Uma teoria para o futuro de Fringe, por Delfin

, por Alexandre Matias

Como eu, o velho Delfin tá ansioso demais com o final da terceira emporada do melhor seriado de hoje em dia – a ponto de me cogitar uma teoria sobre o episódio dessa sexta-feira. Vamos a ela:

Unidade – Uma teoria para o futuro de Fringe

Não tem jeito. A cada episódio de Fringe, a melhor série de ficção científica desta temporada, mais as coisas se tornam irremediavelmente simples. Inevitáveis. Fique certo de que este texto pode conter spoilers para você que, ao contrário de mim, não está aguardando o último episódio da terceira temporada nesta sexta-feira. Se você consegue se conter em relação a isso, por favor, não leia. Se você, no entanto, gosta de uma boa teoria, esta é uma delas.

É preciso dizer que a morte de Osama bin Laden vem em boa hora, em todos os sentidos. No discurso feito na madrugada do último domingo para segunda-feira, anunciando oficialmente o feito da tropa de elite dos seus Navy Seals, Barack Obama disse em alto e bom tom: “E hoje, vamos pensar de volta no sentido de unidade que prevaleceu em 11 de setembro”. Pois, no final, a unidade é tudo o que realmente importa. Também é assim em Fringe.

Na série, desde o início, vemos exemplos claros disso. Logo no episódio-piloto, temos a reunificação de filho e pai, Peter e Walter Bishop, após anos de separação. Temos também o nascimento de um novo tipo de unidade entre Olívia e seu noivo, o recém-falecido agente John Scott. Ao passar dos episódios, vemos que a maior parte deles, em algum nível, sempre trata do tema da unidade, seja para sua realização ou para seu rompimento. Pode não ter sido proposital, mas é um dado que se torna fundamental no final desta temporada, e que certamente dará a tônica da próxima.

Mas há outro tipo de unidade envolvida: a numérica. O elemento único, no sentido mais puro do termo. Se você insistiu em ler até aqui, mesmo não gostando de spoilers, é sua última chance de voltar atrás, aviso dado. Pois somos colocados e confrontados, também desde a primeira temporada, com o fato de que Peter Bishop está morto e vivo no mesmo universo. O que leva à irrefutável conclusão de que existe outro universo, que quase tudo o que conhecemos existe em duplicidade, que Peter é uma peça-chave em tudo isso. E que, para consertar um erro do passado, os Observadores conduziram os dois universos, que deveriam coexistir pacificamente, para ativar um plano de contingência milenar, que estaria pronto caso algo desse errado: a ativação de uma máquina construída e planejada pelos ainda misteriosos Primeiros Homens. Uma máquina que, como todas as máquinas, pode ser utilizadas para fins pacíficos ou malignos, que não difere em nada, nesse sentido, dos mecanismos de energia nuclear, ou mesmo de simples meios de transporte, como os aviões utilizados para a destruição das Torres Gêmeas.

Vocês são fãs de quadrinhos? Não são? Nessa hora, deveriam ser. Especificamente, da DC Comics. O leitor dos heróis da casa de Super-Homem, Batman e Mulher Maravilha já passaram pela mesma angústia que o fã de Fringe passará nesta sexta-feira, mas há 25 anos.

Naquela época, aconteceu o evento cataclísmico que mudou não apenas a história da editora, mas dos paradigmas dos quadrinhos heróicos mundiais: a Crise nas Infinitas Terras. Pois, na DC, isso era uma verdade (que cientistas muito sérios começam a reconhecer e estudar há algum tempo): existem infinitas versões do planeta Terra e do próprio universo. E elas estavam sendo, uma a uma, destruídas.

As forças que moviam esta destruição estavam além da capacidade humana de compreensão, mas também havia uma força contrária, lutando para preservar, de algum modo, a vida como a conhecemos. Num lance ousado, quando restavam apenas cinco universos a serem dizimados, esta força decide colocar um plano em prática e faz o impensável: UNIFICA os cinco universos, com suas cinco vias lácteas, cinco sóis e cinco planetas Terra. E aquilo que um dia foi um multiverso se tornou, pragmaticamente, um universo unificado, com o que havia de melhor de cada mundo. E que, com uma união incrível de seres superpoderosos, suplantou o mal e fez com que este universo simples, mas completamente desconhecido e com uma história totalmente alterada, se tornasse o lar de todos, dali para a frente.

No caso da DC Comics, foi uma decisão comercial: a editora havia comprado tantas editoras e tantos heróis que não se encaixavam em seu universo heróico que, no fim, tiveram que desatar o seu nó górdio de um jeito inesperado. E que funcionou, afinal de contas.

No caso de Fringe, e você já entendeu o que eu estou sugerindo, a união dos universos é inevitável. É sintomático que a escolha da unificação recaia sobre Peter Bishop, porque ele é único em mais de um sentido: ele não apenas existe vivo em apenas um universo, mas também é o primeiro ser único a ultrapassar e viver nos dois universos mostrados na série. Universos que, por causa de uma falha do observador Setembro, foram imersos em um processo de contato, contaminação e subsequente destruição mútua. Desde então, é sugerido pelo próprio observador que há uma chance de corrigir essa falha. O que todos pensamos, na época, é que essa correção era deixar o Peter que conhecemos, vindo de outro universo, ser salvo por um Walter Bishop que não era o seu pai de verdade.

Uma mudança que, afinal, nos trouxe até o momento em que Peter Bishop, que era o único que poderia acionar a máquina dos Primeiros Homens por motivos ainda não completamente esclarecidos, entra no mecanismo e, então…

Unidade.

Mas no que esta unidade implica? Primeiramente, que existia uma unidade primordial e ela está restabelecida agora – e estes seriam os motivos de existirem máquinas idênticas e que se acionam em todos os universos quando uma delas é acionada, implicando também que os Primeiros Homens viveram em uma Terra unificada, pré-poliverso. Mas, principalmente, que nada será como antes. Pois, numa unificação universal, não podem existir dois de cada – como Peter claramente percebeu no penúltimo episódio da temporada, ainda que estivesse confuso quanto a isso. Mas se Peter Bishop (e todos aqueles que não possuem duplos em outro universo) está com um futuro garantido, qual versão dos outros seres vivos sobreviverá à unificação universal? Seria um processo aleatório ou, como na teoria da evolução, sobrevive o ser que melhor se adaptaria ao processo – ou, para sermos simplistas, o mais forte?

Se for assim, estaremos preparados para ver uma unificação universal na qual a Olívia que conhecemos bem sobrevivesse, mas tendo um filho único, que não é verdadeiramente dela (mas agora é), além de uma família novamente unificada, com mãe, irmã e sobrinha, todas vivas? Mas o pior de tudo, estaremos prontos para encarar o fato indiscutível de que, nesses termos, o Walternate seria o Walter sobrevivente? Sendo assim, num universo unificado, em que ambos os universos anteriores fossem destruídos, Walternate culparia Peter, seu próprio filho, pela destruição de seu mundo, prometendo destruir o dele – e, deste modo, não teríamos mais o doce e velho Walter, mas o maior vilão de todos, a mente mais brilhante do planeta e que é dono da maior empresa de tecnologia do mundo, a Massive Dynamics?

Ainda assim, resta uma questão preocupante: porque, em um universo unificado, como vimos no final do último episódio, o mundo ainda precisaria de uma divisão Fringe?

Será uma 4ª temporada, seja como for, de grandes surpresas e que promete ser, mais do que a atual temporada, uma sequência de episódios inquietantes, como uma ciência de borda ainda mais instigante e fora do comum, porque baseada em uma unificação de tecnologia de dois universos distintos e, portanto, inesperada.

Fringe nos aproxima, a cada dia, de um futuro inevitável, que pode até não ser tão próximo, mas que não está tão distante quanto muitos querem nos fazer crer. Pois, perceba, a série é muito mais conectada com o nosso tempo do que podemos imaginar. Basta lembrar do 11 de setembro de 2001. Hoje, quase dez anos depois, temos o aparente fecho de um círculo de eventos, com a morte de Osama bin Laden. Mas a placa que Peter Bishop vê no futuro indica que não é bem assim, que talvez os círculos não se fechem realmente.

Pois você deve ser informado: na DC Comics, vinte anos depois de sua unificação, nem tudo foram flores e um vilão, que era a mente mais brilhante e manipuladora de sua época, fez surgir novamente os múltiplos universos. O que não faria uma mente perturbada como a de Walternate, que certamente não aceitará a destruição de seu mundo, para ter sua realidade de volta?

O dia em que todos, como nos conhecemos, vamos morrer é esta sexta-feira. Depois disso, nos veremos em outra vida, brother.

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