A ascensão da Balaclava

, por Alexandre Matias

balaclavafest

É impressionante o ritmo de crescimento da Balaclava. A antiga “gravadora dos Single Parents” afirma-se cada vez mais como um dos principais agentes do novo cenário independente brasileiro, apostando num cânone alternativo que estava se tornando cada vez mais nichado: o indie. A produtora e gravadora aposta em shows internacionais e artistas brasileiros que fazem parte dessa formação que une tradições inglesas e norte-americanas de fugir do mainstream tanto em termos de sonoridade quanto de atitude e aos poucos reacende um interesse do público que já está formado há duas décadas quanto um de outro que está acabando de começar. Fernando Dotta e Rafael Farah coroam um ótimo 2015 trazendo dois artistas de peso internacional dentro da área de escopo do selo. Realizam o segundo Balaclava Fest no ano com a presença do mesmo Mac DeMarco que trouxeram minutos antes de ele explodir lá fora, no início do ano passado, e realizando a primeira vinda brasileira da banda Thee Oh Sees, uma das maiores bandas de rock desta década. Tudo sem abraçar a lógica do crescimento pelo crescimento puro e simples, apostando nessa referência estética da cultura indie como espinha dorsal. Conversei com o Dotta por email sobre a situação atual do selo/produtora.

Segundo Balaclava Fest em um ano? Vai ser assim, vão fazer o festival sempre que der vontade?
O conceito do Balaclava Fest surgiu por acaso, numa informalidade que gostamos e abraçamos de vez. Na primeira edição, em abril deste ano no CCSP, a ideia era simplesmente produzir um show do The Shivas – que trouxemos para turnê pelo país – com uma banda do nosso casting. Na mesma época, estávamos em conversa com Mac McCaughan e veio a possibilidade de lançar seu álbum Non-Believers no Brasil, então não queríamos perder esse timing ideal e decidimos trazê-lo também. Duas noites seguidas, mesmo formato e espaço… Nasceu então nosso minifestival. Chamarmos de Fest vem duma intenção de desmistificar essa ideia de que festival precisa ser longo, cansativo, muitas atrações, preço inacessível. Não depender de um formato único torna viável realizar quando é conveniente, num período e condições boas para todos.

MacDeMarco

Vocês trouxeram o Mac DeMarco algumas semanas antes do hype dele estourar la fora. Foi mais complicado trazer dessa vez? O fato de ele conhecer o trabalho de vcs ajudou na negociacao?
Trazer o Mac DeMarco ano passado foi uma aposta, nossa primeira experiência em produção internacional, junto com nosso parceiro Bruno Montalvão, da Brain Productions. Tínhamos uma noção de que um bom público acompanhava o trabalho dele por aqui, mas não tínhamos como prever shows esgotados, com o público cantando todas as músicas, inclusive as do até então não-lançado álbum “Salad Days”, que vazou dois meses antes.
A turnê toda ter corrido muito bem e termos criado uma ótima relação com a banda e empresária, com certeza foram pontos essenciais na negociação de uma nova vinda deles ao país. É mais complicado agora porque os valores são outros, dado a dimensão do sucesso dele, e a agenda de shows complicada, tendo que achar um período exato que funcionasse tanto para eles quanto para nós e todos produtores aqui.

Como eh trazer bandas gringas para o Brasil em tempos de dólar alto?
É muito complicado e o risco é grande. Por mais que a Balaclava mantenha um ritmo constante de shows internacionais, cada produção é estudada com muita atenção e alternamos entre bandas mais consolidadas e apostas menores. Uma produção tem muitos custos fixos e necessários, então é difícil quando o público não entende que não é mais possível cobrar ingresso barato sem grandes incentivos ou patrocínios, que sempre são muito disputados e difíceis de conseguir. Todo mundo acaba se prejudicando com esse dólar alto. Explicar a um agente gringo que o dólar está explodindo no Brasil e que os valores não podem ser os mesmos negociados há meses atrás pode arruinar uma longa relação. As bandas, empresários e agentes que entendem nosso mercado e essa situação atual são as bandas que escolhemos trabalhar, que apostam numa vinda para ampliar seu alcance, seu público, vender mais merchandising, estar presente na imprensa, que gera um efeito dominó de bons resultados.

TheeOhSees

E como foi negociacao com pra trazer os Thee Oh Sees?
Desde que começamos a produzir shows, trazer o Thee Oh Sees já era uma vontade, mas tínhamos outras prioridades e a agenda da banda sempre foi muito difícil. O grande estalo veio em maio deste ano, quando participamos do Primavera Sound em Barcelona e assistimos o show deles na Sala Apolo – talvez melhor casa de show do mundo? -, numa noite extra do festival um dia após o encerramento. Eu sempre falo que a sensação de estar ali é igual ver aqueles vídeos épicos de shows do Nirvana e Mudhoney em 91. Era um mar de crowdsurfing, mosh, todo mundo pulando ou mexendo a cabeça, som alto pra cacete com pressão, dois bateristas no palco em sincronia, John Dwyer incansável, uma música atrás da outra quase sem pausa. Cara, fiquei realmente impressionado. Eu e o Rafael, meu sócio, saímos dali querendo assinar contrato na mesma hora. Foi até que rápido o processo todo, porque uma agente no Chile já estava em conversa com a banda e nós estávamos 100% dispostos a fazer acontecer aqui.

O que mais voces vao fazer em 2015? Mais shows? Bandas novas? Discos novos?
Temos alguns lançamentos nacionais e gringos planejados para esse ano, alguns já anunciados como Homeshake, Yonatan Gat, Meneio e Supercordas, além de outras novidades. Nós além de lançarmos, nos envolvemos em produzir shows e turnês para a maioria das bandas que trabalhamos aqui no Brasil, então isso demanda um bom tempo também. Além do Thee Oh Sees em outubro e Mac DeMarco em novembro, pode surgir algum outro show internacional, estamos negociando.

Quais os planos de vcs para 2016? Alguma coisa que vocês ainda nao fizeram?
Nós nos esforçamos diariamente a produzir cada vez mais conteúdo e novidades, já estamos pensando no primeiro semestre de 2016. Uma nova edição da Sacola Alternativa, mais shows, novos projetos com música e produção, novas turnês e lançamentos. Há muita coisa encaminhada e outras possibilidades que vão surgindo no caminho. Não temos ainda um patrocinador para entregar um certo número de shows num período de tempo, o que nos dá uma insegurança financeira, mas também abre espaço para improvisar e trabalhar em oportunidades mais imediatas. Estamos nos estruturando mais internamente e fortalecendo boas parcerias, 2016 já vai começar no gás total pra nós.

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