Cinco Perguntas Simples: Ronaldo Lemos

, por Alexandre Matias

1) O disco (como suporte físico) acabou?
Acabou sim. O CD hoje já é uma tecnologia obsoleta. É uma mídia grande, com pouca capacidade de armazenamento. No entanto, ele ainda terá uma sobrevida, especialmente nos países em desenvolvimento, da mesma forma como cassetes e vídeo-cassetes ainda são usados na Índia e na África. Até mesmo as periferias brasileiras já usam o CD não para músicas, mas sim para arquivos de MP3, sem falar no uso de DVD-R. O futuro da distribuição musical é digital, o suporte só fará sentido em casos específicos.

2) Como a música será consumida no futuro? Quem paga a conta?
A tendência é a música se distanciar cada vez mais do conceito de mercadoria e se aproximar da idéia de um serviço. O iTunes hoje faz sucesso vendendo música como mercadoria. Mas o site de música que mais cresce no mundo hoje e já está em segundo lugar, chamado E-Music, já vende música mais como serviço: você paga uma taxa mensal e pode fazer um número específico de downloads. O serviço que todos os consumidores gostariam de ter é pagar uma taxa e poder fazer downloads ilimitados de música.

3) Qual a principal vantagem desta época em que estamos vivendo?
A principal vantagem é que nada ainda está definido, novas instituições estão sendo criadas. O mais interessante é que a sociedade tem um papel importante a desempenhar nisso: a mídia colaborativa e a produção coletiva de conteúdo tem pela primeira vez a chance de ocupar o papel principal. É o caso da Wikipedia, que já é referência em inúmeros assuntos pesquisados no Google, obtendo mais destaque que sites da mídia tradicional como o New York Times e outros. Mas nada é fácil: está havendo uma reação violenta a essa transformação e a batalha está se travando no campo do direito. A lei está sendo mudada para preservar os modelos tradicionais de mídia.

4) Que artista voce só conheceu devido às facilidades da época em que estamos vivendo?
A lista é imensa. A música nunca esteve tão bem, em todas as áreas e sobretudo em termos de música experimental e de vanguarda. Dá para dizer que há uma efervescência em todos os nichos. Sou curador do Tim Festival e o principal problema nos últimos tempos é escolher: há tanta coisa boa e interessante que a cada ano torna-se mais difícil fazer as melhores escolhas. Veja o festival do ano passado: jamais uma banda tão nova quanto o Arcade Fire teria esgotado os ingressos tão rápido se as pessoas não tivessem conhecido a banda pela internet.

5) O estado da indústria da música atual já realizou algum sonho seu que seria impossível em outra época?
A grande novidade da indústria musical é o fato de que o termo “indústria” está se modificando. Diria que hoje dá para falar ir além da idéia de “indústria” e falar em “comunidades”. Essas comunidades, que são totalmente fluidas, constroem ou mantêm nomes novos e antigos independentemente de um planejamento centralizado. Os exemplos são vários: das bandas Arctic Monkeys e Clap Your Hands Say Yeah, que surgiram na Internet, ao Einstuerzende Neubauten, que se mantêm através de um serviço de assinatura oferecido aos fãs através do site. Isso para não falar na emergência da produção cultural das periferias globais, ritmos como tecno-brega, kwaito, reggaeton, cumbia villera, que eu acho a coisa mais importante, chic e interessante que aconteceu desde o tropicalismo.

Ronaldo Lemos é o homem do Creative Commons no Brasil.