Treze Zero Um
Estreei coluninha nova no Rraurl, a pedidos do Camilo e da Gaía, os mentores do site. São treze músicas pra ouvir quando der na telha – minha e sua. Se liga:
1. “Writer’s Block”- Just Jack
Harpa, bateria eletrônica, voz de aeroporto – a intro faz parecer que os Beckistas (lembram do Eels ou do Forrest for the Trees?) voltaram à ação. Rimando preguiçoso sobre perder o celular e se sentir como uma borboleta num furação, Jack põe a pista pra sacudir devagar, até cair num refrão quase pensativo – doce e chapado.
2. “Salve” – Tommy Guerrero
Bossa novinha baixo perfil, quase tímida, lo-funk e lo-fi, ela seria apenas uma vírgula na biografia do compadre Tommy, não fosse a participação do nosso Curumin no vocal. Pisando oficialmente em solo americano, o brasileiro canta e improvisa a letra da música, tateando no hip hop ad lib que já vem sendo testado homeopaticamente em seus shows.
3. “Slow Motion” – Futuro
Guitarras ponteagudas, pegada pós-punk, groove disco music, miolo Franz. Essa bandinha de Glasgow não pode dar em nada, mas essa é daquelas músicas pra ouvir dirigindo, no talo, com a certeza de chegar inteiro – e disposto – no final da jornada.
4. “Over and Over (Party Ben’s Smell of Repetition Remix)” – Hot Chip
“Como um macaco tocando pratos em miniature” – a letra nem precisava ser tão explícita. Nem o remix – mas quando o mashupeiro Party Ben coloca o vocal do refrão irresistível do Hot Chip num loop infinito de “over and over and over and over and over”, ele encontra o gancho perfeito para mutar um dos hits de 2006 com os ciclos proto-tranceiros que Giorgio Moroder idealizou para “I Feel Love”, de Donna Summer.
5. “Ooh La” – The Kooks
E essa levadinha de violão, pop ensolarado bem acima da média das outras faixas desses Kooks… Como resistir? Música pra chamar os amigos pra fazer um piquenique no campo sábado de tarde – não que você precise chamá-los, ou que o piquenique aconteça no campo ou num sabado à tarde. É só o espírito – e deixa as meninas berrarem como se estivessem cantando sobre si mesmas.
6. “Baranga” – João Brasil
Ode às guerreiras do baixo clero da noite, uma homenagem tão sincera quanto a empolgação no vocal do carioca João Brasil, o hitmaker que ainda não saiu da fila. Enquanto espera sua vez, convida ao groove com o suíngue de um Claudio Zoli e o groove da fase boa do Jota Quest – quando ainda era Jay. Peraê, é sério?
7. “Nausea” – Beck
Outra levadinha de violão de veraneio, embora o tema e o título deixe a atmosfera tensa desde o início, eis o camarada Beck recorrendo ao mestre Dylan para voltar à boa forma. Tempos modernos…
8. “Damn, Girl” – Justin Timberlake
Base seca, gemidos e sussurros, teclado derretendo, falsete e um refrão que faz o sol e a lua nascerem ao mesmo tempo, R&B elevado à condição de Arte – do naipe do Prince e de Michael. O Black Eyed Peas Will.I.Am acaba sobrando com seu rap bocudo. Justin, por outro lado, desliza de smoking – classe e groove na mesma medida, quase um James Bond americano.
9. “That Old Spell” – Cassiano Fagundes
Soul rasgado com rock alternativo, como se Bob Mould resolvesse virar o Prince ainda nos áureos tempos do Hüsker Dü. O curitibano Cassiano, um dos Bad Folks e veterano do Magog, segue seu rumo, sempre na paralela.
10. “Take Me Back to Your House” – Basement Jaxx
Country e house não parece ser, nem de longe, uma combinação agradável. Mas os jaxxistas têm a manha do groove redondo e colocaram um vocal soul para conduzir a mistura – que o vídeo leva para a Rússia czarista. Delícia!
11. “Semáforo” – Vanguart
Esse um típico hit de internet e o principal motivo para esta coluna não se ater a lançamentos ou a músicas recém-saídas do forno. “Semáforo”, do grupo matogrossense Vanguart, deve ter mais de um ano de existência e pra muita gente já é do arco da velha – tanto que é cantada em uníssono pela platéia em qualquer show da banda. E resume bem os intuitos dos cinco – folk rock, Radiohead, Bob Dylan, glam e Secos & Molhados. E com letra em português daquelas de mostrar possibilidades pra toda uma geração.
12. “Don Gon Do It” – Rapture
Parece comercial dos anos 70, mas cai num bate-estaca sintético que cogita Robert Smith como um dos fundadores do Gang of Four (que mané new rave, as mesmas referências do começo continuam lá), mas caindo pro pop descompromissado, sem politicagens ou chororôs existenciais. Se liga no cowbell – nenhuma música usa cowbell impunemente.
13. “Eple” – Røyksopp
Ah, e daí que essa música tem cinco anos? Deixem os passarinhos sintéticos imaginados pela dupla sueca cantar em paz! E fique na paz…