Refletor #008: A Marvel e a internet

, por Alexandre Matias

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Na minha coluna dessa semana no Brainstorm9, falei sobre o vazamento do trailer do Vingadores 2 na semana passada e da forma como a Marvel encarou o contratempo, jogando a seu favor.

Jogando com a internet
Com o vazamento do trailer de “Vingadores 2: A Era de Ultron”, a Marvel aprende que não dá para controlar a internet, mas também ensina como é a melhor forma de lidar com ela

“Maldita Hydra!”, resmungou a conta do Twitter da Marvel na semana passada, horas depois do vazamento do primeiro aguardado trailer do filme “Vingadores 2: A Era de Ultron”.

O trailer estava programado para ir ao ar após o episódio de ontem, terça-feira, dia 28, do seriado “Agents of S.H.I.E.L.D.”, também produzido pela Casa das Ideias. Mas um imprevisto vazamento fez uma versão em baixa qualidade do trailer aparecer no início da noite da quinta-feira passada, dia 23. Em segundos sites de notícias de cinema, quadrinhos e cultura pop linkavam o vídeo pirata com o aviso para que seus leitores assistissem logo, pois o trailer iria sair do ar.

Afinal, esse é o hábito da indústria. Assim que um disco, filme ou seriado aparece online, há exércitos de programadores e advogados prontos para retirar o arquivo do ar, ameaçando sites e derrubando conteúdos através de acordos pré-estabelecidos com redes como YouTube e Facebook.

O YouTube especificamente conta com um algoritmo de reconhecimento de conteúdo alheio que simplesmente impede o dono de uma conta de publicar um vídeo caso ele tenha diagnosticado que aquele vídeo é de uma terceira parte, mesmo que seu publicador não a identifique.

Mas isso não quer dizer que consigam reduzir a pirataria digital. Diminuem o impacto, bloqueando os principais pontos de acesso – mas só para vídeo há dezenas de sites semelhantes ao YouTube que não contam com tecnologia tão ágil para retirada de conteúdo, o que obriga essa ação ser realizada manualmente, com advogados entrando em contato com departamentos jurídicos dos sites.

Além destes, as pessoas têm trocado conteúdo em redes de relacionamento fechadas, emails e fóruns e a versão pirata do trailer de Era de Ultron circulou inclusive via WhatsApp. O próprio YouTube pode ser enganado – e quase sempre o é – quando usuários alteram minimamente a velocidade do arquivo ou invertem horizontalmente a imagem ou a publicam dentro de uma moldura, impossibilitanto a inteligência artificial do site de reconhecer automaticamente a versão. Isso sem contar o mar de torrents, impossível de ser rastreado.

Mas a Marvel fez diferente. Ao twittar o resmungo contra a Hydra – a rede nazista que derrubou a S.H.I.E.L.D. nos filmes do estúdio – ela oficializou a pirataria, ao divulgar em seu próprio canal do YouTube o trailer em alta resolução – com toda a pompa, circunstância, cores e sons que deveria aparecer apenas hoje, na transmissão norte-americana do seriado Agents of S.H.I.E.L.D. Em vez de derrubar as milhares de versões piratas de seu trailer e causar a frustração em milhões de fãs que não conseguiram assistir ao filme, a Marvel baixou a guarda e faturou ela mesma aquela síndrome de atenção.

A Marvel está liderando a construção de uma nova narrativa a longo prazo que foi antecipada pelos delírios transmídia da década passada, quando “Matrix” e “Lost” mostravam as maravilhas que poderiam ser conseguidas quando se misturava a história principal do cinema ou da TV com quadrinhos, desenhos animados, videogames, além de inúmeras pistas espalhadas pela internet e outras tantas cogitadas pelos fãs.

Trabalhando em cima de uma mitologia clássica – seus próprios super-heróis – ela primeiro transpôs de forma bem sucedida os títulos dos quadrinhos para o cinema (com os primeiros filmes do “Homem Aranha”, “X-Men” e “Quarteto Fantástico”) e depois virou ela mesma um estúdio de cinema para produzir seus próprios títulos.

A partir de “Homem de Ferro” começou a contar uma história que se espalhava por outros filmes (“Thor”, “Capitão América”, “Homem de Ferro 2” e “Thor 2”) para culminar com o encontro dos heróis no primeiro Vingadores. O final dessa primeira fase ainda contou com a estreia do seriado “Agents of S.H.I.E.L.D.” que conversou com os filmes do Capitão América e com o segundo filme de Thor nas mesmas semanas em que estas produções estrearam mundialmente.

Estamos agora no meio da segunda fase da Marvel, que termina com o próximo Vingadores e já teve o segundo “Capitão América” e o terceiro “Homem de Ferro” (além de “Guardiões das Galáxias”) como episódios iniciais. O seriado produzido pela ABC também conversará com o fim desta segunda fase. E a terceira fase – anunciada ontem por Kevin Feige, em evento na California – contará com novos heróis e seriados, além de quatro séries estão sendo produzidas em parceria com o Netflix. Confira as datas:

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“Capitão América: Guerra Civil” – 6 de maio de 2016
“Doutor Estranho” – 4 de novembro de 2016
“Guardiões da Galáxia 2” – 5 de Maio de 2017
“Thor 3: Ragnarok” – 28 de julho de 2017
“Pantera Negra” – 3 de novembro de 2017
“Capitã Marvel” – 6 de julho de 2018
“Inumanos” – 2 de novembro de 2018
“Avengers: Infinity War – Parte I” – 4 de maio de 2018
“Avengers: Infinity War – Parte II” – 3 de maio de 2019

O incidente envolvendo o trailer novo do segundo Vingadores mostra que a Marvel vem aprendendo a lidar com a internet, que sempre pode estragar a brincadeira ao revelar segredos antes da hora. Mas é didático para outras empresas de produção de conteúdo – não dá para controlar a internet, é preciso trabalhar com ela. Certamente o trailer do novo filme faria mais sentido após a exibição do episódio, que conversaria com o a Era de Ultron. Tanto que a Marvel anunciou que iria exibir uma cena inédita do novo filme junto com o episódio, para tentar diminuir o estrago.

Aos poucos isso vai ser testado com outros filmes e seriados – ainda mais agora que a DC Comics anunciou 10 filmes para compor seu multiverso ao redor dos filmes da Liga da Justiça, com Batman e Super-Homem à frente. Isso sem contar as inúmeras outras mitologias – originais e adaptadas – que serão filmadas nas próximas décadas…

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