Renato Russo, por Bia Abramo

, por Alexandre Matias

Fomos falar com os caras. Eles estavam impressionados com São Paulo. Com o fato de que aqui os punks eram, de fato, jovens vindos da classe trabalhadora, não os filhos de diplomatas e altos funcionários do governo que tinham visto o punk na Inglaterra e chegavam ao Brasil arrotando um no future meio postiço como era em Brasília. Nós também estávamos impressionados com eles. Eles eram menos pretensiosos, mais desencanados que a gente. Tinham feito uma banda e pronto. Iam lá e faziam. E o Renato, luzindo no meio daquilo. Renato tinha lido um monte de coisas que eu tinha lido. Renato tinha pensado um monte de coisas que eu tinha pensado. Renato tinha ouvido um monte de coisas a mais. Entendia o pop. Tinha estudado, durante anos a fio, seus ídolos. Tinha traçado uma estratégia para se tornar um.

Bem boa a homenagem de Bia Abramo ao Renato Russo no UOL. Além de ter acompanhado a ascensão de Renato muito antes de ele se tornar um ídolo, Bia ainda aproveita para fazer um mea culpa geracional, contextualizando a rebeldia e a seriedade dos anos 80 para uma geração acostumada a ter tudo a um clique do mouse.

Fui aprender a gostar de seus textos depois de velho – não dava muita atenção às suas matérias na Bizz (era só mais uma fã do Bowie, eu curtia as discotecas básicas escritas pelo Alex e a coluna do Camilo) e lembro que quando comecei a frequentar a Conrad que ainda se chamava Acme, ainda nos anos 90, ela tinha sido contratada pelo André e pelo Rogério – o que deixavam os dois todos orgulhosos de terem um ídolo em seu quadro de funcionários. Isso foi bem na época em que o Tomate abandonou o Futio para vir para São Paulo editar música na falecida General, onde publiquei meu primeiro frila fora do jornal (embora não-pago): uma matéria sobre o rock do interior de São Paulo (eu morava em Campinas na época) e uma prévia do segundo disco do Pato Fu, o hoje clássico Gol de Quem?. E outro dia a própria Bia gargalhou comigo de volta depois que o Corinthians despachou o São Paulo no outro domingo.

E ainda tem quem queira viver em outra época…

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