“Toda Realidade é Virtual”

, por Alexandre Matias

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O Mini desenterrou uma entrevista que ele fez em 2002 com o Lama Padma Santem, pra Play, a revista que eu editava… Sente o drama:

Um mestre budista. Sereno, vivendo no meio do mato, em uma casa simples, totalmente desconectado do agitado dia-a-dia mundano. Em busca da paz de espírito através do silêncio e do isolamento. Sério. Silencioso. Impassível. Todos esses clichês se derretem implacavelmente quando entro em uma das salas do Centro de Estudos Budistas Bodisatva e dou de cara com o Lama Padma Samten sentado ao lado de um aluno que o ajuda a fazer a transferência dos arquivos de seu antigo laptop Compaq para o novo Toshiba. Ele me mostra o problema: uma faixa preta atravessa o monitor do Compaq e atrapalha a leitura. O conserto demora cerca de trinta dias e o Lama Samten não pode ficar tanto tempo sem uma de suas principais ferramentas de trabalho. Ele brinca, falando com seu ex-laptop.

“Por que você fez isso comigo? Agora eu tive que te trocar.”

Levamos a vida como uma espécie de realidade virtual. Criamos cenários mentais de acordo com nossas experiências e fazemos de tudo para que o mundo ao redor corresponda a esses cenários. Se isso não se verifica, o que ocorre com freqüência, há um choque. Como quando vemos um mestre em meditação – uma arte de cinco mil anos – às voltas com problemas tecnológicos bem atuais. Mas o Lama Padma Samten é assim. Um enigma ambulante, produto de vivências aparentemente tão díspares quanto a física quântica, a ioga e o cooperativismo rural.

Eu disse aparentemente. A vida de Alfredo Aveline, nome de batismo do Lama, é a prova de que a interconectividade é iminente no planeta Terra. A convergência de mídias a que assistimos, a instantaneidade na transmissão dos fatos ao redor do globo, a permanente vigilância a qual estamos sendo submetidos, tudo isso nada mais é do que a manifestação material de processos mentais que ocorrem dentro de nós mesmos. Aos 53 anos, o Lama Samten já percorreu mais caminhos do que podemos imaginar. Caminhos internos e externos. Materiais e mentais. De físico estudioso do processo cognitivo a líder de comunidade alternativa no interior do Rio Grande do Sul, de cientista a religioso, o Lama desafia pessoalmente a lógica que julgamos reger o universo.

De volta ao laptop. As cores parecem saltar do novo monitor, cada pixel envia luz artificial ao rosto do Lama. É a magia da tecnologia invadindo um local, de certa maneira sagrado, que apresenta imagens nas paredes e caixas de livros budistas por todos os cantos. A poucos metros, está a sala de meditação, um espaço amplo e colorido onde o Lama Samten dá seus ensinamentos e conduz retiros. O Centro fica em um sítio em Viamão, cidade vizinha de Porto Alegre. Sãos duas casas onde se distribuem a sala de meditação, os aposentos do Lama, cozinha, banheiros e quartos de outras pessoas que moram lá. Ainda há um terceiro prédio em construção que virá a ser um grande templo, assim que mais recursos chegarem por intermédio de doações, venda de livros ou ensinamentos do Lama.

A zoeira urbana de Porto Alegre dá lugar a uma sinfonia rural de grilos e outros animais. Sons de teclas pressionadas, de um CD-ROM sendo ejetado e murmúrios contra uma instalação malsucedida são mixados à trilha bucólica: é o chill out do novo século. Então, o Lama Samten levanta e deixa seu aluno com a missão de fazer funcionar o Toshiba para me atender numa sala ao lado.

Conversamos, observados por tangkas, pinturas à mão feitas em tecido com imagens de entidades budistas. Acomodamo-nos e começo com a pergunta básica. Lama Samten foi físico antes de lama. O que ligou áreas de conhecimento consideradas tão distantes?

“Desde jovem, eu tinha várias áreas de interesse. Uma era a questão da natureza da realidade e a espiritualidade. Eu praticava ioga desde adolescente, sozinho, sem professor. Também tinha uma espécie de envolvimento com as condições sociais e ambientais. Como eram assuntos que até então não se tocavam, percebi que havia um esgotamento aí. Tudo estava convergindo para um modo de vida diferente. Uma mudança efetiva deveria acontecer. Nessa época saí da universidade, passei dois anos e meio em uma comunidade criada por mim onde a gente testou várias idéias. Idéias ecológicas, idéias de organização social, idéias de sistemas de produção e também junto à espiritualidade e à exploração da questão cognitiva da natureza da realidade”.

Natureza da realidade. Este é um termo muito citado pelo Lama Samten. É o cerne do budismo vajraiana, uma das linhagens budistas. Enquanto o theravada enfoca a remoção de obstáculos através da superação das dificuldades particulares e o mahaiana busca a libertação através do benefício a outros seres, o vajraiana apóia-se na investigação minuciosa e honesta da mente humana. Não com tomografias computadorizadas, mas baseando-se na premissa de que o observador de uma experiência é sempre parte dela. Uma viagem interna tão radical quanto qualquer jogo de realidade virtual.

“O que aconteceu nessa comunidade, nesse período, foi eu perceber a grande profundidade do pensamento budista e como ele poderia me levar além dos paradigmas usuais da ciência. Resumindo, me dei conta de que o cientista pode até perceber o fato de que a realidade para a qual ele olha é inseparável da realidade que ele tem dentro, porém, está sempre mais preocupado com a realidade que está fora, porque é assim que ele faz sua busca. Vai sempre olhar o que está fora. Quando me deparei com esta questão do dentro-fora, vi que o espaço interno é muito maior do que o externo. Foi nesse momento que fundei o Centro de Estudos Budistas Bodisatva e propus ao Departamento de Filosofia da UFRGS, e mais tarde ao Departamento de Física, a criação de uma disciplina que tratasse desses elementos ligados à cognição, à compreensão do saber, de como nós sabemos, como nós aprendemos e entendemos, mas especialmente de como nós nos enganamos. Tratando dessas questões, de qual é o erro do cientista, porque os cientistas comprovam experimentalmente suas teorias e mesmo assim elas mudam. É espantoso, porque elas são comprovadas experimentalmente mas, mesmo assim, mudam, não perduram”.

A entrevista segue assim. Minhas perguntas anotadas são esquecidas perante a eloqüência não-cartesiana do Lama. Cada frase puxa um novo assunto ou uma outra abordagem. É o hipertexto da fala. E a metáfora vem à minha cabeça não como mero recurso literário: as palavras dele parecem realmente abrir novas janelas a cada clique mental.

“Perceba que hoje estamos há 77 anos do surgimento da visão complementar que foi exposta por Niels Bohr na Itália, numa época em que os cientistas mais importantes do mundo cabiam todos em uma única sala. Estavam reunidos ali para resolver como pacificar os fenômenos experimentais com as visões teóricas no que diz respeito à física atômica e à física quântica. A noção complementar do Bohr é uma visão cognitiva filosófica sobre os eventos científicos na qual o observador deixa de ser neutro e passa a ser visto como alguém que interfere de forma muito poderosa na realidade. Isso dito assim pode parecer muito estranho ainda, porque nós temos uma noção de que somos neutros, de que nós apenas olhamos! O fato é que o observador não é neutro porque quando ele olha, tem uma experiência de realidade. Então, a primeira etapa para a compreensão disso é dizer: ´em vez de eu ver a realidade, tenho uma experiência de realidade´. Tem uma diferença muito grande entre nós trabalharmos com a noção de realidade externa e termos uma experiência de realidade externa. Essa transição é muito importante para que possamos compreender a física quântica, a ciência, o aspecto cognitivo e também os aspectos mais sofisticados do budismo. O que nós vemos é inseparável das estruturas de expectativas dentro de nós. O que nós vemos fora espelha a paisagem mental que temos dentro. Num sentido budista, é muito importante notarmos isso porque podemos usar a noção de paisagem mental. Assim, construímos uma paisagem mental através da qual nos relacionamos com o mundo. A própria comunicação entre as pessoas só é possível se elas tiverem partes de suas paisagens mentais em superposição, caso contrário elas não se entendem, mesmo que estejam falando português”.

A conexão espiritualidade-ciência levou-me a fazer uma breve pesquisa e esbarrei em informações sobre o Spiritual Robots Symposium, realizado em abril de 2000. Antes que você imagine uma convenção de malucos estilo trekker, devo sublinhar que o evento foi organizado pelo respeitado professor de ciência da cognição Douglas Hofstader – e ele não precisou contar com rapazes de orelhas do Spock para participar. Pôde ter à mão figuras representativas no meio tecnológico e científico como John Holland, inventor dos algoritmos genéticos e pioneiro na área de inteligência artificial. Há possibilidade de surgir, no futuro, uma espiritualidade nos seres de inteligência artificial?

“Se as máquinas chegarem ao ponto de sofrerem como resultado de sua operação mental, certamente. Por outro lado, cuidado. A mente não é um circuito elétrico. A mente no budismo não é o cérebro ou o circuito neural. A mente não tem nem localização espacial, nem existência tangível. Só a mente enlouquece e só ela verdadeiramente manifesta a consciência espiritual ilimitada. Para as máquinas terem vida espiritual é necessário que nelas se manifeste a mente no sentido amplo, que ultrapassa sua arquitetura de silício e metal.”

Robôs, com alma, desenvolvendo carma?

“Por enquanto, há apenas muitas projeções. Mas um ponto nodal já foi encontrado. Ele se chama processo cognitivo. O problema é realmente experimentarmos isso. Talvez agora, 77 anos depois de Niels Bohr, estejamos nos preparando para compreender isso e colocar essas noções no nosso cotidiano. Vemos isso já acontecendo no fato de que hoje somos mais tolerantes em relação ao comportamento de pessoas diferentes. Eu me comporto assim, você não precisa fazer como eu, você tem uma vida interessante. Isso é bom. Estamos aprendendo que não existe um padrão. Ainda temos uma herança do passado de achar que deveríamos ter padrões mentais, ser de um certo tipo. Mas hoje nós já acreditamos que eu posso fazer de um certo jeito e aquilo ser bom para mim. Mas a outra pessoa pode fazer de um outro jeito e aquilo ser bom para ela. E tudo bem. E, às vezes, acreditamos que quando a outra pessoa é diferente, olhamos para ela e aquilo enriquece a nossa vida. E nós não precisamos pensar que devemos ser como o outro. Então isso já é socialmente um efeito dessa visão complementar. Niels Bohr usa esta palavra, ‘complementaridade’’”.

Sim, você leu certo. Essa espécie de tolerância que há hoje, muito mais do que há 50 anos, não é papo riponga ,mas pura física quântica aplicada ao dia-a-dia. Então me lembro de um outro exemplo: Matrix. Um produto cultural de massa que explorou a noção de realidade relativa. Será que filmes como esse podem despertar o interesse das pessoas no estudo da natureza da realidade?

“Acredito que sim. Observe que o tema da inseparatividade surge ao final quando Neo, após morrer, retorna para derrotar os agentes, mergulhando dentro deles. Essa capacidade é a própria inseparatividade se manifestando. Enquanto ser separado, Neo foi derrotado. Mas na inseparatividade não pôde mais ser alcançado pelos agentes que operam em nível separativo”.

Não é segredo para ninguém que a ficção científica dos irmãos Wachovski bebeu galões de antigas doutrinas orientais e de certos aspectos da física moderna. Embora com bem menos brilho heróico ou hype do que o salvador Neo, o Lama Samten também tem por missão ajudar as pessoas a remover o véu que encobre a verdadeira natureza da realidade. Diferente da solução proposta por Morpheus, a saída aqui não é tão fácil quanto tomar uma pílula. Meditações, leituras e retiros são enfatizados no treinamento budista. Mas isso não invalida as novidades tecnológicas como aliadas. A tecnologia pode ajudar na melhoria espiritual dos seres, mas como?

“Esta pergunta é muito complexa, pois qualquer resposta pode ser contestada. A tecnologia pode ajudar, mas nem por isso é indispensável. Assim, sempre que apontarmos algo, virá uma outra forma de pensar e tudo ficará obscuro. Ainda com essa dificuldade, é necessário perceber que a tecnologia faz parte da nossa vida no ponto exato onde estamos. Sendo assim, ao ajustarmos a nossa motivação para acelerarmos o caminho espiritual, entre nossos instrumentos naturais surgirá a tecnologia e também seus desenvolvimentos futuros. Do mesmo modo que no passado, evoluímos de corpos de peixes para bípedes, hoje nossos corpos incluem a tecnologia. Sem a tecnologia a raça humana se reduziria rapidamente a 1% da população atual. Ainda assim, o ponto de estrangulamento agora é a questão de levar os benefícios atuais a todos os que necessitam e não permitir que o desenvolvimento de novos modos de vida venham a destruir o equilíbrio do ambiente”.

Algumas pessoas que jogam videogame dizem que entram em certos estados meditativos. O que você pensa disso?

“Quando a pessoa joga, ela se transfere para dentro daquela realidade. Ela está em corpo, fala e mente naquela realidade. Não é um estado meditativo no sentido de calma, de profunidade, de compreensão da natureza da realidade. Mas eventualmente uma outra realidade brota por inteiro e a pessoa se transfere para aquela paisagem.”

E isso poderia ser um gancho para observar a natureza da realidade e aprendermos a escapar da nossa realidade virtual?

“Sim. Lá em Salvador nós temos um centro budista que fica no Shopping Aeroclube. Há uma loja de artigos budistas no térreo e em cima uma sala de meditação. Às vezes eu brinco que o verdadeiro templo não está ali, mas ao lado, na loja de jogos eletrônicos, porque ela oferece uma experiência direta: a pessoa está passando pelo shopping. Olha pra dentro da loja. Gera uma aspiração para se transferir para um daqueles mundos particulares – tem alguém ali andando de avião, outro dirigindo um automóvel, outro escalando montanhas, outro defendendo o planeta Terra frente a invasores… daí a pessoa escolhe a realidade. Quando senta, coloca a moeda e aquilo começa a funcionar, ela se transfere em corpo, fala e mente ali pra dentro. Em corpo porque todas as ações do corpo dela dizem respeito ao que ela está vendo na tela. Em fala porque as emoções acompanham aquela paisagem e em mente porque a mente está inteiramente ocupada em olhar todas as nuances das situações e a reagir da maneira mais completa possível. Então quando a pessoa está dentro daquilo, ela não sabe mais que está no shopping. Não sabe se a esposa ficou na porta, se os filhos estão sei lá onde, se o pai está em casa, se amanhã tem prova de matemática. A pessoa se transferiu para uma outra realidade. E assim pode ter uma noção mais clara do que significa estar numa realidade, ter um experiência de realidade. Então quando ela estiver na escola, na prova de matemática, ela também tem que estar assim. Se ela quiser ter sucesso em alguma coisa, vai ter que colocar corpo, fala e mente naquilo. Por que os garotos não aprendem direito matemática? Porque não tem a mente ali, só tem o corpo. Não tem nem a emoção e nem a mente ali. Então, um ambiente como esse pode fornecer essa experiência tão clara. Ela pode treinar, entender a sua vida como um treinamento de colocar junto o corpo coerentemente com as suas emoções, coerentemente com a sua posição de mente.”

O que mais a tecnologia pode oferecer a um budista?

“A minha vida, por exemplo, é interessante a partir do uso da tecnologia. Eu estou me dando conta que manter um escritório físico do CEBB pode não ser uma boa idéia. Porque, por exemplo, as transcrições dos meus ensinamentos têm sido feitas na Suíça. Tem uma brasileira naturalizada suíça que é minha aluna. Ela talvez seja a minha aluna mais assídua e vive na Suíça. Ela é aeromoça, vem seguido, então nós estamos constantemente trabalhando. A maior parte dos textos que foram transcritos e estão virando livros ou circulando na sanga para estudo vem dela. Por outro lado, ela está trabalhando com uma pessoa que também transcreve e corrige que está em Curitiba. Eu também utilizo uma pessoa em Porto Alegre que faz a edição final dos textos que serão publicados em São Paulo. As passagens aéreas, as transações bancárias, é tudo feito de qualquer lugar. O meu contador é de Salvador. Por mais que seja antigo, o termo que me vem à mente é aldeia global. Nós estamos vivendo esses tempos tão fantásticos.”

O próprio budismo sai ganhando com isso também. Quando os chineses invadiram violentamente o Tibet na década de 50 e começaram um processo tortuoso de destruição da cultura tibetana, não imaginaram que na verdade estavam dando um grande empurrão para que os 84 mil métodos de Buda se espalhassem pelo globo.

“Os ensinamentos estão sendo traduzidos em várias partes do mundo e disponíveis na intenet. Coisa que nunca aconteceu. E nós vamos vendo os comentários, os lamas colocando suas considerações na rede. A divulgação de eventos também ficou muito mais fácil. Mas, por exemplo, eu não uso celular. Eu poderia, mas o celular interrompe a vida da gente.”

No número 2 da Play, uma matéria contava que em cientistas criaram o primeiro circuito de silício vivo em Munique. Pergunto ao lama se haverá alguma “facilidade tecnológica” para a meditação com isso.

“Quando ligarem os neurônios a chips, teremos mais hardware. E a iluminação se dá a nível de software. Nossa mente é um software que tem a capacidade da adaptar-se a diferentes hardwares e de auto transformar-se. Agora, como se vê, dispõe também do poder de mudar e expandir o hardware como quiser. Pelos comandos elétricos, o próprio corpo foi sendo criado pelo software-mente, que se desenvolveu junto. A iluminação está ligada a um processo ainda mais básico: é quando o software decide que suas funções de auto-indulgência e auto-satisfação e proteção não são mais o foco. Ele decide ‘morrer’ enquanto identidade e reintegra-se, abandona-se na confiança à natureza básica e luminosa que o produziu e o sustenta. Somos como que robôs autoconscientes e auto-sustentados que enlouquecem através de seus circuitos de satisfação vazia e de proteção também vazia. A iluminação é o retorno à realidade.”

Para alguns, essas idéias todas soam como uma espécie de nova visão mágica do mundo. Antigamente, o que o poderia salvar o homem eram poções ou oferendas para os céus. Hoje, as pessoas estão sempre esperando respostas e soluções das máquinas. A tecnologia pode ser considerada a nova magia?

“A magia é muito mais profunda do que a tecnologia. Eventualmente aceito que as pessoas possam desenvolver apego e expectativas com respeito à tecnologia como, no passado, desenvolveram com respeito a rituais e processos mágicos. Ainda assim é necessário considerar que a magia opera na dimensão da inseparatividade enquanto que a tecnologia opera na separatividade. A magia opera a nível causal sutil, a tecnologia opera a nível causal grosseiro. A meditação budista busca superar a ambos manifestando a liberação dos processos causais pelo repouso da mente em sua natureza e essência ilimitados.”

Uma frase do Lama Samtem me vem à mente: “O fluxo do progresso, bem ou mal, representa a ansiedade das pessoas, aquilo que elas pensam que precisam.” Então como podemos fazer com que haja progresso tecnológico sem ser produzido por essa ansiedade e sem gerar ainda mais ansiedade?

“Não há efetivamente contradição entre a tecnologia e o progresso espiritual. Aliás, a tecnologia pode ser um excelente aliado ao progresso espiritual, oferecendo melhores condições para os praticantes e permitindo um número muito maior de pessoas acessar os ensinamentos e praticá-los, e prolongando e tornando mais saudável a vida. É apenas uma questão de motivação. Se nossa motivação for trazer benefícios reais a nós e aos outros seres, proteger nossa vida e a dos outros seres e chegar a felicidade e às causas da felicidade, a tecnologia pode nos ajudar, porque não? Por outro lado, adicionalmente, se quisermos chegar a iluminação, tendo esta motivação central, a tecnologia pode também nos auxiliar perifericamente. Eu mesmo acredito que meu notebook tem sido essencial para que eu possa ajudar e manter-me próximo de muitos praticantes.”