2007: O pop brasileiro e a responsa

, por Alexandre Matias

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O “tempo” dado pelo Los Hermanos no meio do ano parecia exagero até começarem a pintar as notícias do que os integrantes estavam fazendo após seus shows de despedida, no meio do ano. Camelo passou gravou com Sandy & Júnior e apareceu em shows de veteranos do nosso pop, como Marcos Valle, Titãs e Paralamas. Amarante bandeou-se para a gringa, e virou integrante da banda de Devendra Banhart e flertando com integrantes dos Strokes. Ambos vocalistas ainda passaram por apresentações da Orquestra Imperial, esse enorme e itinerante boteco carioca vintage para paulista ver. Medina segue blogueiro full-time, enquanto Barba passeou por aí assumindo as baquetas do Jason, do Latuya e do Canastra. Ou seja: coisas para fazer por aí, eles tinham.

Mas o que isso quer dizer sobre o pop brasileiro atual? Quando uma de suas principais bandas suspende suas atividades para matar a vontade de fazer participações especiais, isso pode ser entendido como um reflexo deste cenário?

Pode ser coincidência, mas tem a ver. 2007 não foi um ano bom para a música brasileira – longe disso, aliás. Talvez tenha a ver com a crise dos CDs, que, finalmente, bateu com força: perceba como as gôndolas de discos ficaram menores nas grandes lojas ou como as seções de clássico e jazz das megastores estão ganhando importância perto das de lançamentos. Isso fez com que as grandes gravadoras não investissem mais em novos artistas e insistissem na fórmula greatest-hits/ao vivo/acústico. Até Lobão, quem diria, entrou nessa dança.

Certamente tem a ver com uma nova safra de artistas que ainda não se firmou como tal – nomes como Superguidis, Vanguart, Móveis Coloniais de Acaju, Lucy and the Popsonics, Canastra, The Feitos, Fino Coletivo, Los Poronga, Terminal Guadalupe, Violins, China e Charme Chulo são alguns que estão no primeiro ou segundo disco, mas que ainda não emplacaram no imaginário coletivo e correm por fora do circuito rádio e TV através da internet e dos festivais independentes que, com a consolidação da Abrafin, prometem começar a desequilibrar este cenário em 2008.

Enquanto isso, o dial e a programação da TV são tomadas por clones de CPM 22 – os emos estão por todo o lado, incensados até mesmo por Jorge Ben. Entre os medalhões da década passada, nada de novo: o Pato Fu tentou fugir da mesmice ao lançar primeiro seu disco online para depois transformá-lo em disco físico, a Nação Zumbi trocou a Trama pela Deck e fez seu disco mais fraco. Em ambos casos, projetos paralelos das duas bandas saíram-se melhor (tanto o Maquinado de Lucio Maia é melhor que Fome de Tudo, quanto o disco-tributo que Fernanda Takai fez a Nara Leão é melhor resolvido que Daqui pro Futuro). Seus contemporâneos – O Rappa, Mundo Livre S/A, Marcelo D2 – seguiram apenas fazendo shows e contando os trocados, e importando tanto quanto as bandas de axé ou de pagode. Nem a MPB fez algo digno de nota – tirando Paulinho da Viola, 2007 foi um imenso “mais do mesmo”. O mesmo pode ser dito sobre o hip hop e a eletrônica (esta última com melhores dias, graças ao disco de Gui Boratto e a um início de cena que junta Bo$$ in Drama, Twelves e outras duplas de produtores num mesmo balaio).

Talvez a única real movimentação no pop nacional atual seja na música instrumental pós-Hurtmold. O gênero deixou de estar vinculado à surf music e abriu suas portas para o jazz. Bandas como Banalizando, Mamma Cadela, Lavoura e projetos do próprio Hurtmold (como o solo do Granado, Bodes & Elefantes, e o de Takara) encontram pouco a pouco mais terreno para crescer sem estarem necessariamente vinculados ao pop, ao rock ou a refrões.

E o que isso tudo tem a ver com o hiato proposto pelo Los Hermanos? Sem saber o que fazer, o pop nacional prefere experimentar ao se assumir como tal. Assim, artistas seguem fazendo frilas, projetos solo e participando de discos e shows alheios, regravando velhos consagrados e usando destes subterfúgios para fugir da responsabilidade do sucesso. E aí chegamos à principal pergunta deste fim de década: o que é sucesso? Tocar no rádio, ter uma base de fãs, número de downloads, fazer o que se gosta…? É nessa encruzilhada que se encontra o pop nacional, esperando que alguém decida por ele o que ele mesmo deveria decidir.