O fim de Lost por Diego Souza

, por Alexandre Matias

de todas as teorias mais sinistras, mais engenhosamente brilhantes concebidas por fãs apaixonados por lost, nenhum final poderia ser melhor do que o final feito por cuse e lindelof. dificilmente alguma outra coisa poderia significar uma reviravolta tão drástica do que aquela ocorrida no “flashsideways”, e tão surpreendente também.

novamente vejo um series finale intenso que lida tão bem com o assunto mais delicado para o ser humano: a morte. digo isso porque assisti six feet under e o abalo que senti nos minutos finais de lost quase se compara ao estado de choque em que fiquei ao final da série da hbo. lembro que quando assisti “everyone’s waiting”, o final de sfu, não consegui me mexer. ou melhor, eu não queria me mexer, não queria me levantar. tive que esperar alguns minutos para recobrar a coragem e seguir com a vida (além de tudo, ainda tinha uma vida pra viver!). tive que me recompor. tive que chorar tudo antes. e então a gente percebe a importância de tanta dor: nos tornamos mais fortes. vale a pena estar vivo. aliás, é um momento extremamente tocante quando richard confessa ao ver um cabelo branco: “só agora me dei conta de que eu quero viver”.

nesse último episódio de lost nem sei quantas vezes eu chorei. chorei primeiro quando hurley encontrou charlie no “flashsideways”, a felicidade contida dele, dava para ver nos olhos o quanto hurley queria abraçar o velho amigo, e depois voltei a me emocionar no final quando descobrimos o real e inestimável valor daquele encontro. aliás, a cada encontro que devolvia as lembranças dos personagens era difícil conter as lágrimas, e finalmente o desfecho de jack naquela realidade foi arrasador.

foi realmente gratificante que o final tenha sido “humano”, antes de objetivo ou científico. se a primeira temporada eu detestei justamente porque eu achava perda de tempo as histórias pessoais em vez do foco nos mistérios da ilha, esse episódio só veio para constatar minha estupidez daquela época. nada em lost é tão importante quanto as pessoas individualmente. não fosse a humanidade com que os criadores desenvolveram seus personagens no início (e durante toda a série também, é claro, mas com especial cuidado no início), jamais seria satisfatório o desfecho da história.

por causa disso, somos parte da história. somos parte da redenção dos personagens, somos parte da felicidade dos personagens, somos parte da tragédia dos…

tsc… “personagens”. dessas pessoas, eu quero dizer. pessoas.

de repente me sinto como o rodrigo de clarice lispector. só agora lembrei que as pessoas morrem.

enfim…

não encontro modo de expressar minha enorme gratidão a todos os responsáveis pela série. é realmente gratificante poder ser levado dessa forma por uma história.

e ser mudado por ela.

* Diego publicou este texto em seu blog.

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