Vida Fodona #476: Sem 2014 pra dar uma desintoxicada

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Só pra dar um tempo de retrospectiva.

Fall – “Victoria”
National – “Fake Empire”
Guilherme Arantes – “O Melhor Vai Começar”
Glue Trip – “Elbow Pain”
Solange – “Losing You”
David Bowie – “Let’s Dance”
Pharrell – “Happy”
Lauryn Hill – “Doo Wop (That Thing)”
Fagner – “Cartaz”
A-ha – “Scoundrel Days”
Queen – “Play the Game”
M.I.A. – “Bad Girls”
Jaden Smith – “Pumped Up Kicks (Like Me)”
Black Alien – “From Hell do Céu”
Curumin – “Selvage”
Richard L – “F for You Moleque”

Vem aqui.

Vida Fodona #431: As engrenagens se encaixam

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Esfriou…

Marcos Valle – “Batucada”
Blue Swede – “Hooked On A Feeling”
Gilberto Gil – “Back in Bahia”
Mutantes – “Mande um Abraço pra Velha”
Mombojó – “Procure Saber”
Lana Del Rey – “West Coast (Munk Remix)”
AlunaGeorge – “Kaleidoscope Love (Kaytranada Edition)”
Scissor Sisters – “I Don’t Feel Like Dancing (Linus Loves Vox)”
Jagwar Ma – “Uncertainty (Cut Copy Remix)”
Beastie Boys – “A Year and a Day”
Dr. Octagon – “Al Green”
Marcelo D2 + Black Alien + BNegão – “O Império Contra-Ataca”
Le Tigre – “Nanny Nanny Boo Boo (Junior Senior Remix)”
Jaden Smith – “Pumped Up Kicks (Like Me)”
Tame Impala – “Keep on Lying”
Alt-J – “Left Hand Free”
Spoon – “Do You?”
Prince – “Purple Rain”

Aqui, ó.

Preguiça de Grammy

A marginal Tietê no horizonte foi um programa mais interessante

Não costumo ver o Grammy: acho chato e sem graça, como qualquer premiação de qualquer indústria. “E o prêmio de melhor radiologista do ano vai para…”. Poizé, bem nessas. Mas, depois de todo alarido sobre a edição deste ano (fãs do Arcade Fire em puro delírio Double Rainbow, que porra), me deparei com a reprise da premiação ontem à noite e, de vacilo, assisti. E nem precisava ter visto para saber que era uma premiação da indústria chata e sem graça como sempre. Lady Gaga agradecendo Whitney Houston? Cee-Lo Bornay com o hit da autocensura, Muppets e a mulher do Coldplay querendo abrir uma carreira de cantora? Norah Jones é um remédio pra dormir? E a Rihanna com o Eminem (zero química, música insuportável)? Katy Perry é tipo Hole disfarçado de pop. Mick Jagger soulman depois de velho? Nem Bob Dylan depois da tosse conseguiu segurar cantando sua própria “Maggie’s Farm” com os Avett Brothers e os Mumford & Sons (estes, vale frisar, fizeram bonito em seu momento). Não é nem que tudo estivesse errado – e esse era o problema -, tudo estava certo DEMAIS.

O grande momento da noite foi a apresentação de Justin Bieber e Usher, a própria indústria lustrando suas engrenagens e colocando dois jovens talentos do showbusiness pra exibir seus dance moves. É o momento Off the Wall/Thriller de Justin Bieber sendo preparado a fogo brando, mas se o moleque tem carisma o suficiente para sobreviver à sua falta de talento (Bieber é, basicamente, ensaio, ensaio e ensaio), ele devia não assumir o paralelo tão evidente com Michael Jackson, imitando vários de seus trejeitos no palco. Tudo bem que Michael ajudou a inventar este gênero, afinal toda coreografia teen pós-Take That é descendente direta do livro escrito por Michael, Prince e Madonna nos anos 80, mas é só ver Usher (ou lembrar de outro Justin – Timberlake), para lembrar que não é preciso citar o rei do pop para reverenciá-lo. Bieber ainda serviu de escada pro Jaden Smith, o filho do Will, brilhar. Enquanto preparam a maturação de Bieber, que aos poucos, er, “engrossa” a voz, esquentam a chegada desse mini Will Smith, que é um geninho do showbusiness. Sério, quando chegar a vez dele, aí sim temos um candidato ao trono de MJ em ação.

E entre estes medalhões e sumidades, um monte de prêmios sem graça pra artistas sem graça que só dizem respeito ao mercado norte-americano. Nesse sentido, o grande vencedor da noite não foi o Arcade Fire e sim o tal Lady Antebellum (quem?) e a dualidade entre artistas tão diferentes (quem porra é esse tal de Arcade Fire?, perguntam-se ouvintes por todos os EUA) mostra o verdadeiro tom da premiação. Desculpem-me os fãs, mas Arcade Fire é tão mingau de música quanto o Lady Antebellum ou qualquer outra cantora country desconhecida que subiu para receber seus prêmios. Não é à toa que ganhou o prêmio de álbum do ano.

Não me impressiona, porém, o fato de a decadente indústria da música recorrer ao indie rock para tentar preservar alguns de seus valores, muitos celebrados na festa de domingo. Na verdade, estão mordendo a própria língua. Afinal, o rock alternativo só começou a existir enquanto gênero e indústria depois que as grandes gravadoras se voltaram para um formato mais palatável e massificado para a música que merecia ser vendida, deixando para trás referências como autoria, arranjo, letras, personalidade e sensibilidade (qualidades que tiveram que fugir para um mercado menos competitivo para sobreviver). Começou com a disco music, teve o auge com Michael Jackson e Madonna nos anos 80, colidiu com o grunge (motivo da existência de nulidades como Nickelback e Creed) e depois misturou tudo com o caldo do hip hop.

No topo do pop, a música é cada vez menos personalizada e mais genérica, reduzindo-se a um meio-termo entre o ringtone, o jingle e o grito de torcida. Basta um refrão insistente com uma frase idiota repetida mil vezes sobre uma batida reta e coberta de efeitos especiais e, pronto, eis um hit, um popstar, um fenômeno, uma carreira, uma discografia. “Baby Baby”, de Justin Bieber, é o melhor exemplo do fundo do poço autoral em que se encontra a indústria musical. Então o jeito é apelar pros indies, para não ter que prever um futuro em que os principais hits da semana serão “ÔÔÔÔÔÔ”, o nome de um refrigerante repetido mil vezes e a regravação daquela música que já foi regravada tantas vezes que você nem mais lembra de quem era.

E, no meio da reprise do Grammy, lembrei que perdi o programa ao vivo porque estava na estrada, voltando da praia. Me pareceu um programa mais interessante – a Carvalho Pinto de noite, aquele monte de pedágios, a marginal surgindo no horizonte – e não tive dúvida: mudei de canal pra assistir o Land of the Dead, que também estava passando na TV. Show de horror por show de horror…