Os pleonasmos da Chiquinha
Essa menina é foda.
Essa menina é foda.
Tá acabando…
Mia volta à ativa com uma música incômoda de mensagem simples, mas “Born Free” já é uma das coisas mais importantes de 2010 só por causa desse vídeo dirigido pelo Romain Gavras (filho do Costa-Gavras), que já tinha dirigido o polêmico “Stress” para o Justice. Se liga:
Mas não há mera polêmica aqui. Sob um verniz quase didático de publicidade-choque Benetton há uma série de paralelos desagradáveis sobre o mundo que vivemos hoje em dia. Não é só o regime militar que maltrata a vida de gente por etnia nem uma Swat americana que faz às vezes de SS ao mesmo tempo que de exército israelense ou polícia de terceiro mundo, com crianças terroristas que poderiam ser palestinas, brasileiras ou irlandesas. É também uma tentativa de fazer a cultura pop voltar a ser crítica, política, militante – e desagradável. Em nove minutos Mia e Romain pulverizam a importância de “Telephone” de Lady Gaga, tornam todo o cinema político do século 21 obsoleto e destratam todo entretenimento cultural como coluna social.
Outra prova de que 2010 está sendo um ano interessante é esta capa da Fortune 500 acima, que foi encomendada para o Chris Ware e gentilmente recusada pelos editores da revista. Ware é um dos grandes gênios (sério) do século 21 e é uma espécie de terceiro irmão Coen, só que ainda mais melancólico e obcecado. O detalhismo de suas obras ultrapassa de longe a nerdice Revell e levam os quadrinhos para um nível de profundidade microscópica, exposto nesta capa para a Fortune, que seria um mero frila para Ware, que não deixou barato e expôs tudo que achava do sistema que sustenta a lista das 500 pessoas mais ricas do mundo.
O desenho não é nada sutil, com helicópteros levando dinheiro estatal para personagens gordinhos no topo da pirâmide, cassinos, o fim do petróleo, Guantánamo, China, México e o resto do mundo sob os EUA. Era uma situação perfeita para Chris: se a Fortune publicasse sua capa (difícil, ele deveria saber) seu recado seria dado, se não ela inevitavelmente apareceria online e daria seu recado. E o melhor dessa história é que há, sei lá, três anos, um desenho desses ia ser considerado anacrônico, revanchista, recalcado… Os ventos estão mudando de rumo de novo.
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Coluninha do 2 de domingo.
Uma nova trilogia
George Lucas e o sonho de Hitchcock
No fim de semana passado, na convenção C2E2 em Chicago, nos EUA, o diretor de relações com fãs da Lucasfilm, Steve Sansweet, deixou escapar uma ponta de esperança para os fãs da maior saga da história do cinema, Guerra nas Estrelas. Ao responder a questões de fãs sobre os lançamentos dos filmes em Blu Ray, ouviu uma pergunta sobre possíveis “novas aventuras depois do Retorno de Jedi (o terceiro filme da série) com nossos personagens favoritos, Luke, Han e Leia”. Sem pestanejar, ele respondeu: “E você verá, com um novo tipo de animação.”
Guerra nas Estrelas (1977) mudou completamente a história do cinema e do entretenimento do fim do século passado ao colocar o fã como prioridade. Assistente de Francis Ford Coppola, seu criador George Lucas começou a chamar atenção quando seu segundo filme,
Lucas não deixou barato. Imaginou um filme que tivesse a sensação de ficção científica sem que necessariamente fosse cientificamente verossímil. Sua intenção era recuperar a excitação que tinha ao frequentar as matinês de sua infância, em que sagas espaciais como Flash Gordon, aventuras de capa e espada como as de Robin Hood e filmes sobre a Primeira Guerra Mundial faziam crianças e adolescentes delirar na sala escura.
Depois da nouvelle vague francesa nos anos 60, o cinema tornou-se sério e adulto e perdeu o encantamento daqueles dias. Lucas recuperou estes elementos em uma história que muitos achavam que ia dar com os burros n’água. Gastou a maior parte do orçamento de US$ 10 milhões em efeitos especiais e deu maior ênfase a naves, alienígenas e robôs do que a atores. De quebra, conseguiu os direitos de marketing dos filmes e – com o sucesso da saga – fatura alto até hoje com a venda de produtos licenciados.
Tímido, George Lucas enfrenta até hoje a crítica de que é um péssimo diretor por não saber lidar com pessoas. A atriz Carrie Fischer, que vive a princesa Leia, ironizava nos bastidores que o elenco humano era conhecido como “efeito especial de carne”.
E desde o segundo filme, O Império Contra-Ataca (1980), começou uma lenta mudança ao transformar bonecos em atores, ao criar o guru alien Yoda. Quando resolveu fazer a segunda trilogia de filmes (1999- 2005), criou outros tantos personagens em animação computadorizada e, com a anunciada nova trilogia, deve levar isto às últimas consequências, dispensando atores para usar apenas computação gráfica.
Não é apenas um capricho de um nerd que se tornou ícone de várias gerações. Filmes sem atores remetem à máxima de Alfred Hitchcock, que dizia invejar Walt Disney. “Quando ele não gosta de um ator, simplesmente o apaga.” Agora George Lucas pode tentar realizar a tão sonhada utopia do mestre do suspense.
Já o novo do Foals, Total Life Forever, menos frenético que o disco de estréia Antidotes, ainda não bateu. Normal, a banda é como uma bomba-relógio e só começa a fazer efeito depois de um tempinho…