O que o novo filme do Mad Max realmente redefine
Muita gente empolgada com o novo filme do Mad Max não sem motivo: é uma montanha russa de ação, sordidez e violência, o longo vai-e-volta das diligências no velho oeste norte-americano agora ambientado num deserto pós-apocalíptico em que um vilão de desenho animado manipula um exército Slipknot com base no medo e na escassez. O fato de ter sido concebido e dirigido pelo mesmo autor dos três primeiros filmes é mais importante do que a mudança do ator que faz o protagonista original (Tom Brady em vez de Mel Gibson) e o ritmo frenético e desenfreado do filme garante a pilha absurda que todos buscamos quando assistimos a filmes de ação.
Mas não é um novo marco zero para os filmes de ação como muitos vêm alardeando. Não compara-se a outros filmes que realmente redefiniram o gênero, como os filmes de James Bond, Bullit, Operação França, os Indiana Jones, Comando para Matar, os Exterminador do Futuro, os Duro de Matar ou o primeiro Matrix. Outros filmes menores recentes, que não tiveram um décimo do impacto deste novo Mad Max, são bem mais importantes nesse sentido: o sangue frio e a sede de vingança do John Wick vivido por Keanu Reeves em De Volta ao Jogo (um filmaço que ninguém deu a menor bola) ou a homenagem de Matthew Vaughn e Mark Millar aos filmes clássicos de espião em Kingsman: Serviço Secreto são bem mais transgressores dentro do gênero do que esse Estrada da Fúria. Até os dois psicóticos e hilários Adrenalina de Jason Statham vão mais além do que as perseguições no deserto do filme de George Miller.
O que é realmente transgressor neste novo Mad Max é a redefinição do papel feminino em filmes de Hollywood.
Ele passa fácil em um teste feminista chamado o Teste de Bechdel, criado a partir de uma história da quadrinista Alison Bechdel (a mesma de Fun Home), em que são feitas três perguntas básicas sobre alguma obra – filme, série, livro, HQ etc. – para ver se o filme realmente retratam as mulheres como personagens ou meras escadas românticas ou sexuais para os protagonistas homens. Para passar no teste, a obra deve responder afirmativamente a três pressupostos.
Deve ter pelo menos duas mulheres.
Elas conversam entre si.
Sobre outro assunto que não seja um homem.
Vários filmes – principalmente os mais recentes – passam nesse teste, grande parte deles raspando, mas a discrepância do Mad Max atual com os filmes anteriores é brutal a ponto do próprio protagonista do filme ser usado mais como um McGuffin para guiar a trama do que como propriamente um herói – este papel é de Charlize Theron, a implacável Imperator Furiosa que conduz o filme com – literalmente – punho de ferro. Sem me aprofundar muito, indico esse texto da Larissa Palmieri sobre esta e outras qualidades do novo Mad Max, além do tumblr Hey Girl (de onde saiu a foto que ilustra esse post), em que um Mad Max sensível entende perfeitamente os dramas de sua parceira de fuga.
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