusga de Bill Gates e Steve Jobs).

A Rede Social parte do princípio de que o Facebook é tão importante hoje quanto os jornais foram no tempo em que Cidadão Kane foi feito por Orson Welles – a comparação é do próprio Fincher, que chama o filme de “o Cidadão Kane da geração John Hughes” – e para entender as motivações por trás desta nova mídia, foi preciso entrar na mente de seu criador. Mas ao contrário de Welles, que pintou seu William Randolph Hearst (o Kane original) com tons amarronzados de jornalismo barato, Fincher preferiu fixar-se no paradoxo de que a ferramenta mais popular de interação em tempos de internet ter sido criada por um hacker antissocial.

Juntos, diretor, roteirista e ator criam um Zuckerberg frio, robótico, ríspido, automático; um ser humano falho, mas uma máquina de programar – e programar tudo. E, como havia feito em Zodíaco, prefere não desvendar o mistério, apenas ampliá-lo. Quando o filme termina ao som de “Baby You’re a Rich Man” dos Beatles, com Zuckerberg dando reload em uma página do Facebook, sabe-se tanto sobre o Cidadão Zuck quanto se sabia antes do início do filme.

E não pense que A Rede Social é um caso isolado. Um filme sobre o Google já está sendo produzido e não duvide que, em breve, possamos assistir à vida de Steve Jobs no cinema. Com Tom Hanks, como sugeriu minha mulher ao final da sessão, no papel do pai da Apple.