Um milhão de palavras de Alan Moore

, por Alexandre Matias

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Na semana passada, a filha de Alan Moore, Leah, anunciou que seu pai havia terminado de escrever Jerusalem – e que o segundo romance do mestre dos magos da HQ teria um milhão de palavras.

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Comparando, a Bíblia tem 200 mil palavras e Guerra e Paz, do Tolstoi, tem pouco mais de meio milhão.

O esforço pesado de Alan Moore é um trabalho que começou há seis anos e explora ainda mais o conceito de seu primeiro livro, A Voz do Fogo, em que ele voltava à pré-história para contar diferentes estágios no tempo do condado onde nasceu e reside, Northamptonshire. Jerusalem vai mais a fundo nessa história ao focar em uma área central da cidade de Northampton. “Meu próximo livro terá alguns milhões de palavras e será apenas sobre esta sala de estar”, riu em uma entrevista que deu em 2011 sobre o livro ao New Statesman.

Na mesma entrevista, ele dizia que escrevia o livro para “provar a inexistência da morte”, enquanto encarna diferentes estilos literários, à maneira como faz na saga A Liga Extraordinária. A diferença é que em Jerusalem não há referências visuais e os devaneios linguísticos incluem um capítulo escrito de forma quase cifrada emulando James Joyce e outro em que evoca uma peça de Samuel Beckett em que o dramaturga fala sobre críquete e igrejas. Há inclusive um capítulo que se passa numa quarta dimensão, o que pode ser a chave não apenas para o livro, mas para toda a obra de Alan Moore:

“Cheguei à conclusão que o universo é um lugar de quatro dimensões em que nada acontece e nada se move. A única coisa que move-se no eixo do tempo é nossa consciência. O passado ainda está aí, o futuro sempre esteve aí. Todos os momentos que já existiram ou ainda existirão fazem parte desse hipermomento gigante no espaço-tempo. (…) Quando você pensa numa viagem padrão em três dimensões – por exemplo, estar em um carro que anda por uma estrada. As casas pelas quais você passa desaparecem atrás de você, mas você não duvida que se você voltasse, as casas continuariam ali. Nossa consciência só se move de uma forma pelo tempo, mas acho que a física nos diz que todos aqueles momentos ainda estão ali – e quando chegamos ao fim de nossas vidas não há para onde a consciência possa ir, exceto voltar ao começo. Vivemos nossas vidas o tempo todo, mais uma vez.”

Não vejo a hora de ler isso!

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