O verão de Mahmundi

, por Alexandre Matias

mahmundi2015

Acompanho o trabalho da Mahmundi desde os tempos em que ela era só uma promessa começando a sair de algum quarto do Rio de Janeiro, sintonizando Drake no Guilherme Arantes e Kanye West na Marina Lima (até a trouxe pra tocar no Prata da Casa quando fui curador do projeto, em 2012 – grande safra!). Qual a minha felicidade ao descobrir que ela tinha sido a contratação final do selo Stereomono que o grande Miranda está tocando no Skol Music. Havia ao menos a certeza de vir do reconhecimento daquela sensibilidade que, apesar dos ares retrô, reflete mais a ingenuidade pop daquele fim dos anos 70, antes disso que isso que chamamos de “rock brasileiro dos anos 90” tenha engolido uma geração inteira de hitmakers. Marcela Vale adiantou a primeira música de seu novo disco – que deve apenas levar seu codinome como título e só sai em março do ano que vem – com exclusividade para o Trabalho Sujo. “Eterno Verão” é exatamente aquilo que esperaríamos que ela fizesse, uma bela introdução para o seu universo (o “Mah mundi”, sacou? Daí vem o apelido). Conversei com ela sobre a nova fase:

“Disco gravado, tô feliz com o processo, com o resultado”, conta. “Acho que ele é o reflexo da minha vida hoje: a gente faz mil coisas achando que estamos no meio e de repente o jogo zera de novo. Esse disco é o meu início no mundo dos 30 anos!”, ri. O contato com o Miranda aconteceu durante o Prêmio Multishow de Música Brasileira do ano passado, quando ela ganhou o prêmio Nova Canção com a bucólica “Sentimento”. “Quando cheguei em casa, meus amigos falaram que ‘o Miranda te elogiou na TV’ eu fiquei muito muito feliz. era o auge! Depois rolou o convite, eu fui tocar em SP, ele curtiu e foi tudo lindo. Quando ele me chamou pro selo, eu fui e aceitei de olhos fechados. Ele me levou numa lojinha de doces e ficamos lá comendo e falando sobre música. Eu já estava apaixonada por estar vivendo aquele momento. Acredito muito no Miranda e sei que ele sempre se envolve em coisas que acredita.”

Ela está ansiosa com a nova fase mas ainda um tanto cética. “Bicho, eu não sei dizer. os outros EPs são tão legais, sabe? Eu ouço eles até hoje. Acho que é um momento novo mesmo, uma nova era das coisas. Com 26 anos eu queria fazer músicas e colocar na internet; hoje, aos 29 eu quero fazer o melhor disco que posso fazer. Ter a mesma sensação que eu tenho que peço pros taxistas aumentarem uma musica que tá tocando na rádio. Acho que a juventude tem essa de provar pras pessoas e pra voce que voce é bom nisso e aquilo e muita gente se enforca nesse processo. Eu comecei a ver que eu precisava estar onde minha música estivesse, então posso dizer que esse disco é aquele cartão de visitas que voce entrega sorrindo sabendo que a pessoa vai te ligar de volta”, diz, antes de falar que sonha em um dia gravar com Marcos Valle e Hyldon. Um sonho mais fácil do que ela pensa – ainda mais fazendo o som que faz.

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