20 anos da carreira solo de Bonifrate
Aproveitando essa quinta-feira cheia de anúncios sobre marcos da música indie brasileira deste século, quem também faz aniversário é a carreira solo do senhor Pedro Bonifrate, líder dos clássicos Supercordas, que resolveu finalmente colocar pra jogo sua primeira gravação solo nas plataformas digitais como uma forma de celebrar os vinte anos de sua vida fonográfica. O disco Os Anões da Villa do Magma (20º Aniversário Deluxe) chega finalmente chega à era do streaming duas décadas depois de estrear na era do download, como o próprio Pedro lembra-se: “Anões foi lançado como se fazia de forma independente em 2005: no Trama Virtual, que o listou como um dos melhores do ano, no MySpace e como download direto do site”, até transformar-se em CD pelo saudoso selo Peligro, com a capa assinada por Ana Helena Tokutake. Mas a nova edição não traz simplesmente o disco remasterizado a partir das fitas originais, mas também uma série de músicas novas daquele mesmo período, entre versões anteriores das canções, uma música revertida, “canção totalmente inédita que foi abandonada no caminho” e o novo remix para “Estudo Rural em Ré Maior”, que Pedro escolheu como novo single do trabalho, que ganha clipe e chega às plataformas nessa sexta-feira, mas pode ser visto em primeira mão aqui no Trabalho Sujo.
Assista abaixo:
Bonifrate explica que voltar a Anões foi mais uma aventura técnica do que sentimental. “Foi maravilhoso ter encontrado esses projetos abertos e poder mixar essas faixas do zero esse ano”, ele continua. “Anões é aquele disco bem lo-fi, de apartamento, violão, teclas e guitarras, percussões, tudo bem pequeno, portátil e acústico, por isso a nova abordagem foi mais sobre deixar os sons mais naturais ainda do que sobre chapar de efeitos ou preencher com algo que não estava ali. E minha conclusão é que faz uma diferença brutal você saber minimamente operar equalizadores e compressores. Eu odiava a minha voz nesse disco, mas só com EQ e compressão, às vezes um pouco de distorção, eu já fiquei bem mais tranquilo com ela.”
Perguntei se houve algum trauma ou impacto emocional em voltar tanto tempo no próprio trabalho e ele explicou que gosta de ouvir suas músicas antigas de vez em quando: “Não sou desses que larga pra trás o que já está terminado e não visita mais.” “É doido constatar que não conheço nenhum som contemporâneo que soe como esse disco, mesmo o som lo-fi hoje em dia é cheio de charme e sofisticação na produção, tem sons grandes e extremos”, lembra. “Eu era um aprendiz nas gravações caseiras e sinto como se estivesse sempre fazendo um mínimo para as canções funcionarem.”
E quando o questionei se isso poderia ser a deixa para novos relançamentos, ele tocou num ponto nevrálgico – o relançamento de Seres Verdes ao Redor, o disco mais emblemático dos Supercordas, que até hoje não está nas plataformas de streaming. “Eu sempre estou disposto a abrir esses baús, pois acho que se a gente não celebra o nosso passado, talvez ninguém mais vá fazer isso”, continua, lembrando do outro disco citado, que completa 20 anos no ano que vem, mas que, segundo ele, conta com limitações sérias, “tanto em relação às músicas quanto à arte, que foi desenhada em tamanho de CD. Logo depois de terminar esse disco, eu fiz besteira com os HDs e sumi com os projetos de gravação, então só o que temos é a velha mixagem, que pode no máximo ser remasterizada”, continua. “Tem sempre gente botando pilha sobre uma reedição desse disco nas redes, ou ao menos que ele seja lançado nas plataformas. Particularmente eu gosto quando não acho alguma coisa que curto muito nas plataformas, é sinal de que ainda existe alguma resistência a esse monopolismo sinistro. Mas vamos ver, nunca se sabe o que pode rolar.” Na torcida.
Tags: bonifrate