O Step Psicodélico de Tatá Aeroplano

, por Alexandre Matias

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Músico e compositor de múltiplas facetas, Tatá Aeroplano chega a um consenso artístico com as próprias personalidades em seu melhor disco, o delicioso Step Psicodélico, que ele decidiu lançar no Trabalho Sujo. Seu terceiro disco solo repete a colaboração com a banda formada por Junior Boca, Dustan Gallas e Bruno Buarque com quem colaborou nos dois primeiros álbuns, mas chacoalha-se manhoso erguendo ecos de suas personas em projetos do passado e do presente, como o Jumbo Eletro, o Cérebro Eletrônico e o Frito Sampler.

Ter incluído o termo “psicodélico” no título do disco ajudou na definição deste conceito. “Entramos pra gravar o disco e ele não tinha nome ainda”, me explica por email. “Foi assim com o Na Loucura & Na Lucidez (seu disco anterior), eu vou sentindo tudo na hora, o inconsciente e o acaso estão agindo o tempo todo. Quando a gente já estava com o disco todo gravado, saquei que a canção ‘Step Psicodélico’ daria nome ao disco. Foi natural, e eu me senti à vontade com nome.” O disco também teve forte influência de Júpiter Maçã, um dos gurus de Tatá, quemorreu no ano passado quando ele gravava os vocais com uma nova convidada de sua banda, a vocalista Julia Valiengo, que também participa da banda Frito Sampler.

Além de Julia, outros amigos de Tatá participam desse Step, como Peri Pane (que abre o disco com sua “Todos os Homens da Terra” e seu timbre grave), Ciça Gois e Bárbara Eugenia, com quem divide vocais na faixa título. Esta, inclusive, é sua parceira em um de seus próximos trabalhos, já que Tatá não para: “Nós vamos lançar no ano que vem”, planeja. “Não vejo a hora da gente entrar em estúdio pra gravar com a Bárbara esse disco vai ser massa demais”, comemora.

O disco também pode ser baixado no site oficial de Tatá e ouvido no Bandcamp e no YouTube (e, em breve, em todas as plataformas de streaming).

Quando você começou a pensar nesse disco? Quando você viu que Na Loucura & Na Lucidez havia terminado seu ciclo e era hora de começar um novo?
A gravação do primeiro disco em 2012 no Estúdio Minduca com Dustan Gallas, Junior Boca e Bruno Buarque, foi marcante e um baita aprendizado pra mim, tive uma verdadeira aula de produção musical com os rapazes. Em dezembro de 2013 já engatamos no disco Na Loucura & Na Lucidez. Foi muito boa a experiência de lançar o primeiro disco em 2012 e o segundo em 2014. No ano passado eu já tinha organizado da gente gravar um novo álbum. Eu componho numa velocidade insana, é música o tempo inteiro, a gente vai atropelando um disco no outro.

Como aconteceu o processo de criação e gravação do disco? O quanto os músicos estiveram envolvidos no processo de criação?
A nossa dinâmica musical dentro de estúdio é ótima. Tudo muito visceral. Quando entro pra gravar eu me entrego de corpo e espírito e vivemos totalmente dentro do clima do disco. Acho que nós vamos emendando os ciclos entre um disco e outro. São os tempos que vivemos, onde tudo é intenso. Tem a vida real e tem a vida virtual. Viver esse novo momento tem sido incrível.
No ano passado eu fiz uma mini tour incrível em Portugal. Tomei contato com alguns nomes da música popular de lá, como Serginho Godinho e Fausto, com a geração atual, Samuel Úria …Capitão Fausto. Voltei pro Brasil e eu fui participar do álbum Frou Frou da Bárbara. O Peri Pane estava lá também e me mostrou a letra de “Todos Os Homens da Terra”, eu li uma vez e criei a melodia na hora. No dia seguinte, o Peri me enviou a música, e nesse mesmo dia eu musiquei uma letra do Gustavo Galo … passei a tarde inteira compondo … nasceu no mesmo dia “Step Psicodélico”, “Dois Lamentos” e “Passando o Chapéu Na Noite Purpurina”, num só dia nasceu a espinha dorsal do disco.
Ontem, nos reunimos pra festejar. E lá pelas tantas, todos dançando e curtindo as canções que nos embalaram na adolescência. Todos estiveram totalmente envolvidos durante as gravações. O disco tem a participação preciosa e fundamental da Julia Valiengo, que também faz parte do banda do Frito, a gente tem uma conexão musical cósmica e ela canta comigo em boa parte desse novo trabalho. Foi o terceiro álbum com as mesmos parceiros, Dustan Gallas, Junior Boca e Bruno Buarque no mesmo estúdio. Então fica fácil porque a gente tá muito entrosado. Levantávamos todos os arranjos coletivamente e já gravávamos tudo. Foi um disco muito ao vivo. Eu ficava com a Julia, num compartimento cantando juntos de frente pro outro. Rendeu super essa dinâmica e muita coisa de voz feita nos primeiros takes ficaram.

Step Psicodélico faz uma espécie de genealogia da psicodelia ecoando Mutantes, o pós-tropicalismo, Júpiter Maçã, Of Montreal, Tame Impala, Boogarins. Você acha que o cânone da música psicodélica está cada vez mais sólido?
Acho sim, aliás, a música psicodelica sempre alterou meus sentidos naturalmente, me causa uma embriaguez canábica que eu adoro. E nos dias de hoje, que não existe mais a industria da música, a gente segue livre gravando os discos buscando a sonoridade que a gente mais gosta. Por isso a música psicodélica atual vive seu apogeu. É um dos momentos mais incríveis para essa psicodelia. Aliás, a geração dos 20 anos agora está deliciosamente psicodélica. Tá lindo demais e na música essas bandas que você citou são sempre fonte de inspiração pra mim.

O que você tem achado desse revival psicodélico, tanto no exterior quanto no Brasil? Quem são seus novos artistas favoritos nesta seara?
Semana passada vi o show da banda Luneta Mágica em Sampa, adoro eles, são de Manaus estavam em turnê por Sampa. Piro com o Supercordas, O Terno, Rafael Castro, tem meu amigo Juliano Gauche que também é adepto da psicodélia em seus álbuns, Cidadão Instigado, o Junior Boca tem uma banda incrível chamada Submarinos, curti muito o som Phill Zr, que eu conheci recentemente, ele é do interior e muito talentoso, conheci no ano passado o Gago Gnomo, outro cara que bebe na fonte da psicodelia e inclusive me acompanhou em alguns shows que eu fiz em Sampa. Mutantes e Júpiter Maçã vivem comigo o tempo inteiro. É tanta coisa que eu já me perdi aqui … Das bandas gringas … Of Montreal, Connan Mockassin, Tame Impala, Grizzly Bear, são artistas atuais que me fizeram a cabeça e os psicodélicos mili anos nunca saem do meu toca discos, Love, Jefferson Airplane, Tyranossauro Rex, The Doors.

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Júpiter Maçã morreu antes do lançamento desse disco. Sua morte influenciou o disco de alguma forma? Quais suas principais lembranças do saudoso Flavio Basso?
Eu estava com a Julia quando soube do Flavio. A gente tinha acabado de gravar naquele dia as canções em voz e violão pra enviar pro Bruno, Dustan e Boca. Em janeiro eu fui fazer um show com a Julia no Teatro Rural, que fica ao lado do Galpão Busca Vida, e um amigo nosso, o Davi Daidone, nos contou uma história que ele tinha vivido em Joanópolis, a cidade ficou sem luz por conta de uma tempestade e sempre que acontece isso algumas pessoas saem pelas ruas incorporando o lobisomen … No dia seguinte eu estava com a Julia e fizemos a canção “Copo de Pedra”, eu sinto uma influência roqueira do Jupiter nessa canção.
Eu convivi bastante tempo com o Flavio, entre 1999 e 2003. Ajudei ele a fazer o média metragem “Apartment Jazz” e pude acompanhar ele criando, em ação, foi minha maior escola até hoje. Aprendi muito com ele. O Flavio vivia criando o tempo todo e tudo que ele fazia tinha a assinatura dele.

Fale um pouco do tributo que vocês fizeram a Júpiter na Virada Cultural. Quem teve a ideia e como você foi envolvido? Alguém ficou de fora por algum motivo incontornável?
Eu participei do tributo ao convite do Clayton Martin e do Astronauta Pinguim. Eles me convidaram pra eu entrar pra banda e cantar uma parte do repertório do man. Eu não acompanhei a escolha dos convidados e tals, mas muita gente que tocou com Jupiter estava lá: Julio Cascaes, Ray Z, Pinguim, Clayton, Dustan Gallas, Glauco Caruso, Marcelo Gross. Eu sonhei essa noite que tinha outro show onde estavam o Thunderbird e o Scandurra, os dois estavam fazendo shows na Virada do estado que bateu com a Virada de são paulo.

Como serão os shows desse disco? Quando acontece o lançamento e qual a formação da banda?
A gente faz sempre da mesma maneira, gravamos o disco e depois caimos na estrada com o DJ Marco, que solta todos os arranjos que o Dustan Gallas escreve para as canções. Agora teremos a Julia Valiengo conosco, então os shows terão as presenças de Bruno Buarque na bateria, Junior Boca na guitarra, Dustan Gallas no baixo, DJ Marco nos samplers e eu e a Julia nos vocais! Vamos lançar o disco na rede hoje e o show de lançamento em breve será anunciado.

A música brasileira vive sua fase mais rica?
É um dos momentos mais ricos com certeza, acho que hoje, pela facilidade em gravar discos com qualidade técnica e com as mudanças do mercado fonográfico, todo mundo que tiver afim de fazer um álbum colocando toda a verdade e amor lá dentro … sai com um belo disco pra lançar e divulgar. Nós vivemos o melhor momento pra fazer esse tipo de coisa nos dias de hoje.

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