Nada Como Um Dia Após Outro Dia – Racionais MCs

, por Alexandre Matias

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A história da ascensão dos Racionais está ligada diretamente à paulistanização do resto do Brasil. À medida em que o resto do dinheiro que existia no Rio de Janeiro começava a se deslocar de vez para o outro lado da Dutra durante os Anos Fernando, o Brasil deixou de falar “s” chiado e “r” arrastado para chamar os caras de “mano”, as meninas de “mina” e a noite virar “balada”. E acompanhando o passo dos anos 90, passaram por diferentes degraus: nova banda de rap, principal nome do hip hop de São Paulo, porta-voz da metade debaixo da pirâmide social brasileira, sempre crescendo em tamanho e importância. Os Racionais MCs são o Legião Urbana da parte pobre do Brasil e Renato Russo era só um indie birrento perto do magnetismo zen, ameaçador e populista de Mano Brown. E se música é filme, o duplo Nada Como Um Dia… que seguiu sua obra-prima de 1997 (Sobrevivendo no Inferno, Taxi Driver com Touro Indomável) é algo entre o GoodFellas e o Cassino do gangsta rap brasileiro. Scorsese operático, a lente de KL Jay empresta um glamour artificial (leia-se “g-funk”) a uma rotina dramática e pesada – e transforma o rap na trilha sonora de um Brasil paulistano, cheio da grana e sempre desconfiado – noiado e barão. “Vida Loka”, como dizem.