Coisa Horrorosa chegou!

, por Alexandre Matias

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“A Coisa Horrorosa nunca foi pensada pra existir na internet, era só a desculpa que eu usava pra juntar meus amigos pra tocar”, me explica por email Tefo Maccarini, idealizador do grupo punk que lança seu primeiro EP em primeira mão no Trabalho Sujo. “A banda nunca foi pra ser séria, nem pra ter uma ‘presença virtual forte’ ou qualquer coisa assim mais voltada pro mercado. Agora com a pandemia eu resolvi criar um grupo de zap, mais pra manter todo mundo em contato do que pra produzir músicas ou ser uma banda”, ele continua.

3 Própria e 1 Cover de Cólera é puxada por “Ecocídio”, que gerou um lyric vídeo que Tefo organizou à distância, reunindo os amigos que já passaram pela banda. “O lance é que nunca conseguimos repetir a formação pelos mais variados motivos: morte na família, compromissos de trabalho, braço quebrado um dia antes do show. A própria banda que gravou o EP nunca fez um show com essa formação”, ele explica, citando o grupo formado por Fábio Bianchini (Superbug) na guitarra e Carol Werutsky e Dora Hoff (ambas do La Leuca) respectivamente na bateria e no baixo. “Td mundo que aparece no vídeo em algum momento já tocou alguma coisa na banda e tem saco pra participar do nosso grupo do zap. Tem mais pessoas que já tocaram na banda que acabou que eu nem convidei pra participar do vídeo porque organizamos tudo pelo grupo mesmo.”

A banda fez pouquíssimos shows porque nunca pensou dentro dessa lógica de banda. “A banda fez uns seis shows desde o primeiro no natal de 2018. A minha intenção inicial é que não fosse uma banda, era pra ser uma coisa mais tipo um happening com instrumentos musicais e que o humor estivesse presente nos shows com bastante liberdade pra fazer e falar merda. Sempre rola muita falação em cima do palco, pessoas aleatórias sobem pra cantar uma música ou pra falar alguma coisa no microfone, um ou outro show já teve momentos que se aproximavam de performance, é uma bagunça organizada feita pra quem tá vendo se informar e se divertir”, comemora o idealizador do grupo. “Essa ‘flexibilidade’ acabou possibilitando que a gente tocasse dois shows em SP no ano passado com formações diferentes e músicos que eu sempre quis tocar junto mas devido a minha falta de habilidade musical dificilmente ia ter essa oportunidade. As músicas mudam muito de show pra show, dependendo de quem tá tocando e de quem tá assistindo e quando eu percebi, isso se tornou na hora a coisa que eu mais gostava da Coisa Horrorosa. Nenhum show era igual ao anterior mesmo o repertório não mudando. Subindo no palco – que geralmente não é um palco é só uma divisão imaginária entre artista e público – eu sabia que nenhum show ia ser nem de perto parecido com o anterior e isso era uma das coisas que me mantém muito afim de continuar esse projeto. E essa rotatividade me deixou livre pra marcar shows em qualquer lugar que eu tivesse amigos e amigas que tivessem a fim de fazer uma bagunça e soubessem tocar 3 acordes.”

Ele explica a escolha do hino punk brasileiro “Pela Paz em Todo Mundo” no repertório do primeiro EP. “Cólera pra mim é a banda mais importante da história do punk brasileiro. A vida e a obra do Redson Pozzi é uma coisa que tem que ser estudada por todo mundo que se interessa pelo lado mais político do punk. É um cara que sempre levantou bandeiras que são muito caras pra mim, e antes de todo mundo. Pautas como antimilitarismo, antifascismo, ecologia, combate a fome, condição dos trabalhadores, pobreza e vida na cidade brasileira em uma época de repressão brutal tão nos discos do Cólera desde o Grito Suburbano. ‘Pela Paz’ foi um das primeiras músicas que eu aprendi a tocar e cantar inteira no violão e levei pro ensaio do último show da Coisa Horrorosa na intenção de fazer um cover. Ai eu brinquei que tinha feito uma versão indie, com uma guitarra um pouco menos retona assim, nisso a Carol, do La Leuca, já mandou uma linha de bateria que saiu diretamente do Arctic Monkeys de 2006 e a Dora já saiu acompanhando no baixo.”

Mas a versão do grupo punk foi responsável por mudar o disco para que ele entrasse no Spotify. “Foi uma exigência da distribuidora que não quer ficar mal com o Spotify. Cada distribuidora tem suas regras arbitrárias do que pode e do que não pode e a gente fica sempre sem saber o que vai ser a chatice da vez. A distribuidora do nosso selo – Stock-a Records – exigiu que todas as menções a palavra “cover” e “Cólera” fossem tiradas da arte e do nome do EP sem dar nenhum motivo além de ‘evitar problemas legais’. É o segundo problema já que eu pessoalmente tenho distribuindo música no Spotify, o EP de outra banda que eu tocava, o Amarelo Piscante, foi negado pela ONE Rpm porque o algoritmo da empresa acusou que o disco de ‘gravação amadora e excesso de barulho’. Isso não aconteceu só comigo, eu sei de outros músicos que tiveram problemas parecidos por terem colocado a palavra ‘cover’ em alguma faixa ou nome do disco, além de nomes conhecidos de lo-fi, noise, bedroom pop que tiveram a distribuição negada pelo Spotify porque o som não estava ‘limpo’ ou ‘profissional’ o suficiente.”

E quais são os planos de uma banda que foi criada para existir apenas ao vivo sobrevive numa época em que não se faz mais shows? “Nada menos do que a dominação mundial através da rede do internacional do pop underground”, ri Tefo. “Mas pra isso a gente precisa que a pandemia acabe. A Coisa Horrorosa existe pra reunir os amigos e fazer um som, até a gente conseguir fazer isso a banda está meio parada. Estamos em contato, conversando, tendo ideias bizarras, alguns estão compondo, tentando manter a chama acesa. Tem o sonho de tocar no Japão e fazer uma turnê pela América Latina mas eu acho que por enquanto isso não vai rolar. Também vamos participar da coletânea “Rock Triste Contra o Corona Vírus” com um mashup de “Canalha” do Walter Franco com “Uncontrollable Urge” do Devo. A coletânea é uma iniciativa de mais de 40 músicos da cena independente pra levantar grana pro Movimento de Luta nos Bairros que tá fazendo uma frente de combate ao COVID-19 em muitas quebradas e ocupações pelo Brasil. Temos uma página do Bandcamp em que toda sexta sai um cover de um desses artista. Você pode comprar por lá e toda grana vai pro movimento, também é possível doar direto pro movimento se você mora no Brasil.”

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