Olha quem tá falando…

, por Alexandre Matias

Materinha com o Capital pra Rolling Stone de abril. A resenha do disco você lê aqui.

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Agora pra sempre

Tocando para uma nova geração de fãs, o Capital Inicial vive os paradoxos entre a mocidade e a velha guarda e compara sua trajetória com a de Aerosmith e Ramones. Musicalmente juvenil e profissionalmente veterana, eles são uma banda de rock popular brasileiro

Por algum motivo, o Capital Inicial me lembra John Travolta. Sim, é inevitável pensar nos embalos de sábado à noite ao som do primeiro disco do grupo, um dos raros momentos em que o pós-punk brasileiro flertou com a música pop. Enquanto na Inglaterra e nos EUA, quem conseguiu se levantar da briga do punk lentamente dominou as paradas de sucesso (U2, Echo & the Bunnymen, Cure, Talking Heads), no Brasil o gênero que se levantou das cinzas dos Sex Pistols sempre foi visto como um artefato apenas experimental, aparelho de tortura musical em que jornalistas aspirantes a roqueiros tentaram a fama cult. Menos nos dois discos que colocaram Brasília no mapa pop brasileiro: as estréias homônimas de Legião Urbana e do Capital Inicial.

O Capital de hoje, por outro lado, ainda não dança com Uma Thurman em um filme do Tarantino. Pelo contrário, sua segunda vinda ainda está estagnada em algum momento entre um recomeço moderado (Atrás dos Olhos, o disco do retorno em 1998, é musicalmente próximo de Eletricidade, de 1991, o último disco antes da saída do vocalista Dinho Ouro-Preto, e é o modelo ao redor do qual eles reinventaram a banda) e uma versão branda da máquina de nostalgia dos anos 80 (em dois projetos com a MTV, o Acústico, lançado no ano 2000, e o especial sobre o Aborto Elétrico, em 2005). Estamos assistindo às diferentes continuações de Olha Quem Está Falando.

Pra quem passa sem olhar, o renascimento do Capital é apenas John Travolta conversando com um bebê. Quem viu o filme, no entanto, sabe que o truque é justo o contrário: Travolta näo se esforça para ser entendido pelo bebê, e sim conversa com ele como se ele fosse qualquer outra pessoa. É o único jeito que ele sabe falar, é a única coisa que ele pode fazer.

“Agora/ Pra sempre/ Vou embora, mas eu nunca disse adeus”, canta a faixa-título do novo disco da banda, Eu Nunca Disse Adeus, num dos inúmeros paradoxos entre mocidade e velha guarda que são transformados em frases de efeito pelas letras do décimo segundo disco da carreira da banda de Brasília. Musicalmente, a introdução da nova canção de trabalho acena para “American Pie”, o hino de Don McLean sobre a primeira morte do rock, quando a notícia da queda do avião de Buddy Holly imortaliza o gênero na adolescência da cultura popular. Problema das bandas de rock que viveram para além de sua juventude. Uma equação particular, que cada grupo soluciona à sua maneira, mas que inevitavelmente leva para o mesmo resultado: profissão roqueiro, arte burocrática.

Encontro a banda numa ocasião formal, uma entrevista acertada para a divulgação do novo produto com a marca da banda. Emails trocados, fotos marcadas, datas ajustadas e minha vez de falar com os quatro integrantes acontece no final de uma rodada de três dias de entrevistas. Matérias lentamente começam a aparecer aqui e ali, primeiro em sites, depois em jornais e revistas, logo na TV. Há pouco menos de uma década, este encontro aconteceria em um espaçoso escritório com vista para a zona oeste paulistana, mas hoje o que sobrou da Sony e da BMG funciona no mesmo prédio da Sonopress, num quarteirão no meio do nada na Barra Funda, em São Paulo. O humor da mudança é a ironia: antes a banda era inexperiente e passeava inconseqüente pelos corredores das multinacionais que já a tiveram em seu elenco; hoje, veteranos, os integrantes do Capital reúnem-se sérios como um dos nomes que ainda ajuda esta instituição semimorta – a gravadora de discos – manter-se funcionando.

Eles terminam um papo com a equipe de um portal de internet e a assessora do grupo me chama para a sala de reuniões. Primeiro, rápidos cumprimentos e logo nos posicionamos numa longa mesa, O baterista Fê Lemos, o guitarrista Yves Passarelli e o baixista Flávio Lemos sentam-se lado a lado, e deixam a cabeceira da mesa para o vocalista Dinho Ouro-Preto. Deve ser força do hábito. Afinal, logo que o gravador é ligado, ele insiste em conduzir o papo. Ele gesticula, arregala os olhos, afeta as palavras em inglês para enfatizar sua pronúncia original – domina a conversa, e mesmo com os outros três quartos do Capital presentes em cada brecha prontos para “abrir um parêntese” ou “falar outra coisa”, ele não deixa de querer ser o centro das atenções e a voz da história. Normal: coisa de vocalista.

Seu ego, no entanto, parece domado, passadas décadas dos dias de glória como garoto-propaganda de uma banda-símbolo da safra de novas bandas que invadiu o rádio e a TV na década de 80. E o que poderia ser uma extensa digressão sobre sua própria influência na história da humanidade torna-se uma espécie de terapia em voz alta, em que ele lista mea-culpas, busca referências do passado ao fazer ressalvas sobre a lembrança ser apenas sua versão – e não a definitiva – dos fatos e sublinha, seguidas vezes, que a primeira fase da banda foi marcada por uma seqüência de erros que afundou o grupo no começo dos anos 90 e também é responsável pela estabilidade do grupo após seu retorno, de 1998 até hoje.

Por outro lado, os irmãos Flavio e Fê Lemos e o mais novo integrante da banda, o ex-Viper Yves (que assumiu as guitarras quando um dos fundadores da banda, Loro Jones, deixou o barco em 2002, após a bem-sucedida turnê do Acústico MTV do grupo), o deixam falar à vontade. Uma entrevista com o grupo é um pocket-show do Capital Inicial sem música e os três sabem que o importante é deixar o vocalista fazer o que sabe melhor – e dar entrevista é uma tarefa tão natural para Dinho quanto fazer um show, é uma parte do showbusiness tão importante para o artista. Embora o soltem, puxam o assunto de volta sempre que esbarram em temas como a identidade musical da banda, as limitações técnicas como instrumentistas e a imaturidade durante os anos 80.

“Perdi as vezes que amigos chegam pra mim e falam baixinho”, ele reclina-se como se fosse contar um segredo. “‘Seja sincero, você gosta de Caetano Veloso?'”. Pequena pausa para dramatizar o momento – tudo inconscientemente estudado, pronto para a frase de efeito: “Eu odeio Caetano Veloso!”, diz e ri, enquanto conserta uma possível controvérsia de ocasião – afinal, mesmo do lado de lá da vitrine há um quarto de século, Dinho pertence a uma geração de artista que mede as palavras como se quisesse editar o jornalista – típico de outros comunicadores dos anos 80, como Humberto Gessinger, Lobão, Paulo Ricardo e Renato Russo, compositores que inverteram o adágio e, por pouco, não sacralizam que “todo roqueiro é um crítico frustrado”. “Quer dizer, pessoalmente, ele é muito gentil, educado, de uma simpatia transbordante”, remenda. “Mas eu não gosto de MPB!”, retoma com o mesmo afinco, sem personalizar no velho baiano a sigla que é quase sinônimo de mainstream “sério” no Brasil.

“Tem gente que pergunta se fazemos um esforço pra nos comunicar com um público jovem. Não, a gente faz o que sempre fez. O Joey Ramone morreu com a minha idade – imagina se se os últimos discos dos Ramones tivessem ficado adultos, com temas adultos… O Sting fez isso e deu no que deu – não é à toa que ele voltou com o Police, porque é o único jeito que vão lembrar dele”, segue o vocalista.

Mas o rock que hoje o Capital defende não é tão distante da MPB – em dois sentidos. Primeiro, por tratar a rebeldia ou a balada como produto vendável, com um certificado de qualidade dúbio, resumido no próprio nome do artista, cujo peso varia entre o impacto deste no imaginário coletivo e no mercado da música; ou seja, em nós. Depois, se lembrarmos do que era o negócio fonográfico ao começar seu diálogo com o público adolescente, encontramos os nomes que formam o Olimpo deste novo império (Phil Spector, Brian Wilson, os Beatles, a Motown, os Stones, Burt Bacharach, Roberto e Erasmo) ralando de sol a sol, lançando canções e discos num ritmo industrial, longe do inconformismo contra “o sistema” ou de ataques de estrelismo.

Esta solução transforma a atual música pop nesta instituição lenta e sorridente, uma corporação global do bom-mocismo. O que antes era uma manifestação subversiva de adolescentes querendo se divertir a qualquer custo, agora é uma máquina de franchising de longevidade profissa. Seja Aerosmith, Red Hot Chili Peppers, Coldplay ou Skank. Ao atingir essa maturidade inofensiva e abrir mão de seus elementos de maior risco (estes hoje estão dispersos em MP3s anônimos de pseudônimos de semicelebridades em blogs indies ou em servidores de multinacionais das telecomunicações), o pop dos anos 00 chega a uma morosidade semelhante à que a sigla MPB condiciona a música brasileira à realidade pós-bossa nova – onde tudo que não é MPB não é sério, nem merece entrar para a história.

Por outro lado, a banda não é mais uma caricatura distorcida do que era uma banda pop nos anos 80. Seu renascimento no final dos anos 90, aos poucos apaga a tragicômica carreira da banda em seus primeiros dias. A maturidade atual, por outro lado, é sempre festejada e compartilhada entre os três integrantes iniciais, que sempre que falam dos motivos do sucesso do final dos anos 90, convergem para a acertada decisão em construir uma carreira de novo a partir dos elementos iniciais, em vez de adaptar-se à cena sem imaginação de nostalgia da década de 80 ou tentar reinventar-se pela quinta ou sexta vez. Mas por outro lado, é difícil imaginar que isso seja uma tática – eles acreditam mesmo que não há problema em fazer rock depois dos 40 anos.

O título do novo disco – o 12º da carreira e o sexto desde a volta – é fruto desta convicção. Eu Nunca Disse Adeus diz respeito à disposição da banda em continuar firme no território da eterna fuga do rock’n’roll. Dinho começa a explicar-se: “No começo da carreira nós nos desentendíamos muito e éramos desleixados com as coisas que produzíamos, daí a irregularidade dos primeiros discos, que é fruto de uma certa omissão, coisas que eram feitas sem nossa supervisão, e da nossa auto-indulgência, quando achávamos que tudo que fizéssemos tava bom. Isso fez com que a carreira fosse errática nos anos 80”.

Na nova fase, uma renovação considerável de público afasta o Capital do fantasma dos anos 80 e os posiciona como uma banda de rock popular – musicalmente juvenil e profissionalmente veterana. “Acho que parecemos o Aerosmith”, explica Dinho, “muito por termos cagado tudo quando fizemos sucesso da primeira vez, mas também pela forma como retomamos nossa carreira. Quando eles voltaram, estavam idênticos ao que eram. O Pump e o Get a Grip, que são os discos de volta do Aerosmith, são muito parecidos com os clássicos deles, o Toys in the Attic, Rocks…”.

O Capital Inicial é um dos pilares do rock de Brasília, quando a cidade ainda tinha vinte e poucos anos e começava a entrar no imaginário nacional como algo mais vivo que apenas a sede do poder federal. Os irmãos Fê e Flávio passaram 1977 em Londres, viram o punk nascer e mandavam fitas cassetes para os amigos da cidade que haviam descoberto o gênero pelas páginas de revistas importadas. Fê voltou com uma bateria e lançou a pedra fundamental do rock da cidade, o grupo Aborto Elétrico, que ainda contava com o baixista André Pretorius e o vocalista Renato Russo, o primeiro passo da carreira do sujeito. A banda implodiu ainda no começo dos anos 80, quando Russo saiu para fundar a Legião Urbana (depois de uma breve carreira solo) e Fê seguiu para criar o Capital Inicial. Era o início do punk de Brasília, que ainda teria bandas como Blitz 64, Metralhas, XXX e Plebe Rude entre seus primeiros protagonistas.

Dinho – que começou na minúscula cena da cidade como editor de um fanzine (chamado “Fan Zine”) – era só um fã quando Heloísa Teixeira ainda cantava na banda, mas o vocalista curitibano foi convidado para entrar no grupo e se estabeleceu como frontman e Capital firmou-se como um dos principais nomes da cidade. Isso acontece ao mesmo tempo em que o rock brasileiro se torna a trilha sonora para o fim da ditadura militar e toda uma geração encontra espaço para se estabelecer com a nova música popular brasileira. O novo rock bate de frente com a MPB e apresenta um novo público para o mercado brasileiro de discos. Fenômeno de massas, a geração 80 floresce em diferentes cidades e ergue dezenas de grupos para o topo das paradas de sucesso, devolvendo-os logo em seguida para o anonimato.

O fato de ser citado em qualquer antologia de música brasileira dos anos 80 não faz com que o Capital Inicial seja uma de suas principais bandas. Ser um dos principais coadjuvantes (ao lado da Plebe Rude) da cena que revelou a banda de rock mais popular do Brasil fez com que o grupo de Dinho e dos irmãos Lemos se tornasse referência, mas seu impacto musical é reduzido e restrito a hits esparsos numa discografia irregular, que só se estabiliza após a volta, em 1998. “A entrada do Bozzo (Barretti, tecladista efetivado como integrante do grupo a partir do segundo disco, Independência, de 1987) desequilibra tudo”, Dinho admite e abre o confessionário da entrevista. “Ele era músico de formação, trabalhou com o Arrigo Barnabé e ele pegava no pé de todo mundo. Isso intimidava a gente. Ele não tinha a nossa origem, não era de Brasília, nunca tinha ouvido punk, não conseguia ouvir Cure! Ele falava que o Robert Smith era desafinado! Ele entra em 87 e eu confesso, muito por decisão e influência minha. Eu não sabia escrever, não sabia cantar, não sabia tocar nenhum instrumento e achava que o Capital seria incapaz de dar uma seqüência à nossa carreira se não tivéssemos um músico que conhecesse música. Foi nosso maior erro… Não pelo Bozzo como pessoa, mas foi um grande erro conceitual, em relação à minha insegurança”.

“E em 87,a gente assinou com o (empresário de shows Manoel) Poladian e fez a turnê do Sting no Brasil. E o grande lance era esse, ‘o Capital ia abrir os shows do Sting!'”, lembra o baterista. “E o Sting chegou com aquele show jazzístico, sem os sucessos do Police e não agradou à platéia. E por outro lado, tinha o Capital com ‘Música Urbana’, ‘Fátima’ e ‘Independência’ e mesmo tocando na beiradinha do palco, com 30% do som, sem passagem de som e ainda dia, a gente consegue agradar a galera. A gente se sai bem da turnê. Lançamos o ‘Independência’, abrimos bem a turnê do Sting, contratados pelo maior empresário do Brasil. E o Poladian deixou a gente três longos meses sem fazer nada. Passou outubro, novembro… ‘Vamos começar a nossa?’. E eles adiavam. Virou o ano e fomos conversar sobre ‘o primeiro show da grandiosa turnê do Capital’, no dia 25 de janeiro, aniversário da cidade de São Paulo”. “Com a Fafá de Belém!”, emenda Flávio, rindo.

“Aí a gente ficou com teorias de conspiração, que o cara tinha contratado a gente para nos tirar do cenário e não atrapalhar o sucesso do RPM, que também era contratado dele. Até hoje eu não consigo entender. E aí acontecem duas coisas: no momento em que o Capital tava mais bombado, a gente parou de fazer shows, e o disco seguinte que a gente faz é um desastre absoluto”, admite o vocalista. Fê tenta botar panos quentes: “…que poderia ter sido salvo se tivéssemos trabalhado o single um pouco mais…”. “Ou se a gente estivesse na gravação, se a gente tivesse tirado aqueles metais todos, diminuído os teclados… A culpa foi toda nossa”, segue o vocalista. “O terceiro disco (Você Não Precisa Entender, de 1989) é um consenso entre nós, foi o nosso maior erro. Pra você ter idéia, enquanto o disco tava sendo feito, a gente tava cheirando cocaína em cima do piano. A gente tava pouco se fudendo, cara. Enquanto rolava a mixagem, a gente tava bêbado na piscina do hotel. Mas quando a gente foi ouvir o negócio… O Bozzo tinha enchido de metais do começo ao fim, teclados pra tudo que é lado. E já tinha sido! Já tinha ido pra loja!”.

“Não é que tudo foi ruim, mas nos anos 80 foi tudo muito irregular”, continua. “e por ter essa insegurança generalizada que nos caracterizou nos anos 80, quando surgiu o grunge, a gente desabou de uma vez. E não sabíamos mais o que fazer. Porque o grunge era mais ou menos o que nós éramos no começo dos anos 80, mas dessa vez a gente era o inimigo! Nós éramos o alvo da chacota, nós que devíamos ser aliados dos caras. Foi quando a gente viu que desandou tudo, e que era melhor parar e procurar outros rumos”.

“No começo dos anos 90, aconteceu o renascimento do metal e aparece a bateria de dois bumbos e toda banda de rock que se prezasse tinha que ter bateria com dois bumbos”, lembra Fê. “Eu não sabia tocar direito com um, mas fui lá, comprei meu pedal duplo e passei um ano com aquela geringonça que não tinha nada a ver com o som do Capital! Mas todas as bandas tinham que ter dois bumbos… Quando a gente abriu pro A-ha no Rock in Rio II, eu não conseguia tocar as músicas tradicionais do Capital porque tinha que usar os dois bumbos e eu não sabia usar um só e ficou desastre completo!”.

“Quando desanda esse negócio com o grunge, a gente passa a sentir vergonha do que tinha feito”, continua Dinho, para começar a falar sobre o renascimento da banda, com sua formação original. Na primeira metade dos anos 90, o Capital sobrevive com o vocalista Murilo Lima no lugar de Dinho, que parte para a formação de uma nova banda (Vertigo), e em seguida lança seu único disco solo, enquanto a banda lança dois discos independentes sem nenhuma repercussão. Até que Loro passa a freqüentar o estúdio do produtor iugoslavo Mitar Subotic (o Suba, 1961-1999), em São Paulo, com quem Dinho já trabalhava. O guitarrista havia saído do grupo em 97 e ao voltar a conversar com Ouro-Preto, passa a cogitar a hipótese da formação original voltar. “Foi uma merda como acabou. Muita frustração, né? A gente tinha empenhado toda nossa juventude naquilo, olhava pra trás e via onde tinha errado e via nossos companheiros seguindo carreira… Era muito frustrante e essa frustração fez com que cada um de nós culpasse um ao outro”, lembra o vocalista.

E em março de 98, depois de quatro anos e meio sem se falar, os irmãos Lemos e Dinho se reaproximam e a volta do Capital Inicial começa a ser pensada. “A gente voltou devagar e, aos trancos e barrancos, fez uns shows, totalmente pautados em nostalgia”, continua Dinho, “mas logo surge a possibilidade de gravar e é ali que a gente percebe que o único modo de continuarmos era se compuséssemos um repertório novo – já tínhamos feito uma turnê com as canções velhas e aquilo não ia longe. Não tinha opção – não dava pra fazer disco ao vivo ou remix… A única solução para voltar era compor coisas novas. E o Atrás dos Olhos, que é esse disco de 1998, tem uma repercussão surpreendente. O disco saiu no final de 98 pela gravadora Abril Music, e o ano seguinte fizemos 70 shows, em todas capitais, fizemos o Palace lotado, duas vezes no ano… Começa a aparecer garotada, de 15, 16 anos… ”

E assim renasce o Capital Inicial, que aproveita a boa repercussão do disco para emendar um Acústico MTV no ano 2000, disco que vende mais de 250 mil cópias e garante dois anos na estrada para a banda, com quase 200 shows para promovê-lo.o final desta etapa, o guitarrista Loro Jones sai de cena sem atrito, Yves assume sua vaga e a banda ainda gravaria Rosas e Vinho Tinto (2002) e Gigante (2004), além do projeto Aborto Elétrico, que resgatava o repertório da primeira banda punk de Brasília num show para a emissora do grupo Abril. “A gente tá confortável em ser o Capital. É isso o que a gente faz, é a nossa marca. A gente deu uns tropeços, mas vive essa segunda chance. Vamos mostrar que não vamos repetir os mesmos erros de novo. Hoje tem um rumo, não tem mais a confusão conceitual. A gente só toca o que a gente sabe tocar. É tudo simples: poucos acordes, letras direto ao ponto. É isso o que somos”.

Olha quem tá falando…