Marcelo Jeneci 2013: “A vida é bélica”

, por Alexandre Matias

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O segundo disco do Marcelo Jeneci, De Graça, disponível para ser ouvido em streaming em seu site oficial, é uma grata surpresa. Não é exagero dizer que Jeneci surgiu de uma brecha deixada aberta pelos Los Hermanos – ao recusar-se se posicionar entre o meio-termo perfeito entre o indie rock brasileiro e o gênero MPB, o grupo carioca preferiu debandar-se em carreiras solo que pareciam preocupadas em negar a natureza pop de seu trabalho original. Sem essa culpa, uma segunda geração do pop brasileiro do século 21 veio de mansinho e encontrou um público prontinho para abraçar esse novo pop brasileiro. Silva, Cícero e Jeneci, entre outros, viram essa brecha dando sopa e se jogaram. Mas no novo disco, Jeneci vai muito além e evolui consideravelmente. Há uma influência, talvez inconsciente, daquele pop brasileiro do fim dos anos 70 que precedeu a primeira onda do rock brasileiro da década seguinte. Me refiro a artistas como o espólio dos Novos Baianos (Baby & Pepeu, Moraes Moreira, A Cor do Som), de autores como Fagner, Belchior e Guilherme Arantes – que viram um novo começo de era bem antes dos “Tempos Modernos” de Lulu Santos e Nelson Motta. A sensação de perceber a aurora de um novo tempo atravessa todo o segundo disco de Jeneci, completamente liberto das referências de MPB genérico que o aproximavam dos Los Hermanos. Sob a produção do Kassin com auxílio do Adriano Cintra, De Graça soa às vezes indie tímido, às vezes pop deslavado e quase sempre ousado e sóbrio, com um pé no Brasil e outro num novo pop mundial ainda em formação. Otimista e cheio de auto-estima, Marcelo Jeneci era o que devia estar tocando no rádio brasileiro. Destaco a épica “Pra Gente Se Desprender”, com suas cordas marítimas, coda instrumental gigantesca e conduzida pelo vocal claro e contemplativo da Laura Lavieri, um momento único na música brasileira deste século:

Dá pra ouvir o disco inteiro aí embaixo – e o La Cumbuca descolou o download.

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