Jane B. par Agnès V. sobre a câmera

, por Alexandre Matias

Eis um trecho do filme que Agnès Vardas fez sobre Jane Birkin em 1988. Neste momento de Jane B. par Agnès V. as duas falam sobre olhar para a câmera. Assista abaixo:

V: Duas questões: você gosta de ser filmada? E gosta de falar sobre você mesma?
B: Sim… e não. Sim porque me relaciono com quem dirige para descobrir o que se quer. E não porque eu não conheço as regras do jogo. Eu quero dar tudo, quero me afogar e eles me resgatam e dizem “não, finja mais, foi muito real”. E às vezes é o contrário. Por que me pergunta isso? Quais são as perguntas? As de verdade ou de mentira?
V: Quer beber algo?
B: Café, café!
V: Percebi que em entrevistas e fotos você nunca olha para a câmera.
B: Não.
V: Por quê?
B: Eu não gosto do buraco.
V: Olhando… no olho!
B: É constrangedor.
V: Por quê?
B: Porque é muito pessoal.
V: Por quê?
B: Porque é como estar olhando para alguém, é muito pessoal.
V: Talvez seja um espelho.
B: Outras pessoas não te veem num espelho. Você olha para você mesma.
V: Exatamente. Estou filmando seu autorretrato. Mas você não está só no espelho. Tem a câmera, que é um pedaço meu. E não se importe se eu aparecer no espelho ou ao fundo.
B: Eu olho para você mas não para a câmera. Pode ser uma armadilha.
V: Eu não quero te pegar, te encurralar. Um filme mostra 24 retratos diferentes por segundo ou por hora. Você tem que jogar de acordo com as regras. Olhe para a câmera o máximo que consiga. Olhe para ela. Porque senão você não estará olhando para mim.
B: Estou tentando!
V: Você concordou em fazer o filme…
B: Sim, chefe.

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