Jane B. par Agnès V. sobre a câmera
Eis um trecho do filme que Agnès Vardas fez sobre Jane Birkin em 1988. Neste momento de Jane B. par Agnès V. as duas falam sobre olhar para a câmera. Assista abaixo:
V: Duas questões: você gosta de ser filmada? E gosta de falar sobre você mesma?
B: Sim… e não. Sim porque me relaciono com quem dirige para descobrir o que se quer. E não porque eu não conheço as regras do jogo. Eu quero dar tudo, quero me afogar e eles me resgatam e dizem “não, finja mais, foi muito real”. E às vezes é o contrário. Por que me pergunta isso? Quais são as perguntas? As de verdade ou de mentira?
V: Quer beber algo?
B: Café, café!
V: Percebi que em entrevistas e fotos você nunca olha para a câmera.
B: Não.
V: Por quê?
B: Eu não gosto do buraco.
V: Olhando… no olho!
B: É constrangedor.
V: Por quê?
B: Porque é muito pessoal.
V: Por quê?
B: Porque é como estar olhando para alguém, é muito pessoal.
V: Talvez seja um espelho.
B: Outras pessoas não te veem num espelho. Você olha para você mesma.
V: Exatamente. Estou filmando seu autorretrato. Mas você não está só no espelho. Tem a câmera, que é um pedaço meu. E não se importe se eu aparecer no espelho ou ao fundo.
B: Eu olho para você mas não para a câmera. Pode ser uma armadilha.
V: Eu não quero te pegar, te encurralar. Um filme mostra 24 retratos diferentes por segundo ou por hora. Você tem que jogar de acordo com as regras. Olhe para a câmera o máximo que consiga. Olhe para ela. Porque senão você não estará olhando para mim.
B: Estou tentando!
V: Você concordou em fazer o filme…
B: Sim, chefe.