Ravi Shankar (1920-2012)

Outro ícone ceifado por 2012. Mais que o professor de cítara de George Harrison, Ravi Shankar foi o maior embaixador da música indiana para o resto do mundo (muito por culpa de George, claro, mas isso não diminui sua importância). Abaixo, um documentário sobre sua longa vida:

 

Impressão digital #135: Oscar Niemeyer e o futuro

Minha coluna na edição de segunda do Link foi sobre a contribuição de Oscar Niemeyer para nossa concepção de futuro.

A contribuição de Oscar Niemeyer para o futuro
Amplitude: Prédios parecem suspensos pelos pilares

No início do documentário belga Oscar Niemeyer – Un Architecte Engagé Dans Le Siècle (Um Arquiteto Engajado no Século, 2001), de Marc-Henri Wajnberg, um disco voador sobrevoa o Rio de Janeiro. A espaçonave circular é branca e de concreto e paira tranquilamente sobre a antiga capital brasileira, passando pelo Cristo Redentor, o Maracanã, as praias, o Pão de Açúcar até entrar na Baía de Guanabara e pousar em Niterói.

Uma rápida cena mostra o então quase centenário arquiteto contemplando a cidade por uma janela, como se estivesse pilotando o tal disco – que, na verdade, é o Museu de Arte Contemporânea de Niterói. Não foi a primeira nem a última vez que os traços do arquiteto foram associados a um futurismo muito próximo da ficção científica do meio do século 20, período em que Niemeyer começou a despontar no mundo como um prodígio do modernismo brasileiro.

Nasci na cidade que foi imaginada por este que é um dos grandes brasileiros do século passado. A ideia de Brasília não é de Niemeyer. Suas origens remontam à visão de um santo italiano, São João Bosco, que em agosto de 1883 sonhou que havia visitado a América do Sul (onde nunca havia estado) e, depois de visitar vários pontos do continente, viu uma cidade no meio do planalto central, entre os paralelos 15o e 20o, que, segundo um anjo que lhe servia de guia, seria a “terra prometida”.

A profecia ajudou o presidente Juscelino Kubitschek a cumprir sua promessa de tirar a capital brasileira do Rio de Janeiro. Mas a ideia de criar uma cidade do nada não partiu apenas de sua imaginação. JK teria se inspirado no faraó egípcio Akhenaton que, no século 14 antes de Cristo, mudou a capital de seu governo para uma cidade criada artificialmente, Akhetaton, a Cidade do Sol.

Duas visões do passado, dois artistas do futuro: o urbanista Lucio Costa foi escolhido para colocar o plano da cidade no papel (com o formato de um avião) e Oscar Niemeyer, o nome eleito para populá-la. E em vez de replicar outras cidades, o arquiteto resolveu imaginar como seria uma metrópole do século seguinte. Do milênio seguinte.

E assim ergueu palácios com colunas que pareciam suspendê-los no ar. E o amplo horizonte da nova capital passava a acolher uma catedral ecumênica, sem torres, aberta para a luz. Todos os ministérios reunidos como pilares monumentais em uma ampla esplanada. Uma praça que reúne as sedes dos três poderes numa mesma perspectiva horizontal. Construções austeras e pesadas eram reimaginadas por completo. Assim, prédios arredondados que se misturavam a ângulos retos e edifícios de concreto pesado ganhavam leveza graças às suas curvas. Somados às avenidas sem sinais de trânsito, às ruas sem esquina e às superquadras imaginadas por Lucio Costa, eles criaram uma cidade literalmente imaginada.

Muitos autores descreveram cidades imaginárias em livros, filmes, quadrinhos, animações. Poucos conseguiram tirá-las da imaginação. Niemeyer pertence à seleta categoria dos que executaram a cidade que pensaram. E talvez esteja dentro de um nicho ainda menor: os que imaginaram cidades do futuro.

Pois a capital de nosso país é uma cidade do futuro. E Oscar Niemeyer, eterno nesta Brasília, talvez seja, além de todos os epítetos e hipérboles que já carrega, nosso maior artista de ficção científica.

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Torno públicos os parabéns que dei ao Filipe Serrano e à Tatiana de Mello Dias, os novos editor e editora-assistente da melhor publicação de tecnologia e cultura digital do Brasil. Conheci ambos no início de suas carreiras – Filipe era estagiário no Link quando entrei, em 2007, e depois virou repórter, editor-assistente e agora chega ao comando do caderno. Tati foi minha estagiária na Trama e foi a primeira repórter que contratei quando virei editor, em 2009. É uma felicidade vê-los chegar a tais posições e um alívio saber que o caderno que acalentei por tantos anos está nas melhores mãos possíveis. Boa sorte aos dois!

Oscar Niemeyer (1907-2012)

Agora foi: morreu o cara que imaginou a cidade em que nasci. Todo o respeito para um dos maiores artistas do Brasil.

Abaixo, o Roda Vida com o arquiteto em 1997 e a íntegra do documentário A Vida é um Sopro:

 

Dave Brubeck (1920-2012)

Outro mestre que se vai, com a singular característica de que sua obra mais popular também é a mais importante, como se Abbey Road ou Revolver tivessem provocado a beatlemania ou se Kind of Blue, In a Silent Way e o Bitches’ Brew fossem um mesmo disco. Time Out é o nome da obra-prima do quarteto do pianista que faria aniversário no dia seguinte à sua morte e é um dos melhores discos de todos os tempos. Ponha os fones, aperte o play e celebre a existência do mestre Brubeck.

E um aviso: se você ainda não tem esse disco em vinil, espere que logo logo vai aparecer uma versão deluxe de chorar…

Eric Hobsbawm (1917-2012)

Outro mestre levado por 2012. Vai fazer falta.

Mas pode ser que ele comece a ser lido – e entendido.

Ted Boy Marino (1939-2012)

Ted Boy Marino, que morreu agora há pouco, seria um pouco mais que uma nota de rodapé na cultura pop brasileira caso não tivesse sido um dos primeiros Trapalhões – quando o grupo de Renato Aragão era formado pelo próprio, Ivon Cury, Wanderley Cardoso e, claro, o próprio Ted Boy. Uma espécie de Anderson Silva da Jovem Guarda, ele foi o responsável pela popularização do telecatch no Brasil e seu jeito de brigão e sotaque carregado (era italiano mas cresceu na Argentina) o garantiram seu lugar naquele rascunho chamado Adoráveis Trapalhões, ainda nos anos 60. Depois Didi assumiria o personagem e reinventaria o grupo sem o adjetivo, tornando-o clássico. Mas Ted Boy Marino não era um mero Pete Best e teve vida própria, como podemos comprovar nessa reportagem da revista Cruzeiro recuperada pelo incrível Tarnished Angels (de onde saiu a foto que ilustra esse post) como em seu single Jovem Guarda, “Rapaz Moderno”, abaixo:

Gore Vidal (1925-2012)

Mais um que se vai.

Bill Doss (1968-2012)

Que notícia de merda, bicho… 🙁

Ao menos vi o cara ao vivo tocando com o Apples in Stereo, no primeiro SWU, mas perdi de ver o Olivia Tremor Control ao vivo, o que é uma lacuna e tanto. A causa da morte não foi anunciada, mas ele tava tão bem no show no festival da Pitchfork…

Que merda.

Jon Lord (1941-2012)

Mais um que se vai.

O tecladista mais importante da história do heavy metal – e pai de uma das bandas mais importantes pra história do rock:

Carlos Reichenbach (1945-2012)

Morreu o maior cinéfilo brasileiro. Que merda.