Kassin é o cara

, por Alexandre Matias

Essa é da edição que tá na banca.

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Multi-homem
Em estúdio e em turnê, Kassin se consolida como o nome mais produtivo da musica brasileira

“Uma coisa que me deixa muito feliz a respeito do Cansei de Ser Sexy, fora ser uma banda que eu gosto pra caralho é o fato de eles terem o tratamento fora do Brasil como uma banda… normal”, perguntei sobre a repercussão sobre seu trabalho no exterior e Kassin emenda do outro lado, “Sem precisar da coisa típica brasileira, do elemento regional. Eles são vistos como uma banda de pop que também é um deles. Isso é uma alegria de ver e ajuda muito a gente a não parecer mais que aqui é uma selva”.

Kassin tem autoridade pra falar. Um dos fundadores do Acabou La Tequila (“a” banda carioca dos anos 90 que não aconteceu – e volta e meia ameaça ressuscitar), o baixista grandalhão de óculos de aro grosso é uma das personalidades mais importantes na música brasileira hoje. Não bastasse a banda + 2, formada com os compadres de adolescência Domenico Lancelotti e Moreno Veloso, ser uma das melhores coisas novas no pop nacional atualmente (melhorando significativamente a cada disco), ele transita entre diferentes nichos deste cenário, atuando como produtor, instrumentista, compositor e arranjador. Basta ver com quem ele está trabalhando na metade deste 2007, pra ter uma amostra.

“Acabei de produzir o disco da Vanessa da Mata, com o Mario Caldato (produtor dos Beastie Boys)”, puxa pela memória, como se fosse difícil lembrar do que ele está fazendo agora. “Também tou produzindo o Wander Wildner e terminei o Canastra, que acabou de ir às bancas (via revista Outracoisa), com o Berna (Ceppas, dupla de Kassin no estúdio Monoaural). E ia fazer o Los Hermanos, mas eles resolveram dar um tempo”.

É e ainda tem isso. Como se não bastasse seus projetos paralelos, como o solo eletrônico experimental Artificial (“estou começando o segundo disco agora, mais tradicional, sem Gameboy. Tou usando teclados baratíssimos e brinquedos de criança até sintetizadores e baterias eletrônicas melhores. Não tou limitando a um tipo de som”), a mixtape Pará Planetário (compilada ao lado do produtor Carlos Eduardo Miranda, “a gente acabou o disco, só que o governo de lá mudou e eu não sei como é que anda isso”) ou o coletivo Orquestra Imperial (“era uma coisa que eu achava que não chegaria a um mês de existência”), Alexandre Kassin também é responsável por ajudar a maior banda de rock do Brasil – quase ali na MPB – a achar seu próprio tipo de som.

Mas ele não se considera um quinto integrante do Los Hermanos. “ Eu sou muito amigo deles, a gente se vê sempre, o Marcelo (Camelo) mora perto de casa… Mas quando a gente tá trabalhando junto, por mais que a gente seja amigo, aquilo é trabalho, a gente tem que terminar um negócio que no fim das contas é um produto. Eu ajudo eles a chegarem no ponto em que eles querem. A minha função, além de amigo, é essa: São as idéias deles e a minha função é concretizá-las. Isso é bem diferente de ser da banda, mesmo porque eu teria tudo pra ser da banda, a gente se conhece há mais tempo do que trabalha juntos. Mas o meu trabalho acaba quando o disco termina, e o deles começa quando o disco vai pra rua, quando eles vão defender aquilo todo dia, em Goiânia, no Nordeste”.

Sobre um possível fim da banda, Kassin nem pestaneja. “Eu acompanhei todo o processo. Eles resolveram dar uma parada. Tava cada um com seu projeto, com suas coisas e não combinava com a idéia da banda. E eles preferiram tirar umas férias, mas depois eles voltam. Mas não se deram prazo, porque ninguém começou ainda aos seus trabalhos específicos. Eles acharam que não ia ficar tão bom. E pra lançar um disco ruim, melhor nem lançar. Eles foram bem honestos, com eles e com o público. Ninguém brigou, não terminou o tesão de tocar juntos. É mais uma preocupação com a qualidade do material”.

Além das produções, Kassin volta para a estrada com o + 2 ainda no meio do ano. “Como o disco só sai nos EUA no segundo semestre, a gente só vai pra lá mais pro final do ano. Antes disso a gente vai pra Santiago no Chile, duas ou três cidades na Argentina e depois em Montevidéu, no Uruguai, no final de junho. Em julho, a gente fez um projeto com a Adriana Calcanhoto que é ela e nós três, num show pra teatros menores, sem bateria, mais calmo, eu vou tocar piano elétrico. São cinco shows na Espanha e dois shows no Japão e quando chegar lá, a gente vai tocar como Kassin + 2 no Fuji Rock. É o primeiro festival em que a gente toca, e aí é a banda toda, com os outros dois músicos, o Pedro Sá e o Stephan San Juan. Aí a gente volta em agosto e vai fazer uns shows por aqui”.

Sobre o Brasil – e além do CSS –, ele fala do que anda ouvindo de bom por estas bandas. “Tem o Fino Coletivo, que é bonzão ao vivo. Eu sempre ouço o Diego Medina, sempre. Curto também essas bandas de folk psicodélico, tipo Supercordas e Momo. As coisas de funk, como o Sany Pitbull ou o DJ Rudi, de Volta Redonda, até os derivados, como o Bonde do Rolê ou o Edu K. Mas eu tou meio por fora da cena, pra falar a verdade, com essa parada do disco, viagem direto… Mas eu não tenho muito ido a show, que foi uma parada que mudou depois da paternidade. A Nara vai fazer três anos e é uma coisa que muda completamente tudo, até umas paradas que eu achava que nunca iam mudar, tipo acordar cedo. Hoje eu acordo às seis da manhã e acho bonzão!”.