“Sei o que me salva, sei o que me mata”, canta hipnoticamente Alzira E sobre o poema do compadre Arruda, antes de explodir no refrão que batiza a nova música do Corte, banda em que ela toca ao lado de integrantes do Bixiga 70, “só não sei a dose exata!”. A faixa, escolhida para mostrar o vídeo-álbum Corte Vivo em SP, que foi gravado no Itaú Cultural no ano passado e que o grupo começa a lançar semanalmente a partir deste mês de novembro e que você assiste em primeira mão aqui no Trabalho Sujo.
“Bati o olho e veio”, lembra a compositora, quando leu o poema no segundo livro do poeta, A Representação Matemática das Nuvens. “A gente já tinha gravado o disco do Corte quando fiz essa música e achei que o poema tinha a ver com isso, com essa explosão, essa coisa mais radical do grupo. Foi essa sensação que eu tive quando li o poema, que virou música na hora, fiz no baixo. E fiquei surpresa, porque o poema tem três linhas e achava que não ia rolar, é diferente fazer uma música com um poema tão curto, mas ele é muito intenso e muito inteiro. O fato de ter pouco verso não fez falta, porque é muito completo.”
A banda Corte, formada por Alzira Espíndola (guitarra e vocais), Nandinho Thomaz (bateria), Marcelo Dworecki (baixo), Cuca Ferreira (sax) e Daniel Gralha (trumpete), os três últimos integrantes do Bixiga 70, é autora de um dos grandes discos do ano passado e também dona das terças-feiras de julho no Centro da Terra, quando aprofundam-se na poesia de sua obra ao convidar artistas da palavra na temporada Sorver o Verso (mais informações aqui). Na primeira terça-feira, dia 10, a convidada é a poeta Alice Ruiz. Na terça seguinte, dia 17, é Paula Rebellato, do Rakta, quem surge como convidada do grupo, seguida do técnico Bernardo Pacheco, convidado do dia 24, até o final com a participação do poeta arrudA, na última terça, dia 31. Conversei com o Dworecki sobre a temporada e como ela se encaixa na evolução do grupo desde o lançamento do ano passado.
Como esta temporada se relaciona com o primeiro disco do Corte?
Como serão as dinâmicas das terças-feiras com os convidados?
Como será a primeira terça-feira?
Quem será o convidado da segunda terça-feira?
Quem vem na terceira terça?
E na última terça-feira, quem é o convidado?
A temporada consolida a primeira fase da banda ou abre espaço para um novo momento?
Qual a diferença em apresentar um trabalho durante todo um mês, com o público sentado?
É com imensa satisfação que anuncio os donos das temporadas no Centro da Terra neste primeiro semestre de 2018: em março temos a querida Bárbara Eugenia às segundas e o grande MdM Duo dos irmãos Fernando e Mario Cappi, guitarristas do Hurtmold; em abril às segundas temos o sagaz Rico Dalasam e às terças e a forte Luedji Luna; em maio as segundas são do mestre Edgar Scandurra e as terças do voraz Guizado; em junho as segundas são da deusa Cida Moreira e as terças dos ótimos Garotas Suecas e julho tem o sensacional Vitor Araújo nas segundas e o CORTE de Alzira Espindola nas terças. O Pedro Antunes conta mais em seu blog no Estadão.
Encerrando a programação do Bicho de Quatro Cabeças no Centro Cultural São Paulo, o baterista do Hurtmold, Maurício Takara, apresenta seu projeto solo ao lado do Corte, banda formada por músicos do Bixiga 70 com a Alzira Espíndola, mais uma vez de graça, desta vez na Jardel Filho, às 19h (mais informações aqui).
O Mês da Cultura Independente realizado pela Secretaria Municipal de Cultura acontece no mês de agosto e o Centro Cultural São Paulo abre as portas para o encontro de quatro das principais bandas independentes da cidade. O evento Bicho de Quatro Cabeças reúne Rakta, Hurtmold, Bixiga 70 e Metá Metá durante o mês no CCSP, trazendo apresentações dos quatro grupos, de seus projetos paralelos e um grande evento que reunirá os quatro simultaneamente. Eu falei com a Roberta Martinelli sobre este experimento, cuja descrição e programação seguem abaixo e nas redes do Centro Cultural São Paulo.
Bicho de Quatro Cabeças
Quatro das principais bandas independentes de São Paulo, Rakta, Bixiga 70, Metá Metá e Hurtmold em atividade têm vários pontos em comum que tornam suas carreiras semelhantes, embora cada uma delas busque uma sonoridade completamente diversa umas das outras. Em comum, elas têm o fato de que, além de prezarem pela própria sonoridade em detrimento de qualquer aspiração comercial, também gerenciarem as próprias carreiras, terem projetos paralelos, transitarem entre diferentes públicos e artistas e serem autossusentáveis.
Bicho de Quatro Cabeças é o encontro entre estas quatro bandas e seus públicos no Centro Cultural São Paulo e acontece durante todo o Mês da Cultura Independente, em outubro de 2017. O evento começa com uma grande apresentação em quatro entradas em que integrantes das quatro bandas realizam uma sessão de improviso inédita, trocando de formações e cada hora indo para uma direção musical. Serão quatro entradas que permitem a troca de públicos durante estas entradas – e quem ficar de fora pode acompanhar as outras entradas através de um telão afixado na área externa da Sala Adoniran Barbosa.
O evento também conta com shows das bandas separadamente, além de apresentações que reúnem diferentes projetos paralelos dos quatro coletivos, permitindo inclusive novas colaborações entre integrantes dos diferentes projetos definidos durante o percurso. O evento terá também quatro pôsteres produzidos pelas próprias bandas, que também são responsáveis pela comunicação visual dos próprios trabalhos.
Todas as atrações são gratuitas.
5.10 – Bicho de Quatro Cabeças
6.10 – Acavernus / Carla Borega
8.10 – Rakta
13.10 – A Espetacular Charanga do França
14.10 – Metá Metá
15.10 – Anganga / MdM Duo
19.10 – Décio & Held / Sambas do Absurdo
20.10 – Atonito / Sambanzo
22.10 – Kiko Dinucci / Plim
26.10 – Naxxtro / Bode Holofonico
27.10 – Corte / M. Takara
28.10 – Hurtmold
29.10 – Bixiga 70
Estes são os 25 brasileiros escolhidos na categoria melhor disco do primeiro semestre deste ano pelo júri da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA), do qual faço parte.
Aláfia – SP Não é Sopa
Boogarins – Lá Vem a Morte
Corte – Corte
Criolo – Espiral de Ilusão
Curumin – Boca
Do Amor – Fodido Demais
Domenico Lancellotti – Serra dos Órgãos
Don L – Roteiro Pra Aïnouz vol.3
A Espetacular Charanga do França – Chão Molhado da Roça
Felipe S. – Cabeça de Felipe
Giovani Cidreira – Japanese Food
Hamilton de Holanda – Casa de Bituca
João Donato + Donatinho – Sintetizamor
Juliana R – Tarefas Intermináveis
Kiko Dinucci – Cortes Curtos
Lucas Santtana – Modo Avião
Luiza Lian – Oya Tempo
Matéria Prima – 2Atos
Mopho – Brejo
My Magical Glowing Lens – Cosmos
Rincon Sapíencia – Galanga Livre
Rodrigo Campos – Sambas do Absurdo
Trupe Chá de Boldo – Verso
Vermes do Limbo + Bernardo Pacheco – Berne Fatal
Zé Bigode – Fluxo
Muita coisa boa sendo lançada este ano – e vem mais coisa boa neste semestre. O júri é composto por mim, José Norberto Flesch e Marcelo Costa e no segundo semestre escolheremos mais outros 25 discos. O Pedro antecipou a lista e publicou os links para ouvir os 25 discos em seu blog no Estadão.