2007: Amy & Britney

, por Alexandre Matias

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Britney e Amy, Amy e Britney, dois nomes que povoaram 2007 como protagonistas deste reality show planetário que é o mundo das celebridades. Amy e Britney, Britney e Amy, uma inglesa e a outra americana, uma soul e a outra pop, uma classuda e a outra de baixo calão. Elas têm dois anos de diferença entre si e suas histórias cruzaram-se como dois dos principais nomes do pop no ano passado, reaquecendo a piada do primo rico e do primo pobre ao mostrar que a fama só não é mais implacável do que a morte. Ainda mais hoje em dia.

Britney continuou tendo filhos e enfiando o pé na jaca como nos anos anteriores, mas em 2007, cometeu um dos pecados mortais: engordou. Sua apresentação na premiação da matriz da MTV ofuscou o lançamento de um bom single de seu primeiro disco consistente (Blackout não tem encheção de lingüiça e, mesmo In the Zone sendo certinho, o melhor disco de Britney ainda era sua coletânea) porque ela estava acima do peso… Junte isso com um senso de maternidade semelhante ao de Michael Jackson e algumas saídas de casa sem calcinha e temos a Marilyn sofrida de nossa época, um ícone em frangalhos, mas ainda sim, ícone. O suicídio, cada vez mais plausível, coroaria uma carreira pop brilhante – e uma vida de merda.

Já Amy, uma quase anônima antes do segundo semestre de 2006, cometeu outro pecado mortal: emagreceu – demais. Depois de tornar-se hit na Inglaterra com o ótimo Back to Black, ela passou o ano passado inteiro tomando os EUA de assalto – e consequentemente o mundo e a mídia. Catapultada para o sucesso graças ao tema de seu primeiro hit, que a identificava como uma espécie de resposta personificada às cantoras FM dos Estados Unidos, Amy não agüentou o tranco. Depois que entrou no moinho da coluna social mundial, voltou a ter problemas com drogas, com bulimia e com o marido.

E a culpa é de quem? Delas, pra começar, né… Estão nessas desde criança, buscando a fama, o sucesso, o reconhecimento comercial e artístico simultâneo… Dá nisso. Cada uma teve um tipo de criação (Britney esteve no Clube do Mickey, Amy vem de uma família de jazzistas) e valores completamente diferentes (Britney não deve saber quem foi Etta James, Amy não deve saber o que é auto-tunning), mas caíram no mesmo rolo compressor sem distinção. Na hora de virar carne moída, não importa se você é white trash ou soul fino ou o Jeremias: a máquina aprendeu que sangue novo vende notícia e tome factóide com press release atrás de vídeo feito no celular com marca d’água de corporação de mídia.

E a moral dessa história é que elas conseguiram o que queriam, mas não contavam com a pressão (que, na mulher, vem em dobro). Ou seja: são poucos que têm a manha de lidar com a fama em grande escala e boa parte dessas pessoas são políticos ou players de Hollywood. Músicos costumavam dar conta do recado, mas, tirando as duas como representantes de um universo sonoro cada vez mais esquizofrênico e caótico, vemos que isso é passado. Paul McCartney e Bono Vox tornam-se igualmente dinossáuricos e as bandas da geração Strokes parecem não interessar aos tablóides, a não ser quando se picam e saem com modelos. O Daft Punk sequer mostra o rosto.

Ou seja: “se não agüenta, por que veio?”, é a pergunta que qualquer candidato a fama sente pesar nos ombros antes de desabar no choro – e garantir mais umas manchetes e fotinhas no canto da home de milhares de sites pelo planeta. Amy ainda pode ter salvação pois Mark Ronson, seu produtor (já já falo dele), disse estar disposto a criar seu próprio wall of sound (como os de Phil Spector) para canções tristes, mas ainda espera ouvir as músicas novas da cantora – que também vem sendo cortejada pelo hitmaker Timbaland (medo). Já Britney segue em sua ladeira, cada vez mais vertical que horizontal.