Carlos Adão – O Filme

, por Alexandre Matias

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Uma marca essencialmente paulistana, o autógrafo em preto e verde que se espalha por paredes, muros e rodovias na região da grande São Paulo finalmente é investigado no documentário Os 3 Atos de Carlos Adão, produzido pelo estúdio Inhamis e a agência Balaclava (não confundir com a gravadora de mesmo nome).

Conversei com os dois diretores do documentário, Diego Navarro e Francisco Franco, por email sobre essa figura conhecida e desconhecida ao mesmo tempo.

Como você entrou em contato pela primeira vez com o trabalho de Carlos Adão?
Diego – Eu conheci de início a lenda do Carlos Adão por amigos de SP. Me falaram sobre esse nome que aparecia misteriosamente em muros, pedras na estrada, muitas vezes acompanhado de alguma palavra agregada, coisas do tipo “Sexo” “É muito gostoso” “é Amor”. A partir daí comecei a reparar nos muros sempre que ia a São Paulo. Quando a Balaclava nos convidou para fazer esse documentário juntos achei meio coincidência e um sinal pra abraçar a ideia.
Francisco – Eu já tinha visto uma pintura quando era novo e ia com a família curtir as férias no litoral paulista. quando vi, fixei a marca e anos depois encontrei uma amiga de Volta Redonda que comentou de uns pixos dele. daí eu me recordei. Quando eu vi que ele estava pintando quadros eu achei uma grande sacada.

Como o interesse pelo personagem aumentou? Vocês o conheciam pessoalmente antes de fazer o filme?
Nós dois não o conhecíamos pessoalmente, somente por fotos, vídeos e intervenções. Depois do primeiro contato, percebemos as possibilidade de abordar vários assuntos da sua vida política, profissional e pessoal. Mas a medida que o conhecemos também percebemos vários outros campos que vão além do personagem que ele construiu. É uma figura em parte misteriosa, com uma história de vida que se confunde com a história de sua marca, e seu estilo de vida, totalmente focado nas intervenções que faz em diversas mídias, internet, música, pinturas, pixos e política.

Por que vocês resolveram fazer esse filme?
O pessoal da Balaclava curtia uma websérie que produzíamos, o Inhamis Oficina, e entraram em contato nos convidando para fazer o filme, o projeto fluiu e percebemos que estávamos na mesma sintonia: fazer um documentário que se tornasse um registro do candidato-economista-pixador e do contexto em que ele existe: um nome que se tornou lenda urbana na maior cidade da América do Sul.
Optamos por gravar com ele – e finalmente conhecê-lo – após todas as entrevistas com os artistas e amigos dele. Essas pessoas descreveram fatos e traços da personalidade dele que reforçaram nossa curiosidade em torno do mito. Escolhemos essa estratégia para ficar do lado das pessoas que só ouvem a respeito de Carlos Adão.
Esse filme é uma iniciativa independente da Balaclava e do Inhamis. Estamos trabalhando nesse projeto há um ano e meio. A produção é assinada pela Balaclava, a direção e montagem é do Inhamis.

A intenção do filme sempre foi falar com o próprio Carlos Adão?
A ideia inicial era acompanhar os rolês do Carlos Adão e extrair daí os fragmentos que contam sua história e mostram sua personalidade. Os entrevistados foram o fotógrafo Costa Lara, pixador Djan Ivson Cripta, o amigo Henan Broto, a amiga de internet Luzinda Vieira, Rafael Senatore, comprador de um quadro, Ricardo dos Santos, da pizzaria Bate Papo, no Guarujá, o grafiteiro e artivista Thiago Mundano, o tipógrafo Thiago Reginato, o tipógrafo e artista plástico Tony de Marco foram convidados para debater conosco os valores artísticos e técnicos da marca, suas impressões sobre o Carlos Adão e a dualidade pixador X político.

Como foi o encontro?
Percebemos que tínhamos um objeto de estudo com bastante personalidade e que seria um desafio não sermos contaminados durante o processo de gravação (ele é um comunicador nato). ficamos entusiasmados com a possibilidade de documentá-lo.

Como Carlos Adão é visto pela cena de grafitti e pixo do Brasil?
A maioria dos pixadores de São Paulo não gostam do Carlos Adão. Quando começou a pintar, ele não tinha noção das regras do rolê, então atropelava várias agendas de pixo. Ele foi abordado uma vez e isso foi registrado em vídeo pelos pixadores responsáveis pelo apavoro. Com o tempo, Carlos se tornou mais sagaz nas regras do pixo e se tornou menos rejeitado.
Outro ponto que o Carlos perde com o movimento é que muitos o consideram um candidato político que se aproveita do instrumento do pixo.

Carlos Adão é conhecido fora de São Paulo? E no exterior?
O Carlos é desconhecido no exterior. Fora de SP, ele é conhecido, mas não muito famoso, nos estados em que já pintou, Paraná, Santa Catarina, litoral do Rio de Janeiro. Dentro de São Paulo, Carlos pinta mais nos arredores – ele é de Taboão – e sempre transita nas rodovias que levam ao litoral e interior do estado.

Quando pretendem lançar o filme?
Estamos procurando um veículo para lançar o filme, não queremos engessá-lo com festivais. Acreditamos que todo brasileiro deve saber quem é Carlos Adão. A previsão de finalização é final de novembro. A partir daí vamos fazer um corre de distribuição. Já estão confirmadas exibições em SP, RJ, Curitiba, BH e Juiz de Fora.

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