Excelente a primeira apresentação que Caxtrinho fez de seu recém-lançado disco de estreia, Queda Livre, em São Paulo, quando o jovem sambista experimental participou da programação do evento Periferias Afro-Experimentais, realizado no Sesc Pompeia. Apresentando-se no discreto espaço cênico da unidade mais conhecida do Sesc em São Paulo, ele veio acompanhado de uma banda que só acentuou sua musicalidade distorcida, composta pelos dois guitarristas e produtores do álbum Vovô Bebê e Eduardo Manso (que também disparava efeitos com uma camiseta que decretava, em inglês, “dedicado a ninguém, graças a ninguém, a arte acabou”), pelo baixista João Luiz Lourenço e pelo baterista Kalebe, este último recém-chegado à formação (embora completamente entrosado ao grupo). Mas apesar das presenças de peso na banda, parte forte do núcleo torto do Rio de Janeiro atual (que marca presença no disco graças às participações de Negro Leo, Kau, Marcos Campello, Thomas Harres, Ana Frango Elétrico e dos cariocas honorários Bruno Schiavo e Tori), o holofote da noite não sai de Caxtrinho, showman nato – mesmo reforçando continuamente seu nervosismo – e músico brilhante. Seu violão é um show à parte, samba dissonante tocado de forma percussiva, regendo o ritmo e as harmonias tortas para seu conjunto sem precisar da eletricidade e distorção das guitarras, mas ele também se garante no gogó, com sua voz macia e seu canto falado, que surpreende e dribla o ouvinte ao sair por tangentes improváveis, cantando letras de cunho político e tecendo críticas ao estado das coisas em 2024, em letras que dão a tônica a partir do título: “Cria de Bel” (sufixo de sua região no Rio, Belford Roxo), “Brankkkos”, “Merecedores”, “Samba Errado” (esta em parceria com Rômulo Froes) e “Branca de Trança”, entre outras. Não o perca de vista: Queda Livre é um discão e ao vivo melhora ainda mais.
Dois talentos da atual cena carioca se encontram no palco do Centro da Terra nesta terça-feira para uma apresentação inédita: Gabriel Ventura mostra as canções de seu primeiro disco solo, lançado após o fim de sua banda anterior, a Ventre, ao lado de Pedro Dias Carneiro, mais conhecido como Vovô Bebê, que é reincidente no teatro, quando apresentou-se pela primeira vez em 2019. Juntos e munidos apenas de seus violões e vozes, os dois formalizam o encontro que já existia há tempos, sempre com a brincadeira de batizar este encontro com as sílabas iniciais de seus nomes, criando assim o espetáculo Vô Vê. A apresentação começa pontualmente às 20h e você pode garantir seu ingresso neste link.
E a programação deste agosto no Centro da Terra está daquele jeito que a gente gosta. Começamos no primeiro dia de um mês com cinco segundas-feiras com uma apresentação única na segunda, já que nossas temporadas contam com quatro datas, e a primeira delas vem com a carioca Raquel Dimantas, que acaba de lançar um dos discos mais divertidos deste ano, o ótimo 8 Hits, que apresenta no palco do teatro do Sumaré. No segundo dia do mês é a vez de Bruno Bruni voltar para o Centro da Terra desta vez com sua homenagem a uma das trilhas de videogame mais clássicas que existe, do jogo Super Mario 64. Na outra segunda, dia 8, é a vez do querido Biel Basile, baterista d’O Terno, apresentar sua safra de shows chamada Temporada de Praia, em que começa a burilar sua própria obra autoral, trazendo convidados que ainda irá anunciar – mas a primeira apresentação ele faz sozinho com seu instrumento. No dia 9 é a vez do grupo a capella Gole Seco, formado pelas cantoras Loreta Colucci, Claudia Dantas, Nathalie Alvim e Giu de Castro, mostra o início de seu primeiro disco, que ainda está sendo gestado. Na terça seguinte, dia 16, é a vez do Amarelo, grupo de Meno Del Picchia e Allen Alencar, apresentar o espetáculo Síntese e Máquina, que seria apresentado em junho, mas que por questões de saúde teve de ser adiado. Dia 23 recebemos o encontro de dois cariocas da nova geração, Gabriel Ventura e Vovô Bebê, que apresentam-se juntos músicas de suas carreiras solo. E no penúltimo dia do mês, 30, recebemos uma das melhores bandas novas de rock de São Paulo, Eliminadorzinho Jr., que fará um espetáculo mostrando músicas de seu próximo álbum. As apresentações musicais no Centro da Terra acontecem sempre nas segundas e terças, os espetáculos começam pontualmente às 20h e os ingressos podem ser comprados antecipadamente aqui. E o café do teatro voltou a funcionar – inclusive com drinks e refeições -, por isso se quiser chegar um pouco antes ou ficar um pouco depois, não faça cerimônia…
Sexta-feira 13 é um ótimo dia pra se acabar numa festa online, dizaê… Cola lá às 23h45 no twitch.tv/trabalhosujo – e assim foi a edição da sexta passada.
Big Star – “Thirteen”
Billie Eilish – “Therefore I Am”
Céu – “Rotação”
New Order – “Age of Consent”
Pixies – “Winterlong”
Otto – “Soprei”
Mutantes – “Jogo de Calçada”
Lô Borges – “Faça Seu Jogo”
Queen – “Play the Game”
Goblin – “Witch”
PJ Harvey – “The Last Living Rose”
Patti Smith – “Land”
Of Montreal – “The Past Is A Grotesque Animal”
Daft Punk + Giorgio Moroder – “Giorgio by Moroder”
Digitaldubs- “Fleetwood Dub”
Avalanches + Leon Bridges – “Interstellar Love”
Zé Manoel – “Adupé Obaluaê”
Luedji Luna – “Bom Mesmo É Estar Debaixo D’Água”
Neville Brothers – “In The Still Of The Night”
Yma – “No Aquário”
Dharma Lovers – “Peixes”
Jupiter Apple – “Over the Universe”
Jorge Ben – “Cinco Minutos”
Djavan – “Samurai”
Jards Macalé – “Let’s Play That”
Vovô Bebê – “Êxodo”
Luisa e os Alquimistas + Jéssica Caitano – “Descoladinha”
Katy Perry + Juicy J – “Dark Horse”
Internet – “Dontcha”
Lauryn Hill – “Doo Wop (That Thing)”
Racionais MCs – “Você Me Deve”
Taylor Swift – “Blank Space”
My Chemical Romance – “Teenagers”
David Bowie – “Moonage Daydream”
T-Rex – “Telegram Sam”
Blue Oyster Cult – “(Dont Fear) The Reaper”
Stealers Wheel – “Stuck in The Middle With You”
Steve Miller Band – “Abracadabra”
Kinks – “David Watts”
Doors – “You’re Lost Little Girl”
Velvet Underground – “Candy Says”
Nick Drake – “Poor Boy”
Dionne Warwick – “Walk On By”
Caetano Veloso – “Nine Out of Ten”
Can – “She Brings The Rain”
Carole King – “Beautiful”
Paul McCartney – “Check My Machine”
Bárbara Eugenia + Pélico- “Roupa Suja”
Letrux – “Ninguém Perguntou Por Você”
Eddie – “Sentado Na Beira Do Rio”
Boogarins – “As Chances”
Beatles – “Not Guilty”
Ainda enclausurado.
Dua Lipa – “Break My Heart”
Vovô Bebê – “Aluno”
Childish Gambino – “53:49”
Toro y Moi – “I Can Get Love”
BaianaSystem + Manu Chao – “Sulamericano”
Yuksek + Fatnotronic – “Corcovado”
Disclosure – “Tondo”
Four Tet + Ellie Goulding – “Baby”
Gil Scott-Heron + Makaya McCraven – “New York is Killig Me”
Karnak – “Martim Parangolá”
Chico Science & Nação Zumbi – “Um Passeio No Mundo Livre”
Itamar Assumpção – “Sampa Midnight”
Stephen Malkmus – “The Greatest Own in Legal History”
Can – “Soul Desert”
John Cale + Terry Riley – “The Protegé”
De Leve = “Vai Vendo”
E pra espantar esse frio bizarro.
Nightmares on Wax – “Morse”
Beta Band – “Squares”
Electrelane – “The Valleys”
Tops – “I Feel Alive”
Bruno Schiavo – “Orestes”
Vovô Bebê – “Saparada”
Coriky – “Clean Kill”
Napalm Death – “White Kross”
Kiko Dinucci – “Rastilho”
Jessy Lanza – “Lick In Heaven”
Thundercat + Steve Lacy + Steve Arrington – “Black Qualls”
Justin Timberlake + SZA- “The Other Side”
Desire – “Bizarre Love Triangle”
Nill – “Jive (Dro Remix)”
Tame Impala – “It Might Be Time”
Letrux – “Cinco Bombas Atômicas”
Briga de Família, o terceiro disco do carioca Pedro Dias Carneiro com o nome de Vovô Bebê, sintetiza uma linguagem pop que atravessa a nova cena carioca, que funde as síncopes e tempos tortos a frases escrachadamente cariocas, misturando apuradíssimos sensos artístico e de rua. São canções de métricas desafiadoras e melodias inusitadas, compassos estranhos superpostos enquanto os arranjos variam drasticamente de instrumentos cirurgicamente colocados a torrentes de notas misturadas a ruídos escritos em partitura, aos poucos traçando uma genealogia que mistura Lira Paulistana, pós-tropicalismo e os primeiros discos do Pato Fu. Além de sua banda (um noneto!) incluir nomes como Ana Frango Elétrico e Guilherme Lírio, PDC ainda enche o disco de participações especiais: de Luís Capucho a Luiza Brina, transformando o disco num entra e sai de gente, timbres e sonoridades que são reunidas pelo dueto quase central de Pedro com Ana e pelo carioquês arrastado que se espalha por todo o disco (explicitado no delicioso reggae “Saparada”), que mistura um humor preguiçoso com uma sensação de desconfiança que pode descambar para o pânico, sintetizado na letra de “Good Vibe Bad Trip”. Equilibrando-se neste precipício, Vovô Bebê convida o ouvinte a entrar num labirinto de espelhos carioca, mas não para encontrar uma saída e sim um lugar tranquilo pra ficar e apreciar o caos.
Mais um sinal de vida do jovem PDC, que lançou o primeiro single (“Briga de Família“) de seu novo disco aqui no Trabalho Sujo, e agora ressurge com a regravação de “Êxodo”, que havia gravado em seu álbum anterior, Coração Cabeção, e que desta vez ressurge com o auxílio luxuoso da parceira Ana Frango Elétrico.
Compare a nova versão, que estará no disco que ele lança ainda no início deste 2020, com a do disco que lançou em 2017.
O músico, cantor e compositor carioca Pedro Dias Carneiro – melhor reconhecido pela sigla de seus nomes, PDC, ou, mais especificamente, Vovô Bebê – é um dos integrantes de uma turma que está aos poucos desconfigurando a cara sonora do Rio de Janeiro. Com a faixa etária flutuando pelas duas décadas de idade, esta safra de músicos nasceu à sombra da geração + 2 (a turma que unia os experimentos de Kassin, Domenico e Moreno à MPB-indie do Los Hermanos) e foi acalentada na Áudio Rebel com muita experimentação sonora na veia (nutrientes providos pelo selo Quintavant). Seu principal nome é a revelação deste ano Ana Frango Elétrico, mas há vários outros artistas – e não apenas músicos – orbitando-se mutuamente. E PDC, que já passou dos trinta, é o vovô do grupo e o próximo a dar a sua cara, anunciando o lançamento de seu terceiro disco, Briga de Família, pelo selo Risco, que também lançou o disco mais recente de Ana, o maravilhoso Little Electric Chicken Heart. E ele antecipa em primeira mão para o Trabalho Sujo o clipe da faixa que batiza e abre o disco, uma avalanche sonora que empilha questões como “Quem deixou mamãe descer com o martelo na careca do vovô?” e “Quem deixou o frango em cima da mesa dando sopa pro cachorro?” em menos de dois minutos de uma canção fantasiada de cacofonia bate-estaca.
“O disco é o registro desse show que tenho feito com banda desde 2017. um pouco devagar, feito sem outros apoios, sabe como é”, ele me explica por email. “Foi gravado em basicamente três etapas: bases, sopros e vozes, entre mortos e feridos nos últimos dois anos. Depois o Gabriel Ventura (guitarrista) veio aqui a gente passou umas coisas pelos pedais dele, tudo aqui no estúdio, o antigo 304 do Chico Neves, hoje carinhosamente chamado de Estúdio do Vovô.”
“Nos outros discos eu toquei quase todos os instrumentos, não tinha banda, apenas uma ou outra participação”, ele compara com os trabalhos anteriores. “Nesse além dos amigos músicos absurdos que consegui juntar, ainda tive a sorte de ter a leveza da voz da Luiza Brina em uma das faixas, e o grande Luís Capucho incorporando um inusitado carioca. Na faixa título, aproveitei o tema família pra chamar o Leonardo Musse pra tocar trompete e o Conrado Kempers pra samplear uns sons de rádio, ambos fazem parte da minha primeira banda Dos Cafundó.”
É a deixa para falar sobre esta geração – e apresentar sua banda. “Humildemente, entrei num grupo bão. É Guilherme Lírio no baixo, Uirá Bueno na bateria, Tomas Rosati na percussão, Aline Gonçalves no clarinete, Karina Neves na flauta, Jonas Hocherman no trombone, Ana Frango Elétrico nos vocais, o Gabriel Ventura nos efeitos e o Bruno Schulz pilotando o som. Só mestre guerreiro se virando como pode pra viver de música no Rio.”
E continua: “Eu acho que o sapo tem que pular. E acho que o Rio, apesar de ser historicamente um dos centros culturais do país, se continua sendo é porque o pessoal aqui é quente. Então sim, tem uma galera tocando fogo aqui na música e nas artes, muita gente, em muitos Rios de Janeiro. Eu tenho a sorte de conhecer uma pequena parte dessa turma, e cada um vem de um lugar né, acho que se tem algo parecido com alguma cena que eu faço parte é importante citar a Audio Rebel, o Escritório e agora o Aparelho, espaços que sempre deixaram as portas abertas pra música independente aqui.”
O disco que sai no fim de janeiro é o primeiro com esta formação, uma vez que gravou seus dois discos anteriores praticamente sozinho. O primeiro, inclusive, era em seu próprio nome – e “Vovô Bebê” era o nome de uma das faixas, que acabou sendo a forma que ele começou a se identificar nas redes sociais. “Quando o disco surgiu, a ideia era ser o último Vovô Bebê, a morte do Vovô. Os outros têm uma temática mais de resgate, de busca por serenidade, aceitação acho. Esse tem mais a ver com ruptura, conflito. É briga de família, é briga. mas é família. mas é briga. Então, mesmo que como música não entregue exatamente o que é o disco, achei que hoje em dia fazia sentido começar com a morte do Vovô, com uma martelada na cabeça, e partir daí.” Na cabeça do vovô e dos ouvintes – a faixa é a mais atordoante do disco, pra não deixar dúvidas sobre suas intenções.