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Revelando os segredos de Sumé!

Missão dada é missão cumprida. Assim a banda psicodélica pernambucana Anjo Gabriel encarou o árduo desafio de trazer para o palco o experimento musical fonográfico Paêbirú. Criado a partir do encontro alucinógeno que o paraibano Zé Ramalho e o pernambucano Lula Côrtes tiveram na mitológica Pedra do Ingá, o épico disco duplo é um registro musical monumental, que funcionava como segundo disco de Lula e o primeiro de Zé e reunia a nata da psicodelia pernambucana do período, de Geraldo Azevedo a Ivinho, passando por Alceu Valença, Paulo Rafael, Jonathas, Marconi Tauro, Zé da Flauta, Agrício Noia, Dikê, Don Tronxo, Carmelo Guedes, Hugo Leão e Jarbas Mariz. Nunca apresentado ao vivo devido ao amálgama sonoro e colagens de gêneros musicais que convivem nesse Sgt. Pepper’s pernambucano, o disco foi recriado em shows no seu aniversário de 50 anos no Recife, no primeiro semestre, e chegou à sua segunda apresentação nesta quinta-feira, em São Paulo, quando o quinteto pernambucano desbravou esse enigma com a benção da família Côrtes, cujo filho de Lula, Nemo, que cuida do legado do pai há desde sua morte, em 2011, falou no início da apresentação no Sesc Pompeia para contextualizar a importância do evento. Liderado pelo baixista Marco da Lata, que também tocava uma versão do mítico tricórdio de Lula, instrumento árabe (ou indiano?) que o instrumentista usou para fundir com a música nordestina, o grupo arregaçou as mangas e fez bonito ao transformar Paêbirú num show, colocando seus músicos originais (Junior do Jarro na bateria e vocais, CH Malves na segunda bateria, Diego Drão nas teclas e Phillippi Oliveira nas guitarras e vocais) ao lado de um time de musicistas que aprofundou ainda mais o trabalho do grupo, com vocais de Marietta e Luciana Oliveira, violoncelo, sax e flauta de Ana Colomar e violino de Paula Buges e Murilo Cambuzano no violão de 12 cordas, além do próprio Jarbas Mariz, presente naquela noite, que abriu os trabalhos declamando a letra de “Nao Tenho Imaginação pra Mudar de Mulher”, de Marconi Notaro, e voltou por vezes ao palco tocando berimbau, como fez no disco homenageado. Uma noite épica!

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Rosalía no Brasil!

Rosalía no Brasil em 2026! A diva espanhola acabou de anunciar a turnê mundial de lançamento do seu Lux, que terá pelo menos uma data no Brasil, dia 10 de agosto, no Rio de Janeiro. Digo pelo menos porque ela faz duas datas em Santiago (dias 24 e 25 de julho) e duas em Buenos Aires (1º e 2 de agosto) e fica uma semana de bobeira antes de tocar no Rio. Como dia 10 é uma segunda-feira, não duvido nada que ela anuncie pelo menos dois shows em São Paulo no fim de semana anterior. Mas por que não avisar tudo de uma vez?

Veja as datas abaixo:  

Steve Cropper (1941-2025)

Morreu um dos maiores nomes da história da soul music – um guitarrista branco que mudou a forma de tocar seu instrumento de forma discreta e eficaz. Só o fato de ser o guitarrista dos Booker T & the MGs já é motivo para que Steve Cropper estivesse entre os maiores da história, mas ele acompanhou nomes tão distintos e gigantescos quanto Wilson Pickett e Otis Redding, além de ser um dos integrantes da banda dos Blues Brothers. Monstro sagrado.

Os Beatles voltam a Hamburgo… via BBC

A emissora inglesa BBC acaba de anunciar que irá transformar o livro Hamburg Days, em uma série de seis episódios. Lançado por Klaus Voormann e Astrid Kirchherr em 1999, o livro conta o período em que os Beatles passaram na cidade alemã antes da fama, no início dos anos 60, quando, tocando por horas seguidas em péssimas condições de palco, tornaram-se a banda afiada que conquistaria o planeta nos anos seguintes. Astrid, que morreu em 2020, namorava o então baixista da banda, Stu Sutcliffe, e tornou-se íntima dos ingleses, a ponto de sugerir o corte de cabelo que ajudaria na fama do grupo. Voormann, músico alemão que dividia o apartamento com os caras e deixou seu país para voltar com o grupo para a Inglaterra, onde seguiu carreira musical. Além de ter tocado com todos os Beatles em suas carreiras solo, ele também é o autor da capa do disco Revolver, tocou baixo na primeira versão da Plastic Ono Band de John Lennon (ao lado de Yoko Ono, Eric Clapton e o futuro baterista do Yes Alan White), foi músico de estúdio em “You’re So Vain” da Carly Simon e no disco Transformer, de Lou Reed, e produziu o único hit do grupo alemão Trio, “Da Da Da”. Ele será o consultor criativo da série, que ainda não tem data de lançamento nem elenco definidos, mas que possivelmente será lançada antes da tetralogia sobre a banda que Sam Mendes está dirigindo para estrear em 2028. Não é a primeira vez que esse período da carreira da banda ganha uma versão audiovisual – em 1994, o filme Backbeat – que no Brasil virou Os Cinco Rapazes de Liverpool – contava a história dessa época da banda, com Stephen Dorff e Sheryl Lee (ela mesma) fazendo o casal Stu e Astrid, que era o centro da história. O filme ainda contava com uma trilha sonora tocada por uma banda criada apenas para tocar as músicas que os Beatles tocavam na época, reunindo a fina flor dos anos 90: Dave Pirner (Soul Asylum), Greg Dulli (Afghan Whigs), Thurston Moore (Sonic Youth), Don Fleming (Gumball), Henry Rollins (Black Flag), Mike Mills (R.E.M.) e Dave Grohl (Nirvana). O filme é besta como toda comédia romântica dos anos 90, mas essa trilha… Será que a nova série vai ter uma versão atualizada desse time? Se tiver será formada só por ingleses, lógico…

Interpol, Viagra Boys, TV Girl e Blood Orange fazem os shows paralelos do Lollapalooza 2026

O Lollapalooza acabou de anunciar os shows que fará fora do festival e se você é dos muitos que acendeu vela quando o nome do Blood Orange foi anunciado pra cobrir uma ausência do festival pode festejar que no dia 19 de março ele toca sozinho no Cine Joia. No dia anterior, 18, quem também faz show sozinho no Joia é a banda TV Girl e tem tanta gente comemorando esse show como os do Interpol e dos Viagra Boys, que tocam juntos também no dia 19, só que na Áudio. Lógico que poderiam ter outros nomes, mas acho que, como acertaram na escalação do ano que vem, o Lolla também acertou ao escolher esses quatro nomes. Só podiam ter feito o show do Blood Orange e o do Viagra Boys com o Interpol em dias separados, né…? E os ingressos já estão à venda.

Sob o signo de João

Sempre que falamos de João Gilberto o cuidado deve ser redobrado – ou triplicado -, por isso tinha expectativa de ver como Marina Nemesio e Rodrigo Coelho defenderiam o mestre no palco do Centro da Terra no espetáculo que fizemos ao redor das primeiras gravações não-oficiais da musicalidade que João lapidou durante os anos 50. E por mais que já tivesse visto os dois tocar aquele repertório, havia toda uma expectativa em relação a vê-los tocando para outras pessoas. Porque, como nos grandes momentos do pai da bossa nova, João 1958 é uma apresentação pensada unicamente para voz e violão – a voz com Marina, aniversariante do dia, e o violão com Coelho, retomando o instrumento acústico depois de anos debruçados no baixo, synths e equipamentos eletrônicos. Vê-los tocando na minha frente, como único espectador presente, era uma situação completamente diferente da que mostramos nessa terça para um público que, ciente da grandeza de João, apreciou os quase sessenta minutos da apresentação sem dar o pio, quietos como quem assiste a uma missa. E foi isso que Marina e Coelho fizeram: uma celebração religiosa à musicalidade brasileira, passando por músicas que depois seriam registradas por João nos álbuns gravados nos anos seguintes, e outras que nunca mais revisitaria, como canções próprias sem letras e clássicos da velha guarda da nossa música, como “Chão de Estrelas” de Sílvio Caldas e “Preconceito” de Wilson Baptista que João só retornaria quando participou do festival de Montreux, em 1985. E essa missa não poderia ter melhores sacerdotes: Coelho, que não é virtuose mas audiófilo, tocou seu instrumento com delicadeza e precisão, cantarolando por sobre as bases em alguns momentos, e Marina, com sua voz delicada e suave, tomando conta do teatro. Foi lindo demais…

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Rodrigo Coelho + Marina Nemesio: João 1958

Vamos voltar ao período em que João Gilberto mostra como seria o futuro do século 20 ao mostrar pela primeira vez em público a nova forma de tocar que inventou depois que mudou-se para o Rio de Janeiro. O espetáculo João 1958, concebido por Rodrigo Coelho e Marina Nemesio com minha direção, resgata o repertório que o mestre baiano mostrou para os amigos depois de chegar à capital do Brasil à época, depois de passagens por Porto Alegre, Diamantina e Juazeiro, onde lapidou aquele novo jeito de tocar e cantar. Essas primeiras demonstrações de seu som foram registradas pelo fotógrafo Chico Pereira, que apresentou João a Tom Jobim. Parte das músicas desta gravação foram eternizadas por João em seus discos seguintes, mas boa parte delas, algumas compostas por ele mesmo, nunca mais foram registradas. Elas formam a base de João 1958, que será apresentado pela primeira vez no Centro da Terra. O espetáculo começa pontualmente às 20h e os ingressos estão à venda no site do teatro.

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David Byrne no Tiny Desk!

Nada me tira da cabeça que os Talking Heads estão preparando sua volta aos palcos em câmera lenta, testando formatos e aparições na mídia pra medir a temperatura sobre sua popularidade meio século depois de terem surgido. Pode reparar: quase toda semana tem uma notícia nova relacionada à banda. Tá certo que isso se mistura ao lançamento de mais um disco solo de David Byrne e o cabeça original também é conhecido por abrir novas frentes e testar novas vertentes pra atingir um público maior, mas acho que até isso faz parte dessa experimentação nos bastidores. Agora é a vez de ele estrear seu novo show do Tiny Desk da NPR, quando cantou duas músicas do disco novo (“Everybody Laughs” e “Don’t Be Like That”) e duas dos Talking Heads, de duas fases diferentes (“(Nothing But) Flowers” do último disco Naked e a clássica “Life During Wartime” do Fear of Music). Pode ser mais torcida do que intuição, mas vai saber…

Assista abaixo: