18 de 2018: Centro da Terra

, por Alexandre Matias

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A mudança mais perceptível na minha curadoria de música no Centro da Terra em 2018 foi o acréscimo das terças-feiras à programação que começou em 2017 apenas às segundas. Mas ao contrário da sessão já estabelecida – Segundamente, com suas quatro apresentações distintas -, a terça-feira não ganhou um nome e tinha uma característica mais fluida e menos radical que a proposta do início da semana. Assim, tivemos temporadas tradicionais, com um artista experimentando o mesmo repertório ou formações sem necessariamente mudar drasticamente entre uma semana e outra: Luedji Luna, Negro Leo, Tassia Reis, o Corte de Alzira Espíndola, Tika e Kika, Guizado, Gui Amabis, Mawaca e o Mdm Duo dos guitarristas do Hurtmold optaram por manter um repertório base e mexer – quando mexiam – nos convidados, azeitando experimentações sonoras que vinham testando sem necessariamente pensar em transformar o show em disco, valorizando mais o processo que um futuro produto final. A terça também abriu para shows únicos, opções de aprofundar apresentações tradicionais para um ambiente mais acolhedor, comunitário e introspectivo que vem sendo criado no pequeno teatro do Sumaré. Assim aconteceram as apresentações de Filipe Catto, do produtor Grassmass, do Redemunho de Mariá Portugal, da Papisa de Rita Oliva, dos Vermes do Limbo, da Nomade Orquestra, do Lux Aeterna de Fábio Golfetti, do Porcas e Borboletas, expandindo para além do música, adotando elementos cênicos à apresentação.

Se a lógica da segunda-feira invadiu algumas temporadas de terça – como a do Garotas Suecas -, o inverso também acabou influenciando as segundas-feiras. Rico Dalasam, Rakta, Metá Metá, Vítor Araújo e Universal Maurício Orchestra aproveitaram suas temporadas para criar uma experiência fechada, o espetáculo como um fim em si mesmo. A atmosfera criada ao redor daquele palco propicia momentos de reverência e êxtase que cala conversas paralelas – mesmo ao celular -, registros audiovisuais e coloca todos os espectadores imersos no que acontece durante a apresentação. Mas a lógica do Segundamente manteve-se aberta em temporadas plurais em que artistas como Edgard Scandurra, Larissa Conforto e Bárbara Eugenia pudessem explorar facetas distintas de sua própria musicalidade. Ainda exploramos, no susto, uma ideia que eu vinha acalentando de abrir espaço para um futuro próximo que foi a temporada Sem Palavras, que reuniu quatro apresentações de diferentes grupos instrumentais para abrir espaço também para a sonoridade além da canção no Centro da Terra.

A experiência de 2018 foi menos radical que a do ano anterior e é reconfortante perceber que o público já desfruta deste um desafio artístico e comercial abraçando tais experiências como se fizesse parte delas – como realmente faz. Por mais que o espectador apenas observe passivamente o que acontece no palco, o ritual criado a partir da apresentação ao vivo transcende o que músicos poderiam fazer no estúdio ou em salas de ensaio. A formalidade do espetáculo exige uma apreciação focada, em que a atenção e a audiência atingem um equilíbrio intenso entre o artista e o público. Todas as distrações do puro entretenimento – a balada, o xaveco, a bebida, as redes sociais – ficam em segundo plano nestes momentos em que prevalece o apreço pela arte. Foram 84 apresentações durante todo o ano que tornaram este sentimento palpável – e algumas noites, e temporadas inteiras, históricas. Aproveito para agradecer publicamente à Keren por esta oportunidade e aprendizado constante e mútuo. Tem sido uma senhora viagem!

2019 segue este fluxo – mas vamos ainda além. Prepare-se.

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