O dia em que Andy Gill tocou com o Legião Urbana

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Das quatro vezes que Andy Gill veio ao Brasil, apenas uma delas não fez show com o Gang of Four e sim com… o Legião Urbana! Num show tributo ao grupo criado pro Renato Russo, seus integrantes remanescentes Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá resolveram homenagear suas origens e seu fanatismo adolescente trazendo um dos ícones que moldaram o pensamento estético da banda em seus primeiros dias, justamente o recém-falecido guitarrista do Gang of Four. Gill foi um dos convidados do show MTV Ao Vivo – Tributo à Legião Urbana, que aconteceu em 2012, com o ator Wagner Moura fazendo as vezes do vocalista original.

Andy subiu para tocar duas músicas com o grupo, que durante estes números contou com o paralama Bi Ribeiro no baixo. A primeira delas, uma versão para “Damaged Goods” do Gang of Four com o próprio Dado nos vocais tinha um clima mais de karaokê com amigos para realizar um sonho juvenil, mesmo com o guitarrista inglês mostrando serviço. Na segunda música, resolveram embarcar na música do Legião que o grupo escolheu para mostrar a influência do grupo inglês na banda brasiliense, a balada gótica “Ainda é Cedo”. O vídeo abaixo tem uma qualidade melhor que o de cima – e traz o show na íntegra (e dá pra entender a treta de Dado com alguém na plateia).

Mas podiam ter tocado “A Dança” também, né?

O adeus de Andy Gill

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Andy Gill nos deixou no primeiro dia deste mês e antes de sua morte, que veio após uma súbita crise respiratória, ele ainda trabalhava no EP que havia acabado de gravar no mês passado. Batizado de This Heaven Gives Me Migraine, o disco traz versões novas para canções diferentes de diferentes fases do Gang of Four, da clássica “Natural’s Not In It” à recente “Toreador”, lançada no disco Happy Now, de 2019. Entre elas figura “The Dying Rays“, que foi gravada no disco de 2015 do grupo What Happens Next, com o vocalista alemão Herbert Grönemeyer como convidado. A nova versão, com o atual vocalista do Gang of Four, John “Gaoler” Sterry, foi o primeiro single a ser revelado:

O vocalista comentou o EP em um comunicado diznedo “esta coleção de canções foi gravada logo antes de Andy morrer e ele queria que fosse lançada para caracterizar a forma como a tocamos na turnê do ano passado. Todas as músicas foram gravadas no estúdio caseiro de Andy em Londres e há uma intimidade como se fosse possível estar no estúdio em todo o EP, da escolha das músicas aos trechos falados”. Estes trechos foram incluídos a pedido da viúva de Andy, Catherine Mayer, que também pronunciou-se sobre o disco: “Andy seguiu fazendo as anotações finais para a mixagem das músicas que ele queria lançar mesmo quando estava no hospital. Desde sua morte, venho trabalhando com a banda para que ele possa completar sua visão. A única mudança que fizemos foi incluir dois trechos curtos de Andy falando, ambos, de diferentes maneiras, são a sua essência.” Abaixo, a capa e o nome das músicas do EP, que será lançado no dia 26 de fevereiro.

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“Anthrax (Andy speaks)”
“The Dying Rays (2020)”
“Natural’s Not In It”
“Toreador”
“Purple in Nature (Andy speaks)”

Andy Gill (1956-2020)

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Utilizando suas mídias sociais, o grupo Gang of Four anunciou a morte de seu fundador Andy Gill neste sábado, sem falar sobre a causa de sua morte. Um dos principais pilares do pós-punk inglês, ele ajudou a reinventar a guitarra elétrica na virada dos anos 70 para os anos 80 ao lado de nomes como Robert Smith, Bernard Sumner, The Edge e os caras do Wire, mas ao contrário de seus contemporâneos, baseava sua musicalidade no toque brusco, transformado a guitarra em um machado de ruído que antecipava os ataques de scratch dos DJs da década seguinte, misturando inovações sônicas contemporâneas com o minimalismo funky que caracterizava seu grupo. Também foi um dos principais nomes da época a usar a música pop como forma de contestação política e a forma como conseguia traduzir a desesperança daquele período em força artística o transformou um dos instrumentistas mais importantes das últimas décadas.

Pude assistir a quatro shows de sua banda: duas em 2006 (com a formação original, Andy, Jon King, Dave Allen e Hugo Burnham), uma vez em São Paulo e outra em Floripa, quando vieram dividir uma turnê com os Cardigans (!?), uma em 2011, quando trouxe a banda como curador do Festival da Cultura Inglesa (apenas com Jon e Andy da formação clássica), num show épico gratuito no Parque da Independência (vídeos acima), e finalmente quando fez o último show por aqui em 2018 (apenas com Andy dos fundadores da banda, vídeo abaixo) e quando pude conversar melhor com ele depois de anos trocando emails. Meu primeiro contato com ele foi justamente na primeira vinda ao país, quando fiz uma entrevista tornar-se um artigo sobre as relações entre música e política a partir da criação de sua banda, publicado em uma das reencarnações da revista Bizz. Adorei que quando nos vimos ele lembrou que eu havia rotulado o Gang of Four de “banda crítica”, “não é mesmo uma banda de protesto”:

Quando eu e o Jon (King, vocalista da banda) começamos, nos perguntávamos: ‘O que motiva as pessoas? O que as faz fazerem o que fazem?’. É claro que você pode resumir isso em apenas ‘economia’, mas não é só isso. As pessoas ainda estão fazendo as mesmas coisas que faziam no século passado, o marido ainda trazia o dinheiro para casa enquanto a mulher cuidava da comida e dos filhos. O mundo havia mudado, mas essas relações ainda não. Pelo contrário, elas haviam se tornado prisões: família, emprego, propriedade. As pessoas se prenderam nisso de uma forma que acham que isso é a vida delas.

Temos uma música chamada ‘Natural’s Not In It’ que fala exatamente sobre isso. Tudo aquilo que chamamos de “natural”, na verdade, é artificial, é criado pelo homem. Seja a sociedade, o conceito de justiça, de bom senso… Tudo isso é invenção humana, nada disso é natural. As idéias não são naturais. Qualquer uma delas, todas elas – são inventadas.

E não queríamos ser os portavozes da nova esquerda. Para isso, tiramos todas as referências de política de nossas letras e títulos – você vê os nomes das músicas e não diz que o conteúdo delas é política –, tudo que pudesse lembrar a política dos jornais tava fora. Não queríamos dizer ‘você está certo’, ‘você está errado’, ‘você é de esquerda’, ‘você é de direita’. Não queríamos nos separar das outras pessoas. Queríamos, sim, lembrar pra elas que, esquerda ou direita, estamos nesse barco juntos.

Mas a forma que você colocou é bem razoável. É isso: o Gang of Four não era uma banda de protesto, mas uma banda de crítica. Uma crítica à sociedade, à forma que vivemos, à música, ao rock, ao punk rock, às outras bandas, a nós mesmos. Era mais ou menos como o Situacionismo dos anos 60, não queríamos nos levar a sério, mas não queríamos só isso.

E aí tem o outro elemento que, pra nós é crucial, que foi o ritmo. Não queríamos soar como rock, não queríamos ser mais uma banda de rock. E tanto eu quanto Jon já vínhamos pensando em experimentar com ritmo, somos fãs de dub até hoje, de krautrock, do James Brown. Mas seria ridículo tentar recriar a atmosfera de qualquer um desses artistas na Inglaterra dos anos 70.

Por isso partimos do zero, da tela em branco, e fomos acrescentando as coisas à medida em que começamos a tocar. E as coisas foram se encaixando. O legal é que não pensamos nessas coisas, elas simplesmente foram entrando em seu lugar. Põe um prato aqui, um bumbo ali, um riff mais à frente. Começava com um baixo solto, entrava a bateria reta, a guitarra fazendo ruídos e o vocal – mesmo que a letra importasse – funcionava como um instrumento. As coisas iam entrando em sintonia sem que pensássemos nisso. Em vez de fazer canções de amor, fazíamos canções de antiamor – o que é diferente de uma canção de ódio, veja bem.

Foi quando começamos a por elementos de disco music na mistura. Primeiro porque adorávamos disco. A cena começou a ficar ruim devido à forma que a mídia explorou o tema, com filmes como ‘Os Embalos de Sábado à Noite’ e todo o tipo de banda gravando disco music. Mas antes de ficar massificado, era uma cena bem interessante e – como você colocou – política, por libertar a canção de um formato estagnado e deixar as pessoas mais soltas, em vários sentidos.

Um gigante que pude conhecer pessoalmente. Obrigado por tudo.

Gang of Four em São Paulo!

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É oficial: a lenda pós-punk volta mais uma vez aos palcos brasileiros em novembro, desta vez passando por dois Sescs! Dia 24 no Sesc Ribeirão Preto e dias 22 e 23 no Sesc Pompéia! Imagina isso!

Vida Fodona #569: Puxar umas velharias

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Cara de programa clássico.

Beck – “Sexx Laws”
Courtney Barnett – “I’m Not Your Mother, I’m Not Your Bitch”
Gang of Four – “Not Great Men”
Smack – “Onde Li”
Letrux – “Coisa Banho de Mar”
Garotas Suecas – “Pode Acontecer”
Arcade Fire – “Porno”
Daft Punk – “Fragments of Time”
Divine Fits – “Would That Not Be Nice”
Gilberto Gil – “Toda Menina Baiana (Tahira Edit)”
Poolside – “Harvest Moon”
Clash – “Guns of Brixton”
Strokes – “Welcome to Japan”
Jimi Hendrix Experience – “Still Raining, Still Dreaming”
Sambanzo – “Capadócia”
Talking Heads – “Cross-Eyed and Painless”
Prince – “When Doves Cry”

Vida Fodona #524: Killing people’s not my scene

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Uma playlist para manter o ânimo em dia: resistir sempre!

Clash – “Clampdown”
Titãs – “Desordem”
Legião Urbana – “A Dança”
Gang of Four – “Not Great Men”
Stereolab – “Ping Pong”
New Order – “Blue Monday”
Grandmaster Flash & The Furious Five – “The Message”
NWA – “Fuck tha Police”
Public Enemy – “Bring the Noise”
Racionais MCs – “Você Me Deve”
Gil Scott-Heron – “The Revolution Will Not Be Televised”
Bob Marley – “War”
Junior Murvin – “Polices & Thieves”
Specials – “Ghost Town”
Massive Attack – “Safe from Harm”
Kendrick Lamar – “Alright”
BaianaSystem – “Duas Cidades”
Criolo – “Fermento Pra Massa”
Bob Dylan – “Subterranean Homesick Blues”
Beatles – “Revolution”
Belle & Sebastian – “If You Find Yourself Caught in Love”

Gang of Four 2015: “Don’t believe any more than I see”

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O disco novo do Gang of Four – What Happens Next – está programado para o mês que vem e entre as participações especiais, há duas faixas com a vocalista Alison Mosshart, do Kills. “England’s In My Bones” não é tão aguda e urgente quanto a “Broken Talk” que eles mostraram no ano passado, mas tá lá a indefectível guitarra ruidosa de Andy Gill.

Vida Fodona #468: Dias inconstantes

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Vamos lá?

Johnny Jewel – “Birds of Prey”
Dusty Springfield – “Windmills of Your Mind”
Sia – “Soon We’ll Be Found”
Lana Del Rey – “Brooklyn Baby”
Tops – “Change of Heart”
Unknown Mortal Orchestra – “So Good At Being in Trouble”
Leo Cavalcanti – “Inversão do Mal”
David Bowie – “‘Tis A Pity She Was A Whore”
Sonic Youth – “Superstar”
Supercordas – “Mumbai”
Can – “Fall of Another Year”
Lucas Santtana – “Jogos Madrigais”
Lykke Li – “I Follow Rivers (The Magician Remix)”
Gang of Four + Alison Mosshart – “Broken Talk”

Por aqui.

Vida Fodona #464: Essa beleza de música

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Mais um daqueles…

Luiz Gonzaga – “Sabiá”
Lorde – “Don’t Tell’Em”
Lykke Li – “Hold On, We’re Going Home”
M83 – “Midnight City”
Les Sins + Nate Salman – “Why”
Azealia Banks – “Chasing Time”
Stardust – “Music Sounds Better With You”
Belle & Sebastian – “The Party Line”
Criolo + Tulipa Ruiz – “Cartão de Visita”
Thiago Pethit – “Romeo (Adriano Cintra Remix)”
Hood Internet – “Backseat Shake Off”
Mark Ronson + Bruno Mars – “Uptown Funk”
Jamie Lidell – “Runaway”
Gang of Four + Alison Mosshart – “Broken Talk”
Kendrick Lamar – “i”

Vamo lá?

Gang of Four 2015

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Depois da saída de John King em 2012, o Gang of Four passou por uma mutação que o transformou em uma gangue de três, em que o único integrante original é o ás guitarrista Andy Gill, dessa vez escoltado pelo ex-vocalista do Gaoler’s Daughter John Sterry e pelo baixista Thomas McNeice. O grupo anuncia seu oitavo disco, What Happens Next, para o início do ano que vem e já liberou uma das faixas que conta com a participação da vocalista do Kills Alison Mosshart. E essa “Broken Talks” é uma sonzeira que nem parece de banda velha…