Morris deixa de ser doutor
O cantor e compositor paulistano Dr. Morris abandona o prenome ao anunciar seu segundo disco solo. “O apelido vem de uma forma carinhosa como era chamado por músicos pernambucanos em meados dos anos 90”, ele me explica por email. “Até o final do ano passado assinava assim, agora, nessa nova fase, somente Morris” e assim ele começa a mostrar seu Homem Mulher Cavalo Cobra, produzido por Romulo Froes, a partir do clipe de “OnÇa-Çá”, que apresenta em primeira mão no Trabalho Sujo.
“O disco originalmente era para ser inspirado na exposição do artista chinês Ai Wei Wei, mas o Romulo achava que devíamos deixar que o processo de criação determinasse o que seria, dizendo para trabalhar com canções vira-latas, sem raça definida”, ele continua, explicando que o repertório é dividido em quatro blocos: Morte, Identidade, Pessoas e Mitologia. O single que abre os trabalhos faz parte do último bloco: “A escolha foi pela sua variedade estilística e de significados que sintetizam o álbum, como as questões dos direitos dos povos originários, da destruição do meio ambiente e seus resultados, vide a pandemia, e da relação animista, em que o homem enxerga a natureza e os animais horizontalmente, do homem que é onça e vice e versa. Uma forma mais fraterna de se relacionar com o planeta e, consequentemente, com as pessoas.”
Ele ressalta a participação de Anderson Karibáya, representante indígena que leu um poema em seu idioma. “Ele nos impressionou muito com a forma como contava as histórias de cada instrumento e do fazer musical, sobre a música que vira divindade no fazer”. A música ainda conta com a participação do guitarrista Allen Alencar, do baixista Marcelo Cabral, de Rodrigo Campos no cavaquinho, de Igor Caracas na bateria e do percussionista Felipe Roseno. O disco ainda conta com outras tantas participações, como Juçara Marçal, Mauricio Pereira, Romulo Fróes, Juliana Perdigão Benjamim Taubkin, entre outros.
Ele lembra quando entrou em contato com esta turma pela primeira vez: “Em 2009 notei que se reunia uma geração paulista de músicos incríveis, entre eles, Romulo, Rodrigo Campos – que já tinha sido meu parceiro – , Kiko Dinucci, Marcelo Cabral, Juçara Marçal, que estavam explorando algo diferente, para além do virtuosismo ou da tradição, mas apoiado em ambos. Percebi neles mais a arte do que a música.” A parceria com Romulo surgiu daí, a partir de uma composição conjunta, mas foi retomada para o novo álbum no ano passado. “Sempre convivendo com esse desejo primal de compor e cantar com o violão, fiz uma melodia, e toda vez que eu voltava nela ouvia voz do Romulo. Mandei para ele e no dia seguinte ele devolvia uma letra maravilhosa, ‘Doía’. Algum tempo depois, chamei ele para ouvir as canções que estava compondo inspirado pela retrospectiva de Ai Wei Wei. Nessa tarde já estávamos trabalhando no disco.” O álbum completo deve ser lançado em junho.
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