Robert Rodriguez vai dirigir o novo Fuga de Nova York

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Robert Rodrigues, autor de Machete, Sin City, Spy Kids e Planeta Terror assume o comando da inevitável ressurreição do clássico de John Carpenter, Fuga de Nova York, que já tem roteirista e premissa definida – escrevi sobre isso no meu blog no UOL.

Quem aguenta mais remakes? Hollywood, certamente. Em vez de apostar em novas histórias e novos personagens, os grandes estúdios norte-americanos preferem insistir em adaptar histórias de outras mídias ou requentar franquias do passado como apostas cheias, em vez de buscar novos rumos para o próprio futuro. E entre as inúmeras adaptações, recriações e ressurreições previstas para um futuro próximo está a do clássico Fuga de Nova York, uma das primeiras ficções científicas distópicas a inaugurar a era da psicodelia digital que hoje nos referimos como cyberpunk. E embora a simples menção de uma nova versão do filme possa provocar sono nos fãs do original, uma nova especulação sobre um possível diretor para esta má ideia pode tornar tudo mais interessante: a 20th Century Fox, que bancou o filme de 1981, quer que Robert Rodriguez seja o novo diretor.

Fuga de Nova York é destes filmes B dos anos 80 que anteviram as transformações dos anos seguintes, além de um ótimo filme de ação. Conta a história de uma Nova York transformada em prisão de segurança máxima cujos prisioneiros tomam o próprio presidente dos Estados Unidos como refém depois que o avião presidencial cai sobre a cidade. Para resgatar o político, o governo chama um dos melhores heróis de ação daquela década, o Snake Plissken vivido por Kurt Russell, que tem menos de vinte e quatro horas para trazê-lo de volta senão uma bomba que foi injetada nele mesmo explodirá. O filme aprofunda-se na crise urbana da Nova York dos anos 70 usando a ficção científica como metáfora e traz um elenco de notáveis que reúne Lee Van Cleef, Ernest Borgnine, Adrienne Barbeau, Donald Pleasence, Isaac Hayes e Harry Dean Stanton. É um dos vários clássicos do diretor John Carpenter, que abriu caminho para outros filmes como Blade Runner, O Exterminador do Futuro, Robocop, Akira, 1984, Brazil e Videodrome, moldando um futuro bem diferente daquele previsto nos anos 60, entre Jetsons e 2001.

Controverso, Rodriguez é um dos diretores mais fiéis à fórmula do faça-você-mesmo e autor de novos e divertidos clássicos que misturam ação, thriller, comédia e horror – Um Drink no Inferno, Planeta Terror, A Prova Final, Machete, Sin City e El Mariachi são filmes que acompanharam a tendência de ultraviolência da cultura pop atual, testando limites e misturando gêneros antes pré-estabelecidos. Sua estética é irmã de seus modos de produção e ele também é conhecido por abandonar Hollywood para criar seu próprio estúdio em seu estado-natal, o Texas, onde criou a sede de seu Troublemaker Studios. Lá ele também produziu filmes voltados para o público infantil que garantiram seu sustento sem necessariamente trair suas intenções: sua série de filmes Spy Kids, Shorts e As Aventuras de Sharkboy e Lavagirl traçam uma ótima introdução para a violência de desenho animado dos seus filmes adultos.

Recentemente Rodriguez voltou a flertar com Hollywood, e ele é o coprodutor e diretor de Alita: Battle Angel, adaptação do mangá de mesmo nome, ao lado de James Cameron em sua Lightstorm Entertainment. O filme, que deve estrear em 2018, é produzido pela 20th Century Fox e provavelmente esta nova proximidade está trazendo Rodriguez a bordo do remake de Fuga de Nova York, segundo o site Tracking Board, especialista em furos deste tipo.

A volta para a Nova York de Snake Plissken, imortal mercenário vivido por Kurt Russell no clássico filme de John Carpenter, no entanto, não é novidade. A Fox já vem tentando reviver o filme original há uma década, trocando de escritores e diretores sem que haja um projeto de fato em andamento. Até o final do ano passado, quando Neal Cross, criador da série Luthor, da BBC, foi confirmado como o autor da história do novo filme, que não deve ser um remake e sim um prequel. Se você não quer saber o que pode ser o novo filme, coloquei uns gifs animados do clássico de 1981 para que você não corra o risco de saber spoilers sobre a nova história.

Como Cross disse ao site The Wrap, a nova história se passa antes de Manhattan ter se tornando uma prisão a céu aberto e vamos descobrir porque Snake Plissken não se dá bem com o governo dos Estados Unidos. O filme também fala de um furacão que se aproxima da cidade e nos apresenta a um novo vilão, Thomas Newton, um playboy dono de empresas de biotecnologia e agroquímica. Ele não começa em Nova York e mostra um planeta decadente, em que 75% da população mundial é considerada fora da lei. O filme, no entanto, ainda nem entrou em fase de pré-produção e quando é assim tudo pode mudar.

Parece uma boa história, nem precisava ter nada relacionado a Fuga de Nova York, né? Mas Hollywood insiste.

Jonny Quest vai virar um filme de Robert Rodriguez!

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O site Deadline confirmou que Robert Rodriguez foi chamado para dirigir a adaptação em carne e osso para o desenho animado Jonny Quest (antes que alguém se esqueça totalmente dele). O projeto já rola nas mãos da Warner há anos e é a primeira vez que Rodriguez se envolve diretamente com Hollywood desde o terceiro remake que ele fez pra seu El Mariachi, há dez anos. Mas como um dos trunfos do estúdio Troublemaker do diretor é a série infantil Spy Kids, além do absurdista Shorts e do frenético Shark Boy & Lava Girl, tudo indica que o remake pode estar nas mãos certas. Resta saber se Rodriguez irá se aprofundar na natureza improvável daquela família há meio século…

Machete, por Annix

Ela viu, não se conteve e eu pedi o texto, aproveitando seu entusiasmo. Annix, lá do velho continente, conta seu êxtase a assistir o novo filme do Robert Rodriguez, só pra quem lê o Trabalho Sujo. Que emoção:

Saí da sessão de Machete com a impressão de ter visto um novo clássico, daqueles que você precisa assistir de novo porque é difícil decidir qual a sua cena favorita.

E grande parte disso se deve ao elenco. De alguma forma, Rodriguez conseguiu fazer com que Robert De Niro, Steven Seagal, Don Johnson, Jeff Fahey, Jessica Alba, Lindsay Lohan, Cheech Marin e Michelle Rodriguez dessem o melhor do pior de si em papeis improváveis, com interpretações melodramáticas. E fica evidente como todos se divertiram.

Especialmente o canastrão-mestre Seagal, que ficou de fora do Buena Vista Social Club do Stallone. Mas algo me diz que ele levou a melhor, encarnando o mexicano menos mexicano já visto no cinema. Como nêmesis do renegado Machete, acaba virando um contraponto engraçado em relação ao herói sério, letal e silencioso de Danny Trejo.

E não se levar a sério é o golpe de mestre do filme. Afinal, nascido de um trailer falso feito para outro projeto, Machete tem a liberdade de ser excessivo, absurdo, cômico, sentimental, sanguinolento e empolgante, tudo ao mesmo tempo. Um filme B que não existia passou a ser uma compilação de tudo que o gênero tem de melhor: um justiceiro solitário em busca de vingança, vilões que são maus mesmo, gostosas empunhando metralhadoras, armas pesadas em abundância, explosões, carros e roupas de couro – tudo isso transportado para a fronteira com o México, onde os personagens comem tacos, bebem tequila, os homens usam bigodes e as gatas passam boa parte do tempo com pouca ou nenhuma roupa. É o clichê do clichê, mas tão bem empregado que se torna surpreendente.

E bom.

Danny Trejo pode agradecer a Robert Rodriguez pelo papel de sua vida. E pensando bem, a gente também.

Machete vem aí…

…e não é para fracos.

Preda que eu gosto

Não importa se falam mal, vou assistir ao terceiro filme do Predador – que virou Predadores – no cinema. Robert Rodriguez pegou um dos títulos que consagrou o velho Schwarza como astro de filmes de ação e deu-lhe uma espremida que para lhe localizar no meio do Aliens de James Cameron (que já fundiu-se com a própria história do Predador) e de Lost (lembra que o filme original também brincava com essa coisa de “como será esse monstro?”). E seguindo a já clássica regra de filmes de ficção científica feitos por Hollywood no século 21 (“empilhe a maior quantidade de nomes conhecidos entre os atores, caso o público não entenda a história”), ele reuniu um elenco em que o cheiro de cult se mistura ao de mofo, se liga – além da nossa Alice Braga (que já fez dois desses filmes apocalípticos, Eu Sou a Lenda e Ensaio Sobre a Cegueira), tem o Morpheus do Matrix, o Eric do That 70s Show, o próprio Machete, o detetive Vendrell do The Shield, um lutador de vale-tudo russo, o pai da maldita Isabelle da série 4400 e o pianista que depois foi capturar King Kong via Darjeeling. Fora que o diretor (Nimród Antal) nasceu em Los Angeles mas preferiu aprender cinema na Hungria, onde fez um filme que foi premiado em Cannes (Kontroll, de 2003) e hoje dirige esses thrillers americanos que passam na TV a cabo. Sim, autoral, mas sem a fleuma de cinema de arte que entope as artérias que ligam os vazos sanguíneos do cérebro ao resto do corpo da crítica especializada.

Lick it LiLo

Lindsay Lohan, Lindsay Lohan…

Eis um dos posteres do Machete. Também, né, caiu na mão do Rodriguez…

“Se você for contratar Machete para matar o vilão, certifique-se de que você não é o vilão!”

Machete de novo, agora em versão Lego.

“Nós não cruzamos a fronteira! A fronteira nos cruzou!”

Robert Rodriguez dirigindo Jessica Alba, Steven Seagal, Robert De Niro, Lindsay Lohan, três atores de Lost e a volta de Don Johnson… Danny Trejo é só a cereja de Machete: