Uma revista chamada Trabalho Sujo

, por Alexandre Matias

Atualização: 13 de dezembro de 2015.

A ideia original, como escrevi no primeiro dia deste mês, era lançar o crowdfunding da revista Trabalho Sujo pelo Catarse neste domingo, dia 13 de dezembro, mas nesta duas semanas que antecederam o lançamento da campanha percebi que havia um interesse muito maior do que eu havia imaginado por esta revista. E não apenas no produto em si, mas no tipo de conteúdo que poderia vir impresso.

E comecei a receber uma série de comentários, dicas, sugestões, pedidos e ideias que me fizeram repensar a data de lançamento da campanha para ter tempo de discutir o que pode ser abordado neste formato. Algumas delas apareceram em comentários neste post ou em mensagens em redes sociais, outras vieram por email, pelo celular, em almoços, festas, aulas e encontros pessoais. Estamos vivendo um momento muito interessante para o jornalismo, a produção de textos e os meios impressos. Há muitos assuntos mas todos falam da mesma coisa. Há muito sendo produzido, escrito, apurado e traduzido, mas há pouco sendo lido. As bancas de jornais e livrarias estão cheias de coisas para ler mas pouco parece interessante o suficiente para ser levado para a casa. Isso sem contar tudo que se escreve na internet.

Há um claro descompasso entre o que as pessoas querem ler e o que está sendo produzido para ser lido. Talvez tenha a ver com a idade das pessoas que estão em cargos de chefia, que ainda entendem a internet como um planeta à parte, “descolado e jovem”, mas que os próprios pais dessas pessoas estejam mandando imagens pelo Whatsapp no grupo da família. Há também uma ânsia em cobrir tudo, em falar de tudo, em ter opinião sobre tudo, que faz o Brasil ser um dos países com o maior número de colunistas do mundo – isso sem contar os milhões que escrevem textões no Facebook. A própria conotação depreciativa para textos de mais fôlego resumida neste aumentativo irônico (o “textão”) é outro sintoma desse descompasso.

O Trabalho Sujo é a minha central de produção: tudo que faço – e não só no formato texto – é direcionado para este espaço, que tem fronteiras bem definidas, embora não tão flexíveis. Aqui falo muito de música, mas não só disso, misturando cinema, quadrinhos, política, tecnologia, ciência, comportamento e comentários sobre o que me der na telha. É um trabalho essencialmente pessoal – eu sou meu próprio filtro. Não tento me esconder sob o manto da imparcialidade e da onisciência porque sou só uma pessoa e acho que quem me conhece – pessoalmente ou por aqui – entende bem isso.

Por isso queria começar uma conversa sobre que tipo de conteúdo deveria vir nessa revista. O formato gráfico – que fiz junto com a Juj Azevedo, que também assina o projeto da revista – já está definido: são 144 páginas na metade de uma folha A4 em papel pólen. Mas o que vai para lá ainda não. Defini algumas coisas de saída, mas não são regras rígidas: queria apenas textos inéditos, não queria escrever tudo (abrindo, aos poucos, o Trabalho Sujo para colaboraçoes externas mais frequentes e não apenas esporádicas) e queria fugir desse formato viciado de revista que herdamos do mercado norte-americano (sessão de notas ou entrevista, índice, matéria de capa, duas ou três matérias maiores, matérias menores, alguns colunistas, sessão de compras e artigo na última página).

Mas quais assuntos? Mais ciência do que tecnologia? Mais rock clássico do que alternativo? Mais Rio do que São Paulo? Quem poderia escrever na revista? Quem valeria uma longa entrevista? Quem poderia ser chamado para escrever um conto? Que cena artística não tem o aprofundamento devido? Que disco poderia ser dissecado? Que lista de livros poderia ser mencionada? Vale comentar sites como se comenta livros, filmes e discos?

Como não preciso vincular o lançamento da revista a uma data específica e vi que o início da campanha poderia ser atropelado pela correria de final de ano – que mistura viagens, presentes e festas, atolando a agenda de todo mundo -, resolvi abrir um mês para essa discussão. E mais do que apenas sugestões, queria ouvir comentários de vocês sobre os comentários de vocês. É claro que não vou fazer uma revista a partir dessa discussão e que há assuntos e temas que serão abordados independentemente de surgirem aqui – afinal é a minha revista. Mas sinto cada vez mais que é preciso ver o que está acontecendo por aí, perguntar para os outros o que eles gostariam de saber e tornar o projeto menos individual e mais comunitário (e não coletivo, perceba a diferença).

As sugestões também estão abertas para as recompensas do crowdfunding (não quero jantar com quem pagar mais, mas posso dar um vip fura-fila para as festas na Trackers, por exemplo), para parcerias comerciais (quer anunciar na revista? Pergunte-me como) e para tipos de colaborações que podem, inclusive, ir para além do impresso. Não sei se essa revista vai ser mensal, semestral, anual, se mesmo vai ter uma periodicidade fixa. Mas ela funciona como primeiro passo para uma série de novidades que giram em torno do site. Noitão Trabalho Sujo e os cursos Todo o Disco e O Outro Lado da Música são apenas três novidades que lancei para aproveitar os 20 anos do Trabalho Sujo. Não vou parar nisso, vou seguir inventando. Outras tantas irão surgir no futuro, mas antes de sair cogitando eu queria perguntar para você sobre o que você quer saber mais.

Essa discussão fica aberta até o dia 13 de janeiro de 2016, quando lanço, sem falta, a campanha de financiamento coletivo da revista Trabalho Sujo. E, como explico melhor no vídeo acima (dirigido e editado pelo grande Eugênio Vieira) Conto com a sua participação:

revista-trabalho-sujo

Pois é, conforme anunciado hoje na coluna da Mônica Bérgamo, no dia 13 deste mês lanço a campanha de crowdfunding, via Catarse, da revista chamada Trabalho Sujo. É mais uma das invenções que tive para comemorar os 20 anos do Trabalho Sujo (ao lado dos cursos Todo o Disco e O Outro Lado da Música e do Noitão Trabalho Sujo), talvez seja meu passo profissional mais ousado e com certeza é um dos meus objetivos pessoais mais sonhados desde sempre – quando volto para o meio que mais curto (o impresso) para falar sobre do que mais gosto (e não só de música). Tenho conceitos gerais sobre a revista, um mapa de páginas, um plano de negócios, possíveis recompensas, colaboradores em vista, abordagens sobre temas, ideia de periodicidade e material gráfico mas quero aproveitar para discutir com você leitor do Trabalho Sujo para saber o que você espera de uma revista chamada Trabalho Sujo. Comentaê!

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